Se você acompanha o noticiário financeiro, provavelmente já ouviu falar na taxa de câmbio e no impacto que ela tem na economia, nos investimentos e nos negócios.
De forma geral, podemos dizer que ela compara o valor de uma moeda em relação a outra, indicando, por exemplo, quantos reais é necessário gastar para comprar um dólar.
Por isso, a taxa de câmbio pode influenciar bastante a competitividade das empresas, o poder de compra dos consumidores e a estabilidade dos mercados financeiros.
Neste artigo, você vai entender em detalhes o que é taxa de câmbio, sua importância, o que a determina, como calculá-la e muito mais.
O que é taxa de câmbio e como funciona?
A taxa de câmbio indica o valor pelo qual uma moeda pode ser trocada por outra. Ela determina quantas unidades de real são necessárias para adquirir uma unidade de dólar, euro, libra esterlina ou iene, por exemplo.
Dessa forma, quando a taxa de câmbio se desvaloriza, isso quer dizer que o dólar ou outra moeda estrangeira ficaram mais caros em relação ao real, exigindo que os consumidores, empresas e investidores brasileiros tenham que usar uma quantidade maior de reais para adquirir a moeda americana ou outra divisa.
Por outro lado, quando a taxa de câmbio se valoriza, isso significa que o real ganhou poder de compra em relação ao dólar ou outra divisa estrangeira, permitindo que os detentores da moeda brasileira consigam comprar mais mercadorias, com a mesma quantidade de dinheiro.
A importância da taxa de câmbio
A taxa de câmbio é importante, pois influencia diversos aspectos da vida econômica, como:
- a inflação, isto é, os níveis de preço dentro de uma economia;
- a balança comercial, que é o saldo líquido entre tudo o que o Brasil importa e exporta;
- a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, que podem ficar mais caros ou mais baratos para os compradores estrangeiros;
- o poder de compra dos consumidores e das empresas para importar produtos e serviços de outros países;
- as taxas de juros de uma economia, que têm influência sobre a taxa de câmbio, por poder atrair ou provocar a fuga de capitais; entre outros.
O que determina a taxa de câmbio?
A taxa de câmbio é determinada por uma série de fatores, entre os quais podemos destacar:
- Diferenças entre as taxas de juros: quando um país eleva a taxa de juros, passa a remunerar melhor os investimentos, atraindo, assim, mais capital estrangeiro, o que pode aumentar o valor da sua moeda local.
- Inflação: que determina o poder de compra de uma moeda. Dessa forma, quando a inflação sobe, o valor do dinheiro diminui, o que, dependendo da intensidade, impacta o orçamento das famílias e o planejamento das empresas.
- Políticas econômicas: as decisões tomadas pelas autoridades em suas políticas fiscais e monetárias podem mexer com as expectativas dos agentes financeiros, depreciando ou valorizando o câmbio.
- Oferta e demanda: como qualquer outro produto, a taxa de câmbio é fortemente influenciada pela lei da oferta e da demanda. Quanto mais os consumidores e empresas buscam uma determinada moeda, mais ela tende a se valorizar em relação a outras.
Taxa de câmbio nominal e real
Agora que você tem uma ideia melhor do que é taxa de câmbio e como ela pode influenciar a economia, os investimentos e os negócios, vamos entender a diferença entre taxa de câmbio nominal e real.
De forma geral, podemos dizer que a taxa de câmbio nominal é uma representação básica do valor relativo entre duas moedas, enquanto a taxa de câmbio real proporciona uma visão mais integrada, levando em consideração fatores como inflação e poder de compra.
Vamos entender melhor as características e diferenças entre a taxa de câmbio nominal e taxa de câmbio real:
Taxa de câmbio nominal
A taxa de câmbio nominal representa o valor de uma moeda em relação a outra, sem ajustes para a inflação ou diferenças no poder de compra. É essa taxa que geralmente encontramos nos noticiários e nos mercados financeiros.
Como calcular a taxa de câmbio nominal
O cálculo da taxa de câmbio nominal é bastante objetivo: basta dividir o valor de uma moeda pelo valor de outra.
Por exemplo, se a taxa de câmbio entre o real brasileiro e o dólar dos EUA (USD/BRL) é 5, isso significa que você precisa usar cinco reais para comprar um dólar e que, com apenas 0,20 centavos de dólar, você consegue comprar um real.
Novamente, é importante ressaltar que essa taxa não incorpora aspectos como inflação ou o poder de compra relativo das moedas, o que significa que flutuações nessa taxa podem não retratar alterações genuínas no valor das moedas em relação a bens e serviços.
Taxa de câmbio real
Já a taxa de câmbio real oferece uma análise mais aprofundada do poder de compra de cada moeda, pois leva em consideração a inflação entre os países. Assim, reflete de forma mais clara o verdadeiro poder aquisitivo das divisas envolvidas.
Ela é um instrumento eficaz para avaliar se uma moeda está subvalorizada ou sobrevalorizada, com base nas diferenças de preços relativos.
