Investing.com - Em um cenário de incertezas de alta de juros do Fed e da força da economia europeia, a bolsa de São Paulo engatou o quarto mês consecutivo de alta fechando setembro aos 58.367 pontos, discreto ganho de 0,8%. Desde maio, quando houve uma forte realização após o afastamento da presidente Dilma Rousseff e na expectativa dos anúncios do novo governo, o Ibovespa vem alcançando altas mensais.
Desde o fechamento de maio aos 48.471 pontos, o principal índice da bolsa brasileira já adicionou 10 mil pontos, pouco mais de 20%. Na comparação com a mínima de 37.046 pontos batida em janeiro, no auge das incertezas rondando a política e com o aprofundamento da crise econômica atormentando o Ministério da Fazenda recém assumido por Nelson Barbosa no lugar de Joaquim Levy, o índice acumula ganhos de 58%.
A troca do governo foi marcada por uma postura mais pró-mercado da nova equipe, comandada por Henrique Meirelles, mas, principalmente, que inspira maior confiança dos agentes econômicos. No lado político, o encaminhamento da solução da crise política abriu espaço para uma agenda mais austera no Congresso, apesar de nenhuma ação de peso ter sido efetivamente votada.
Apesar dos últimos dois meses a bolsa ter subido - acompanhando os recordes seguidos em Wall Street - a bolsa brasileira está travada desde meados de julho entre os 55 mil e 60 mil pontos. O rompimento dessa barreira dos 60 mil pontos ainda não ocorreu de fato, apesar do mercado ter, há duas semanas, testado, alcançando a máxima de 60.310 no intraday.
Os investidores ainda precisam ver fatos concretos para deslanchar mais uma rodada de aportes - tanto internos como externos - na bolsa. Entre os principais: a PEC do teto de gastos e a reforma da Previdência vão ser aprovadas sem emendas que as descaracterizem? Quanto à primeira, o governo aposta em uma primeira votação na Câmara em meados de outubro e assegura que tem votos suficientes para avançar para a segunda votação obrigatória na Casa.
Nas últimas semanas, o governo tem sido muito pressionado a fazer ajustes que suavizem o ajuste fiscal. Até o momento, não há a certeza se o Executivo cedeu em algum ponto-chave, pois a moeda de troca parece ter sido contida apenas à reforma da Previdência, outro ponto-chave na visão dos investidores.
A palavra do presidente Michel Temer que publicamente se comprometeu a enviar a reforma da Previdência até o final do mês não foi cumprida. Pressionado pelas eleições municipais, o governo decidiu adiar por mais duas semanas o envio da medida ao Congresso. Sem essa reforma, o ajuste fiscal não conseguirá se manter de pé e, por isso, é essencial para trazer novos investimentos ao país.
E os dados dessa semana mostram que o buraco onde a economia brasileira caiu parece ser ainda mais profundo que o projetado. O déficit primário bateu novo recorde em agosto, totalizando R$ 22,267 bilhões, superando a meta de 2016 no resultado dos últimos doze meses. A grande dificuldade na mão da equipe comandada por Meirelles é lidar com a brutal queda da arrecadação, que segue pressionando as contas públicas.
Pelo menos em relação à inflação, o governo pode festejar, ainda que discretamente. O Banco Central passou a prever IPCA de 4,4%, abaixo, portanto do centro da meta, em 2017, o que abre espaço para a queda dos juros na reunião de outubro. Com o IPCA-15 mais baixo e a inflação de alimentos cedendo, a redução dos juros depende do avanço do ajuste fiscal, que será colocado para uma primeira votação uma semana antes da próxima reunião do Copom. Parte do mercado já aposta em um início do corte da Selic neste encontro, mas definitivamente a força do governo em aprovar a PEC em primeiro turno na Câmara sem muitas modificações pesará na escolha do BC.
Se o exterior ajudará a bolsa brasileira a novas altas é incerto. O Fed tem adiado a elevação de juros o que tem impulsionado as ações, o petróleo parece estar caminhando para uma nova alta, ainda que temporariamente, Japão testa uma nova estratégia de incentivo monetário e a Europa está às voltas com sua fraca economia e as dúvidas em relação ao Deutsche Bank . A única certeza é que se o Congresso ajudar e o governo Temer demonstrar força e determinação para enfrentar o ajuste fiscal e as reformas, a Bovespa poderá colher os frutos dessa retomada da economia brasileira.
