O investidor da Natura&Co (BVMF:NTCO3) não tem um minuto de paz. Desta vez, as ações da companhia despencaram após a divulgação de resultados.
Os papéis da gigante brasileira de itens de beleza e cosméticos Natura &Co caíram 17,49%, cotados a R$ 12,22 na terça-feira, 14.
Mas o que desagradou tanto o mercado?
Ainda tendo que enfrentar um cenário macroeconômico altamente desafiador e uma série de obstáculos na gestão de suas marcas, o resultado da Natura no 4T22, mais uma vez, decepcionou seus acionistas e potenciais investidores.
Por conta de suas operações internacionais, a Natura, que controla a Avon e outros grandes nomes globais do segmento de beleza, divulga seus números de duas formas: em moeda corrente (reais) e em moeda constante (libra, dólar australiano etc.).
Apesar de ter apresentado crescimento de +3% em sua receita líquida em moeda constante no trimestre, o impacto cambial com a depreciação de algumas moedas em relação ao real fez com que a receita da Natura caísse -11% em moeda corrente – no fim, é o que realmente importa para nós.
O desempenho no período pode ser explicado pela queda na receita da Avon Internacional (-24%) e da The Body Shop (-21%), que mais do que compensaram (negativamente) os números praticamente estáveis da Natura Latam (-3%) e da Aesop (-2%).
Com o desempenho mais fraco de suas marcas internacionais, o Ebitda (medida que indica o potencial de geração de caixa de uma companhia) da Natura foi -29% menor em relação ao mesmo período do ano anterior, com margem Ebitda de 10,5% (-2,8 p.p.).
Porém, o principal ponto negativo da divulgação foi o prejuízo de R$ 890 milhões entregue pela empresa no trimestre, revertendo o lucro de R$ 695 milhões apresentado no 4T21 e que pode ser explicado, principalmente, pelo forte aumento em suas despesas financeiras.
Ação cai 44% em um ano
“O que acontece com a Natura?”. Para responder isso, primeiro é preciso entender que o fraco desempenho da Natura no último trimestre de 2022 (e no consolidado do ano) é apenas um reflexo de tudo o que vem acontecendo dentro da companhia.
Depois de ter criado o quarto maior grupo mundial no segmento de beleza com a aquisição da Avon, a Natura passou a sofrer com diversas culturas diferentes em suas operações espalhadas pelo mundo.
Tanto que, agora, a companhia está focando a maior parte de suas atenções na América Latina e buscando a venda de sua mais promissora subsidiária, a australiana Aesop.
A consequência disso é o movimento que estamos acompanhando em suas ações, que, como podemos ver no gráfico abaixo, vem seguindo de perto os resultados apresentados pela Natura nos últimos anos (positivamente e negativamente).
Após o lucro e os papéis da empresa “andarem de lado” até 2018, a melhor visibilidade apresentada pela Natura (principalmente após a compra da Avon) acabou elevando as expectativas de seus investidores, que viram NTCO3 subir cerca +200% entre 2019 e 2021.
Essas expectativas acabaram sendo frustradas após os resultados de 2021 e que seguem pressionando as ações desde então.
NTCO3 vai sair dos escombros?
Mesmo após as ações da Natura caírem -80% desde as máximas, em meados de 2021, a companhia segue sendo negociada por um múltiplo EV/Ebitda que consideramos alto, de 13 vezes – bem acima da média histórica da bolsa brasileira, que é de cerca de 8 vezes Ebitda.
Vale destacar que, atualmente, não é possível analisar o múltiplo P/L para a Natura, já que a empresa encerrou 2022 com prejuízo acumulado.
Além do alto preço de seus papéis, não vemos grande visibilidade de médio a longo prazo para a companhia, mesmo no caso de uma possível venda futura da Aesop.
Com uma longa jornada de recuperação pela frente, por ora, seguimos recomendando que fique de fora de NTCO3.
Recomendação: Não comprar