O ano de 2022 certamente entrará para a história como um dos mais difíceis para o setor de ativos digitais, quando fatores, como a rigidez da política monetária do Federal Reserve e riscos idiossincráticos, fizeram com que gigantes do criptomercado comessem poeira. Mas quem já está no mercado há algum tempo provavelmente sabe que é em momentos com esses que o investidor deve se recompor, digerir as perdas e se posicionar novamente para uma eventual mudança de maré.
Agora que já percorremos praticamente um mês e meio no ano-novo, a questão que os investidores desejam saber é quais serão as principais tendências de 2023. Até agora, o mercado se recuperou, com o BTC se valorizando mais de 40% desde a abertura do ano, enquanto outros ativos registraram ganhos ainda mais impressionantes. Tokens de derivativos de staking do Ethereum, como $RPL e $LDO, por exemplo, mais do que dobraram de preço.
1. Construtores voltaram ao trabalho
É difícil não se deixar influenciar pela tendência de queda do criptomercado, mas vale a pena notar como os construtores estão enfrentando esse “inverno frio”, à medida que desenvolvem as próximas inovações que vão mudar o ecossistema das criptos. Como sempre, encontrar as tendências que merecem ser acompanhadas é difícil em meio a tanto ruído, bem como os temas que oferecem uma proposta de valor tangível.
Por essa razão, decidi destacar alguns subnichos que, em minha visão, vão se destacar em 2023 e podem avançar ainda mais em um novo “bull market”. Vejamos quais são:
2. DeFi: ainda crescendo com grande sucesso
Apesar de 2022 ter sido uma verdadeira “montanha-russa” para todo o criptomercado, é impossível ignorar os desenvolvimentos fundamentais que ocorreram no mercado de finanças descentralizadas (DeFi). Para começar, o número de usuários diários ativos aumentou 2% e alcançou 641.510, de acordo com a DappRadar. Embora esse dado represente uma gota no oceano em comparação com 2020 e 2021, o crescimento que vimos no ano passado é um indicativo do bom desempenho do setor em momentos de melhora das condições do mercado.
Mas o que exatamente está acontecendo aqui? A expectativa é que mais nativos cripto adotem as plataformas descentralizadas, devido aos eventos que ocorreram no último ano, quando algumas das mais confiáveis plataformas de custódia quebraram, provocando prejuízos de bilhões de dólares para os clientes. A mudança já está acontecendo, com as plataformas descentralizadas registrando um aumento de 93% mês a mês em novembro de 2022, após o colapso da FTX.
Além do crescimento na adoção, 2023 provavelmente será o ano em que veremos a integração de protocolos de DeFi com instrumentos financeiros tradicionais. MakerDAO, um dos principais players do cenário de DeFi, recentemente aprovou uma proposta para investir em títulos corporativos e do Tesouro dos EUA, além de firmar parcerias com bancos tradicionais, a fim de melhorar financiamentos imobiliários lastreados em ativos reais.
Por fim, várias instituições financeiras tradicionais vão estrear no espaço DeFi, como JPMorgan (NYSE:JPM), que já definiu o ritmo da sua primeira transação em DeFi em 2022. Isso abre espaço para que protocolos de DeFi autorizados atendam a uma demanda crescente de empresas financeiras tradicionais, que desejam aproveitar os mercados descentralizados, sem deixar de seguir as regras dos órgãos reguladores.
3. NFTs e o metaverso: GameFi em alta
GameFi, uma interseção entre as finanças e o ambiente de jogos, é outro nicho das criptos no qual vale a pena ficar de olho. No ano passado, jogos orientados a blockchain responderam por 49% do uso ativo de DApp. Também houve um interesse maior de VCs, com players notáveis, como Andreessen Horowitz (a16z) e Sequoia Capital, expandindo sua presença nos ecossistemas de NFTs e metaverso.
Em 2023, tudo indica que o GameFi tende a crescer mais, tanto em termos de adoção quanto de avanço de infraestrutura. Os inovadores desse espaço já estão assumindo o desafio de desenvolver mais jogos atraentes, em vez de focar apenas nas recompensas do ecossistema. O mais importante, no entanto, é que publicadores tradicionais de jogos estão integrando suas infraestruturas estabelecidas ao metaverso. A Atari recentemente lançou um pacote de experiências no The Sandbox.
Bem, essa é apenas a ponta do iceberg. As tendências de gamificação através da tecnologia NFT também estão sendo adotadas por outros setores. Temos, por exemplo, DApps emergentes, como Fashion League, que usa NFTs para permitir que os jogadores desenvolvam NFTs de moda 3D personalizados e concorram com outros participantes no ecossistema. Embora ainda seja uma área incipiente de inovação, a gamificação de setores tradicionais certamente é uma das tendências a serem acompanhadas neste ano.
