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Separando o Joio do Trigo

Publicado 20.03.2015, 14:06
Atualizado 09.07.2023, 07:31

O mercado de ações e o mercado de títulos públicos nos EUA

Assim como nossas mães nos ensinaram que açúcar espalhado ao chão atrai formigas e baratas, alguns de nossos pais também ensinaram que dinheiro fácil e crédito farto geram finanças irresponsáveis.

O intervencionismo dos bancos centrais, instituições essas lideradas por economistas predominantemente neoclássicos e keynesianos (assim como a maior parte do meio acadêmico), através de suas políticas anticíclicas, vem dando margem a uma série de distorções na economia.

A mais recente delas, sobre a qual escrevi algumas vezes antes de se tornar óbvia, foi no preço do petróleo. Em 30 de agosto de 2014, quando o barril do petróleo West Texas Intermediate era negociado a US$ 97,86 nos EUA e o Brent a US$ 101,12 na Europa, eu publiquei um artigo dedicado a essa commodity. Ali, eu reuni alguns dados do consumo de petróleo e combustíveis (bem como aspectos políticos, históricos e sócio-religiosos de nações produtoras) mostrando uma insalubre e nítida correlação entre as políticas econômicas anticíclicas do Federal Reserve e o preço do petróleo. Houve semelhanças entre a década de 1970 e este início do século XXI. Publicado sob o título "Manchas de Óleo na Fé e as Máculas da Fé no Óleo", sua edição em inglês também foi divulgada posteriormente em outros sites estrangeiros. Hoje, 19/mar/2015, os preços do petróleo já estão em US$ 45,52 (WTI) e US$ 54,44 (Brent), com respectivas perdas de -53% e -46%, em menos de sete meses.

A "mania" do petróleo teria se iniciado quando o FED adotou juros nominais menores que a inflação (juros reais negativos) após o estouro da bolha da informática (em 2000) e o ataque às torres gêmeas (de 11/set/2001). A especulação com a commodity atingiu seu ápice na antecipação de políticas anticíclicas ainda mais extraordinárias em socorro de outra malograda bolha, desta vez mais virulenta e sistêmica, envolvendo os imóveis nos EUA. No auge da crise do subprime, houve até uma efêmera desinflação da bolha do petróleo, que, contudo, durou pouco. A segunda fase maníaca, começando em 2009, logo após o anúncio do QE1, parecia associar alguns fenômenos, dentre eles: (1) a procura por outro destino tangível onde aplicar o dinheiro, (2) o receio de que um abusado afrouxamento monetário causasse um descontrole inflacionário e perdas no poder aquisitivo da moeda fiduciária e na rentabilidade real dos títulos públicos de renda fixa, além de que, (3) a reincidente disponibilidade de crédito farto e barato, graças aos juros irrisórios, diminuiu muito os custos da alavancagem financeira e fomentou uma maior ousadia entre os especuladores. Esse cenário beneficiou não só o petróleo, mas também os metais preciosos.

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Juros Reais nos EUA

Outro fato menos conhecido é que a bolha especulativa das ações de tecnologia e informática na NASDAQ, ao final do século XX, inflacionou os leilões de concessões da nova faixa 3G entre as operadoras de telefonia móvel na Europa. Empresas alemãs arrecadaram e ofereceram uma vasta quantidade de dinheiro através de lances feitos em envelopes selados. Nesses leilões, as empresas desconheciam o valor dos lances oferecidos pelas concorrentes. Evitando o risco de ficarem de fora da promissora tecnologia 3G, seus lances foram altos demais. A Alemanha teria mobilizado para isso cerca de US$ 50 Bilhões de dólares (£ 30 bilhões de libras esterlinas no início do ano 2000). Só em 2001 e 2002 é que o logro foi reconhecido. Esse episódio teria contribuído para uma baixa dos juros na união europeia naquele início do século XXI e da moeda única adotada em diferentes países. Os juros reduzidos acabaram por estimular o maior endividamento dos governos na periferia da Europa.

O crédito barato gerou comportamentos mais displicentes nessas economias. Seus excessos e a ressaca tardia se tornaram evidentes com a crise dos PIIGS (acrônimo em inglês para Portugal, Italy, Ireland, Greece e Spain em uma indelicada associação à palavra "porcos").

Agora, muitos dizem que existe outra temível bolha prestes a estourar: o mercado de títulos públicos dos EUA. A alegação é de que as compras do FED, com trilhões de dólares impressos, teriam inflacionado os preços desses títulos, baixando seus juros. A argumentação teórica faz sentido! Segundo dizem, a impressão de dinheiro (Quantitative Easing) estaria inflacionando tanto os preços das ações, como dos títulos da dívida norte-americana.

