Balança, mas não cai: apesar de tudo, é pouco provável que Dilma retome o poder de Temer (Nelson Almeida/AFP)
SÃO PAULO – No próximo domingo (12), o presidente em exercício Michel Temer completará um mês no comando do país. Embora coincida com o Dia dos Namorados, a lua de mel entre o novo governo e a sociedade terminou bem antes. Com menos de duas semanas, Temer perdeu o primeiro general de sua cruzada para se consolidar na Presidência: Romero Jucá deixou o Ministério do Planejamento, após a revelação de que propôs um pacto para conter a Lava Jato – na qual também é investigado.
Mas apesar desses nada desprezíveis problemas, Temer mostrou força ao aprovar rapidamente, no Congresso, medidas para reequilibrar as contas públicas, como a nova meta fiscal (um rombo de R$ 170,5 bilhões) e a DRU (Desvinculação das Receitas da União). A dúvida agora é se será capaz de manter a base aliada unida, em meio ao avanço da Lava Jato – hoje, a maior ameaça contra o seu governo, segundo Cameron Combs, especialista em Brasil da Eurasia Group, uma das maiores consultorias de análise política do mundo.
Mas nada disso parece favorecer a presidente afastada Dilma Rousseff, que intensificou os ataques a Temer nos últimos dias, insistindo que foi vítima de um golpe. Confira, a seguir, a rápida entrevista por e-mail concedida por Combs a O Financista:
O Financista: Dois ministros caíram no primeiro mês do presidente em exercício de Michel Temer, devido à Lava Jato. Isto é um sinal de fraqueza do governo Temer?
Cameron Combs: A renúncia de dois ministros de Temer sublinha o fato de que a Operação Lava Jato continua a ser a maior ameaça para a nova administração, e que há muito pouco que o establishment político possa fazer para cercear as investigações. Temer, contudo, continua a comandar o apoio de uma ampla faixa do Congresso e do setor privado.
O Financista: Nesta semana, o The New York Times conferiu uma medalha de ouro ao Brasil pelos casos de corrupção pública. O Brasil realmente a mereceu?
Combs: Este é um momento histórico no Brasil, na medida em que as autoridades descortinam e expõem uma cultura política profundamente corrupta. Ela se desenvolveu durante décadas e se estende bem além de um único político ou partido. O mérito é dos procuradores e juízes que estão extirpando a corrupção com um grau de tenacidade e eficácia sem precedentes. Não há dúvidas de que os eleitos deveriam fazer mais para garantir que escândalos como esse não ocorram novamente.
O Financista: Alguns dizem que as vitórias de Temer no Congresso, até agora, foram pequenas, diante dos pontos realmente desafiadores, como as reformas da Previdência e das leis trabalhistas. O senhor concorda que Temer ainda não foi desafiado de fato?
Combs: Temer demonstra comandar uma maioria muito maior e mais coesa que a de Dilma, como evidenciou a rápida aprovação da DRU na Câmara nesta semana. É essencial que ele retenha esse apoio, à medida que a agenda se volta para propostas mais ambiciosas, como o teto para gastos públicos e a reforma previdenciária, que encaram uma oposição mais organizada.
O Financista: Nos últimos dias, Dilma intensificou os ataques contra Temer, alegando ser vítima de um golpe. Quais são as verdadeiras chances de ela voltar ao poder?
Combs: A Eurasia Group atribui uma chance de 20% de o Senado rejeitar o pedido de impeachment.