O mais fascinante de tudo é que empresas internacionais, como Gucci, Nike (NYSE:NKE), McDonald’s (NYSE:MCD) e Campbell (NYSE:CPB), já disponibilizaram produtos colecionáveis, como estratégia promocional para aumentar o interesse em suas ofertas. Claramente, os NFTs estão mudando a forma como as empresas interagem com os consumidores na era digital e continuarão fazendo isso no futuro próximo.
4. Atualização “Shangai” do ethereum
Para os fãs inveterados do ethereum, a tão aguardada atualização Xangai (EIP-4895) está causando rumores. Essa proposta de melhoria introduzirá um recurso de resgate, permitindo que os validadores do ETH removam seus fundos que estão bloqueados na cadeia beacon. O evento deve afetar a demanda e a oferta do ETH, na medida em que os stakers poderão liquidar seus ETHs bloqueados e, ao mesmo tempo, tornar ainda mais fácil para que mais usuários de criptos entrem e saiam do staking do ETH.
De acordo com a última atualização dos desenvolvedores do ethereum, a atualização Xangai está programada para março de 2023, e a notícia já parece estar impulsionando a ação dos preços de tokens líquidos de derivativos de staking, como $LDO e $RPL. O mais importante é que essas duas plataformas de staking de ETH ganharam bastante força, com o LIDO liderando, diante de um valor total bloqueado de US$ 8,9 bilhões, enquanto o RPL registra um pouco menos de US$ 1 bilhão, de acordo com métricas da DeFiLlama.
Se essa atualização for um sucesso, é provável que os tokens associados registraram fortes flutuações para cima e para baixo. É muito positivo testemunhar a transição gradual do ethereum de um mecanismo de prova de trabalho para prova de participação. Ainda não é possível dizer se a capitalização de mercado do ETH será um desafio para o predomínio do BTC neste ano. Talvez seja muita ambição no momento.
Tokenização de ativos: uma nova era de possibilidades financeiras
A tokenização de ativos do mundo real é outro tema importante que provavelmente moldará as perspectivas da indústria de ativos digitais em 2023. O BCG estima que o mercado de tokenização se tornará um ecossistema de US$ 16 trilhões até 2030. Embora esse número possa parecer exagerado, outras empresas líderes em investimentos também acreditam que a tokenização de ativos será uma área de interesse de instituições financeiras este ano. A VanEck prevê que cerca de US$ 25 bilhões em ativos fora da cadeia serão tokenizados este ano.
Até agora, o banco central de Cingapura já fez parceria com o JPMorgan para lançar um projeto-piloto de blockchain apelidado de “Guardião”, uma iniciativa que visa tokenizar títulos e depósitos, utilizando contratos inteligentes para facilitar as execuções operacionais. A tokenização de ativos está se tornando um tema importante para as instituições que buscam melhorar a eficiência e a acessibilidade de seus instrumentos de mercado.
Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, disse o seguinte:
“A próxima geração de mercados e a próxima geração de ativos será a tokenização de valores mobiliários.”
5. Moedas de bancos centrais (CBDCs)
Mais de 100 bancos centrais em todo o mundo estão atualmente explorando a viabilidade de CBDCs. Alguns estão em fase de pesquisa, enquanto outros já foram lançados. A grande questão, no entanto, é saber se as CBDCs vão decolar, coexistir com as criptos ou substituir todo o ecossistema.
De acordo com um relatório recente do Banco Popular da China (PBoC), o iuane digital representou 0,13% da circulação total do iuane renminbi chinês em 2022. Enquanto isso, o uso de eNaira da Nigéria é usado por apenas 0,5% da população do país. Ainda assim, é uma gota no oceano em comparação com a circulação de moedas fiduciárias em ambas as jurisdições.
Dito isso, o resultado final é que provavelmente veremos mais iniciativas de CBDC em 2023. O Banco Central Europeu (BCE) está na fase de pesquisa do euro digital, com perspectiva de apresentação de um projeto de lei neste ano. Enquanto isso, a Índia lançou recentemente dois pilotos digitais da rúpia, um para o mercado atacadista e outro para o mercado varejista.
Com base nessas tendências, o tema das CBDCs continuará sendo um dos principais tópicos de discussão em 2023. Não é de surpreender que as CBDCs tenham sido classificadas como o principal desafio de inovação tecnológica no G20 TechSprint do ano passado.
***