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Eu já abordei separadamente essas duas classes de papéis, mas muita gente ainda não percebeu a importante diferença constatada na prática em ambos os casos.

Ações e títulos públicos não vêm respondendo da mesma forma aos estímulos do FED! (para entender melhor a relação entre QE e ações leia "Era Uma Vez... Um Conto Econômico da Carochinha", quanto à relação mais complexa entre QE e títulos públicos, eu abordei-a em "Juros, QE e FED - Conversa Para Boi Dormir" e "Dólar, Juros e Grandes Poderes").

Meu gráfico abaixo ilustra bem essa dissociação. Podemos ver uma comparação entre o S&P500, representando as ações nos EUA, e o fundo TLT (iShares 20+ Year Treasury Bond, ETF da BlackRock) que segue os preços dos títulos do Tesouro dos EUA com maturidade igual ou superior a 20 anos. O período ilustrado se inicia com o primeiro surto de impressão de dólares pelo FED (QE1) e termina seis anos depois, já finalizado o QE3.

Comparativo de Valorização dos Mercados

O comportamento entre ações e Treasuries foi divergente, mostrando flagrantemente uma valorização das ações e uma desvalorização dos títulos públicos em todas as três edições de Quantitative Easing, exceto a partir do Tapering. Os títulos longos da dívida pública só engrenaram em tendências de alta nos intervalos entre QEs e, a partir de 2014, uma vez anunciada a extinção paulatina do QE3 (Tapering).

Depois do FOMC se reunir em dezembro de 2013, Ben Bernanke comunicou formalmente que o FED iniciaria uma desaceleração gradativa na sua impressão de dólares para a compra de títulos. O comunicado de Bernanke, já antes de passar o cargo a Janet Yellen, evitava dúvidas sobre a orientação de sua sucessora no Banco Central. O Tapering significava que o FED mais uma vez estaria tirando seu time (de impressoras) de campo. Embora lenta e gradualmente, as compras dos títulos se reduziram até cessar completamente ao fim de outubro de 2014. Foi só nesses últimos dez meses do QE3, com o FED comprando cada vez menos, é que os T-Bonds passaram a se valorizar.

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Embora seja contraintuitiva a depreciação dos T-Bonds (títulos longos da dívida pública) justamente quando o FED os comprava em maior quantidade no mercado secundário, o fato é que ela aconteceu!

Se nos baseássemos apenas no bom senso teórico, e não na observação dos resultados práticos, poderíamos supor que, imprimindo dinheiro e comprando títulos longos da dívida pública no mercado secundário, o FED teria inflacionado os preços desses títulos. Mas essa lógica parece disposta a puxar o tapete sobre o qual vários investidores racionais se consideram "com os pés no chão"!

A tabela abaixo mostra o início e o fim das edições do Quantitative Easing (1, 2 e 3), juntamente com o comportamento da curva de juros (do curto ao longo prazo). Entenda que juros mais altos representam títulos mais baratos, e vice-versa! É notável que os juros longos, em vez de caírem, encontravam-se mais altos ao fim de cada QE. Essa alta dos juros longos é apenas outra maneira de constatarmos que os títulos públicos, de fato, ficavam mais baratos e atraentes, apesar das compras do FED.

Quantitative Easing

Também vale a pena observarmos que a dívida longa dos EUA ainda se encontra bastante atraente no atual contexto da economia global. Se levarmos em consideração Portugal, Itália, Irlanda e Espanha (excluindo apenas a Grécia dos 5 PIIGS *), todos os quatro pagam hoje juros menores que o norte-americano. Mas, com certeza, essas economias oferecem maior risco do que os EUA...

Títulos Mundiais a 10 anos

Como podemos ver, paradoxalmente, o Banco Central imprimindo dólares e comprando divida longa, parece ter desaquecido a demanda destes papéis pelo mercado. O resultado foi T-Bonds mais baratos e juros mais altos ao final de cada QE. Tanto melhor! Se ações se tornaram cada vez mais caras e especulativas, a dívida pública (ludibriando as expectativas) se mostra ainda atraente diante de um cenário internacional bastante problemático.

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Todos sabem que os EUA são as calças mais limpas no atual cesto de roupa suja da economia global. Assim, os Treasury Bonds, preservando a rentabilidade perante seus pares internacionais, continuam se mostrando o destino mais seguro para quem receia uma generalizada crise mundial. E isso deve dar boa margem para uma ainda mais duradoura alta do dólar!

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