Mercado
Deutsche Bank (DE:DBKGn). O gigante alemão preocupou o mercado nesta semana com a possibilidade de não ter liquidez para absorver multa de US$ 14 bilhões que poderá ser aplicada por autoridades dos EUA em investigação de títulos hipotecários. O governo alemão rejeitou estudar um pacote para salvar o banco e diversos fundos retiraram suas posições pressionando ainda mais o banco. No fim da semana, a notícia de que o Deutsche estaria perto de um acordo com os EUA para reduzir para US$ 5,4 bilhões a multa animou o mercado.
Petrobras (SA:PETR4). A companhia avançou novamente na comparação mensal, com ganhos de quase 7% frente ao fechamento de agosto. Na semana, o presidente da Petrobras reclamou da regra de conteúdo local imposto ao setor e pediu ao presidente Michel Temer mudanças na regulação. A Alpek conseguiu estender por 30 dias seu acordo de exclusividade para negociar os ativos petroquímicos da estatal. Ainda no plano de desinvestimento, a petroleira vai buscar parceiros para desenvolver áreas de petróleo da cessão onerosa.
Vale (SA:VALE5). Figurando entre os principais ganhos do mês no Ibovespa com alta de 6,5%, a companhia conseguiu avançar apesar da maior fraqueza da cotação do minério de ferro na China. A empresa acertou a venda por US$ 768 milhões de ativos em Moçambique para a Mitsui e negou ter acertado a negociação de seus ativos de fertilizantes. Segundo o Globo, o conselheiro indicado pelo BNDES pediu vistas da operação e suspendeu a votação. Para o segundo semestre, a mineradora prevê Ebitda entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5,4 bilhões.
Samarco. A parceria entre a Vale e a BHP Billiton foi rebaixada para nível de calote pela S&P após não efetuar o pagamento de juros.
CPFL (SA:CPFE3). A chinesa State Grid assumirá o controle da distribuidora após os sócios privados decidirem vender sua participação na esteira da compra da fatia da Camargo Correia. A operação poderá somar R$ 25 bilhões.
Embraer (SA:EMBR3). Empresa confirmou a demissão de 1.463 funcionários pelo PDV, cerca de 8% de sua força de trabalho.
Estácio (SA:ESTC3). Pedro Thompson de Oliveira foi nomeado presidente da educacional.
Itaú (SA:ITUB4). O banco fechou acordo para controlar 100% do Itaú BGM Consignado.
Fibria (SA:FIBR3). A companhia anunciou reajuste de US$ 20 para US$ 590/t na celulose negociada na China.
Commodities
Petróleo. A semana trouxe grande volatilidade para a commodity com a expectativa por uma decisão da Opep. O cartel surpreendeu ao anunciar acordo entre seus membros para cortar a produção. Os detalhes, contudo, só serão definidos na reunião de novembro. O Brent alcançou máximas de um mês, superando os US$ 50/b. Nos EUA, os estoques caíram novamente contrariando as projeções do mercado.
Aço. O Brasil decidiu acionar a OMC contra as tarifas de importação nos EUA.
Trigo. Os estoques dos EUA estão nos níveis mais baixos desde 1987 em meio a uma perspectiva de alta na safra mundial.
Soja. A Abiove prevê safra recorde de 101,3 milhões de toneladas de soja.
Açúcar. Déficit da commodity deverá aumentar segundo a Platts.
Energia. A Aneel definiu bandeira verde para as contas de luz em outubro.
Gás. O consumo de gás natural caiu 5% em julho com recuo da indústria e da demanda térmica.
Indicadores
Inflação. O IGP-M acelerou para 0,2% com pressão do atacado e o IPC-Fipe recuou 0,03%.
Desemprego. O nível medido pela Pnad Contínua bateu recorde no trimestre encerrado em agosto com 11,8%.
TJLP. O governo manteve em 7,5% a TJLP para o quarto trimestre.