O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil decidiu nesta quarta-feira manter o atual ritmo de corte de 1 p.p. na taxa básica de juros. Com isso, a taxa Selic recua para 10,25% ao ano, muito próxima de perder o fantasmagórico patamar de dois dígitos.
A decisão não surpreendeu o mercado, mas o comunicado deixou uma sensação de que a autoridade monetária agiu a contragosto. Antes de a crise política estourar, muitos no mercado apostavam num corte de 1,25 p.p. na reunião dos dias 30 e 31 de maio. Alguns também viam o ciclo de afrouxamento monetário até mais extenso do que o esperado anteriormente.
A crise política apareceu e arrebentou com as volumosas posições a favor da curva de juros futuros. Taxas pré-fixadas, até então esticadas demais no curto prazo, dispararam no pregão do circuit breaker na bolsa, sem deixar espaço para uma liquidação honrosa. Mesmo com os alertas de esgotamento técnico e divergências macro, muitos insistiram nas posições e foram pegos de surpresa.
O pânico não se estendeu pelos dias seguintes, pois a tese de redução do ritmo de afrouxamento monetário não colou. Também se criou uma utopia de quadro favorável para aprovação das reformas. Muito sonho e pouca lógica, mas ao menos agradava certos interesses.
A ficha não caiu para todos e o Banco Central não quer causar mais pânico neste momento surpreendendo o mercado com uma decisão inesperada. Mas o fato é que a deterioração do quadro doméstico demandava uma decisão menos dovish já nesta reunião de Comitê.
Cortes agressivos podem deixar nossas defesas desguarnecidas. Nós já não somos o campeão de juro real no mundo, nossa dívida continua disparando e a economia não cresce. Com a decisão de hoje, a Rússia passa ocupar o primeiro lugar no ranking de juro real. Mais um corte agressivo e caímos para a terceira posição, atrás da Turquia.
São praças emergentes, com seus respectivos problemas domésticos, mas que pelo menos estão crescendo e não possuem dívida tão alta quanto a nossa. São altamente competitivas para atrair fluxo. Sem o bônus dos juros e sem as reformas para embutir alguma esperança, o Brasil deixa de ser competitivo, pois os nossos concorrentes simplesmente têm mais a oferecer.
O próprio Banco Central mostra no documento que está praticamente decidido uma redução no atual ritmo de afrouxamento monetário, conforme trecho abaixo:
“Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”.
É apenas lamentável observar uma autoridade monetária supostamente sem força para agir de imediato em conformidade com o seu diagnóstico. A frase destacada acima revela uma conclusão relevante: é preciso reduzir o ritmo de flexibilização monetária. E mais, a taxa Selic vai pra baixo, mas não tanto quanto muitos esperavam.
Obviamente a crise política servirá de bode expiatório para justificar o novo fracasso em atingir juros de países civilizados, mas a realidade é que continuamos insistindo nas rotas de atalho e, consequentemente, vamos continuar caindo nas armadilhas.
O índice Bovespa trabalhou formação de topo descendente na região aleatória dos 64,2k, mostrando contra-ataque de players posicionados na ponta vendedora. O candle desta quarta-feira revela que haverá forte disputa pelo importante ponto de pivot (mesma região da média móvel simples de 200 períodos diária) nos próximos pregões, onde a desvantagem, desta vez, está com a força compradora. Isso significa que o mercado está voltando a ficar mais pesado para a venda, já mirando o suorte na região dos 60,3k.
No mercado de câmbio também haverá briga pela média móvel simples de 200 períodos diária. Mesmo com o dólar enfraquecido contra as principais moedas globais, o real ainda não tem demonstrado força para voltar a ficar abaixo da média.