Como calcular a taxa de câmbio real
O cálculo da taxa de câmbio real é um pouco mais trabalhoso, já que precisa incorporar os índices de preço de cada país às taxas de câmbio nominais. A fórmula básica seria:
Taxa de Câmbio Real = (Taxa de Câmbio Nominal x Índice de Preços do País 1) / Índice de Preços do País 2)
Vamos utilizar novamente o exemplo entre Brasil e Estados Unidos. Nesse caso, a taxa de câmbio real seria calculada através da multiplicação da taxa de câmbio nominal (USD/BRL) pelo índice de preços dos EUA, seguido pela divisão pelo índice de preços do Brasil.
A taxa de câmbio real é uma importante ferramenta para avaliar alterações na competitividade internacional, já que considera variações de preços.
Quando a taxa de câmbio real está elevada em comparação à nominal, isso é sinal de que uma moeda está sobrevalorizada, tornando produtos estrangeiros mais acessíveis para os consumidores locais, o que pode ter repercussões na balança comercial.
Taxa de câmbio fixa
O regime de câmbio fixo é aquele em que o valor de uma moeda nacional é ancorado a uma moeda estrangeira ou a um conjunto de moedas, a fim de evitar sua valorização ou desvalorização além do previsto.
A taxa de câmbio fixa é controlada de perto pelas autoridades monetárias, no intuito de garantir a estabilidade cambial dentro de parâmetros definidos.
Nesse sistema, o valor da moeda nacional é estabilizado em relação a uma moeda estrangeira específica, como o dólar, evitando que flutue além de uma faixa predeterminada no mercado.
O banco central assume um papel ativo, intervindo no mercado cambial conforme necessário, através da compra ou venda da moeda nacional e da moeda estrangeira em suas reservas.
Isso ajuda a calibrar seu valor, controlando a oferta e a demanda para prevenir desvalorizações ou valorizações excessivas.
O pilar central deste regime é o firme compromisso das autoridades em manter a taxa de câmbio dentro dos limites determinados, o que geralmente demanda a gestão criteriosa de vastas reservas cambiais para garantir liquidez e intervenções eficazes quando necessário.
A principal meta desse sistema é garantir a estabilidade do câmbio, fomentando um ambiente propício ao comércio internacional e atraindo investimentos externos.
Essa estabilidade permite que as empresas se planejem melhor e executem suas operações internacionais com maior previsibilidade.
No entanto, apesar dessas vantagens, esse regime também apresenta riscos e complexidades que podem abalar sua aplicação.
Exemplo disso é a possibilidade de crises cambiais, principalmente se as reservas do país não forem suficientes para manter a taxa fixada, culminando em desvalorizações drásticas se os investidores perderem a confiança na capacidade do banco central de sustentar a taxa estabelecida.
Além disso, a necessidade de manter uma taxa de câmbio estável pode restringir a flexibilidade das políticas monetárias do país, limitando sua capacidade de abordar outras questões econômicas mais urgentes, como a regulação da inflação.
Os principais regimes cambiais são o câmbio fixo, o câmbio flutuante e a banda cambial. A seguir, tratarei dos três tipos, entendendo suas vantagens e desvantagens.
Taxa de câmbio flutuante
Já no regime de câmbio flutuante, é permitido que a taxa seja determinada pela oferta e pela demanda de moeda estrangeira no mercado.
Dessa forma, o governo não interfere diretamente no mercado, mas pode realizar intervenções pontuais, a fim de evitar distorções ou garantir a funcionalidade do mercado.
Nesse regime, é possível que a taxa de câmbio reflita as condições reais da economia e se ajuste às mudanças no cenário internacional, o que reduz os custos para o governo, que não precisa manter um grande volume de reservas internacionais para defender uma taxa de câmbio artificial.
No entanto, também pode gerar instabilidade e incerteza para os agentes econômicos, que ficam expostos às variações das moedas.
Desde 1999, o Brasil adota o regime de câmbio flutuante, após o abandono da taxa fixa implementada no início do Plano Real, em 1994, no intuito de estabilizar a economia e acabar com a hiperinflação.
Com isso, a taxa de câmbio passou a oscilar livremente conforme as condições do mercado, mas o banco central pode eventualmente intervir, por meio da compra ou venda de moeda estrangeira ou de contratos futuros de câmbio.
Banda cambial
A banda cambial é uma espécie de regime intermediário entre o câmbio fixo e o flutuante, frequentemente utilizada como transição de um para outro.
Nesse sistema, o governo define um limite mínimo e um limite máximo para a taxa de câmbio e faz intervenções nas pontas da banda, de modo a garantir que não ultrapasse os parâmetros definidos.
O objetivo é tentar conciliar os benefícios dos regimes cambiais fixo e flutuante, permitindo certa flexibilidade nas operações, porém sem perder o controle do mercado.
Esse regime, no entanto, também apresenta desvantagens, como a dificuldade de definir precisamente os limites da banda e a necessidade de manter reservas internacionais suficientes para fazer intervenções necessárias.
Na transição do câmbio fixo para o flutuante durante a implantação do Plano Real, entre 1995 e 1998, o Brasil adotou a banda cambial, inicialmente estabelecida em R$ 0,88 = US$ 1,00 (piso) e R$ 0,92 = US$ 1,00 (teto) e depois ampliada gradualmente pelo governo.
Devido à crise financeira internacional ocorrida em 1997-1998, a pressão da fuga de capitais obrigou o governo a promover a desvalorização do real, que acabou efetivamente rompendo a banda cambial em janeiro de 1999.
Flutuação “limpa”
É um regime que deixa a taxa de câmbio ser determinada pela dinâmica de oferta e demanda de moeda estrangeira no mercado, sem interferência do governo.
A função da flutuação limpa é refletir as condições concretas da economia e permitir que se ajustem às mudanças no cenário internacional, além de reduzir os custos do governo, que não precisa manter um volume muito grande de reservas para defender uma taxa fixa.
Cabe ressaltar, porém, que a flutuação limpa não garante a estabilidade dos preços nem afasta as incertezas dos agentes econômicos, que ficam expostos a variações e choques cambiais.
Flutuação “suja”
Nesse regime, o governo pode intervir no mercado, a fim de influenciar a taxa de câmbio da moeda nacional, dentro de determinados parâmetros estabelecidos.
É definido um limite mínimo e máximo para a oscilação cambial, e as intervenções são realizadas nas extremidades da banda, com o objetivo de garantir que não ultrapassem tais limites.
Aqui, o que o governo procura é dar certa flexibilidade para as operações, mas sem abrir mão de defender a moeda, caso a variação cambial se afaste dos patamares almejados, o que pode dar maior segurança aos agentes econômicos, mas, ao mesmo tempo, onerar o governo, que precisa manter reservas internacionais suficientes para manter a viabilidade do sistema.
Como a taxa de câmbio afeta as empresas
A taxa de câmbio é um aspecto extremamente relevante para a competitividade das empresas, principalmente aquelas que possuem operações internacionais ou têm exposição ao mercado externo, seja importando ou exportando produtos
No caso das exportações, a desvalorização cambial pode ser uma vantagem para as empresas que remetem seus produtos para o exterior, já que estes ficam mais baratos em moeda estrangeira, o que pode alavancar suas vendas e sua rentabilidade.
Em geral, a desvalorização cambial promove a alta das ações de empresas exportadoras na bolsa de valores.
Já quando o câmbio se valoriza, isto é, o real sobe de preço em relação a moedas estrangeiras, as empresas que têm uma grande dependência a materiais importados podem ver seus custos aumentarem, exercendo pressão nas margens de lucro e, em muitos casos, provocando a queda das suas ações na bolsa de valores.
É preciso notar ainda que empresas multinacionais têm grande exposição às volatilidades cambiais, que podem alterar seus balanços financeiros, já que receitas e despesas em moeda estrangeira podem ter uma tradução diversa na moeda nativa.
Outro aspecto importante a ser levado em conta é que as alterações nas taxas de juros e na inflação, muitas vezes guiadas pelas taxas de câmbio, podem nortear as decisões dos investidores sobre a distribuição de seus ativos.
Juros elevados em um país podem ser um chamariz para investidores estrangeiros à procura de melhores retornos, o que pode influenciar a procura pela moeda local e, consequentemente, sua valorização.
Como a taxa de câmbio influencia na inflação
A taxa de câmbio também afeta o nível de preços na economia, ou seja, a inflação, que é o aumento generalizado e persistente dos preços dos bens e serviços na economia durante determinado período.
A forma como o câmbio pode influenciar os índices de preços se dá de duas formas principais. A primeira delas é pelo efeito direto, ou seja, quando a moeda nacional se desvaloriza, os bens e serviços importados ficam mais caros em termos nominais, elevando o nível de preços na economia.
Esse efeito é chamado de repasse cambial para os preços internos e depende da elasticidade da demanda pelos bens e serviços importados, isto é, da sensibilidade dos consumidores às variações dos preços desses bens e serviços. Quanto maior for a elasticidade da demanda, menor será o repasse cambial e vice-versa.
A segunda ocorre pelo efeito indireto, vale dizer, quando a moeda nacional se desvaloriza, os bens e serviços exportados ficam mais baratos em termos reais, aumentando a demanda externa por esses bens e serviços. Isso gera um aumento da renda e do emprego no país, estimulando o consumo e o investimento internos.
Esse aumento da demanda interna pode pressionar o nível de preços na economia, se a oferta interna não for capaz de acompanhar o ritmo da demanda. Esse efeito é chamado de choque de demanda agregada.
Vale ressaltar que a influência da taxa de câmbio na inflação depende do regime cambial adotado pelo país, do grau de abertura da economia, da política monetária praticada pelo Banco Central e das expectativas dos agentes econômicos.
Em geral, quanto maior for a desvalorização cambial, maior será o impacto na inflação, o qual pode ser temporário ou permanente, dependendo da capacidade de ajuste da economia.