Em uma semana encurtada pelo feriado de Ação de Graças nos EUA, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato para vencimento março/23 cotado a 19.28 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 77 pontos comparativamente ao fechamento da semana anterior, ou seja, uma redução no preço de 17 dólares por tonelada. Os contratos futuros correspondentes à safra 2023/24 também apresentaram quedas acumuladas na semana entre 4 e 12 dólares por tonelada, sendo os vencimentos mais curtos aqueles que mais se desvalorizaram.
Na semana, a moeda brasileira se desvalorizou em relação ao dólar ao redor de 1%, refletindo o mau humor do mercado financeiro pela possível indicação de Fernando Haddad como Ministro da Fazenda do governo que assume o País em 1º de janeiro. Seu discurso em almoço com empresários nesta sexta-feira não empolgou ninguém. Não é surpresa pois todos lembram como Haddad é desprovido de ideias que não sejam aquelas emanadas da cachola de seu guru. O nível de sabujice demonstrado por Fernando Haddad nas eleições de 2018 foi algo memorável e espantoso, para dizer o mínimo. Como Ministro da Fazenda, Haddad fará tanta diferença ao País quanto uma samambaia pendurada na parede.
O gás natural lidera a alta no rol das commodities este mês. Com a aproximação do inverno, a crise energética na Europa desenha um cenário para seu recrudescimento na próxima estação. Os enormes custos dessa dependência da Rússia estão longe de um consenso quanto à sua magnitude, mas parece não haver dúvidas de que a Europa assiste ao encolhimento de sua importância geopolítica. O gás natural subiu 14% neste mês. Por outro lado, as ameaças de lockdown na China devido a mais uma variante da Covid-19 inquietam o mercado com a ameaça de uma recessão mais profunda. Com isso, neste mês, acumulam perdas os mercados do petróleo tipo WTI (12%), do Diesel (11%), do petróleo tipo Brent (10%) e da gasolina (7%).
Os números acumulados de moagem publicados pela UNICA apontam para um total de moagem de cana até o final da safra 22/23 de aproximadamente 532 milhões de toneladas, próximo ao volume com o qual o mercado está trabalhando. Ainda é cedo para saber quando o Centro-Sul vai produzir o ano que vem, embora algumas previsões indiquem 575 milhões de toneladas.
A despeito de nossa visão negativa acerca do mercado de açúcar no curto prazo devido a: a) os fundos comprando futuros sem fundamentos sólidos que justificassem esse movimento; b) o default indiano de menor relevância do que comentado pelo mercado; c) a Índia muito interessada em aproveitar os bons preços de NY para março e maio/23 e quem sabe despejar no mercado internacional de 8 a 10 milhões de toneladas de açúcar; d) a ameaça de piora na recessão caso a incidência da nova variante do vírus da Covid-19 assuste; e) alta nos juros e inflação que coíbem a formação de estoques; acreditamos que o cenário de longo prazo para o setor é extremamente positivo. Mas, por quê? Vejamos a seguir.
A demanda mundial de açúcar hoje deve estar em torno de 179 milhões de toneladas, contra uma produção de 182.9 milhões de toneladas. Se suavizarmos a curva do crescimento da produção e do consumo nos últimos 10-15 anos, tomando como base os números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), observamos que a produção cresce a uma taxa de 0.28% ao ano enquanto o consumo cresce a 0.76% ao ano. Apesar dessa pequena vantagem pró-consumo, se ambas as taxas se mantiverem inalteradas nos próximos anos, o mundo continuará a produzir um superavit -ainda que menor – até 2026.
Ocorre que a expansão do consumo per capita de açúcar na Ásia é digno de destaque. O consumo de açúcar na Indonésia, por exemplo, cresceu nos últimos dez anos em média 766 gramas por ano por habitante. É como se todo indonésio todo ano adicionasse o consumo de uma lata de refrigerante a cada 12 dias na sua dieta. O Paquistão, por sua vez, cresceu 309 gramas por habitante nos últimos 10 anos. De maneira simplista, é uma lata adicional de refrigerante a cada 30 dias.
O consumo mundial de açúcar, excluindo a China, é de 25 quilos por habitante/ano. Esses dois países citados somam aproximadamente 520 milhões de habitantes e continuam crescendo, no entanto o consumo deles é muito próximo da média mundial. Ou seja, tem um enorme espaço para a expansão do consumo (alimentos industrializados e bebidas) enquanto suas economias mantem o ritmo de crescimento saudável. Para se ter uma ideia, o PIB da Indonésia deve crescer 5.0% este ano, enquanto o Paquistão deve alcançar 6.2%.
O cenário provável que estamos desenhando para os próximos cinco estima um crescimento no consumo da ordem de 1.14% ao ano, o que geraria um déficit já a partir de 2025 se a produção não retomar o mesmo passo.
O adicional de açúcar que será consumido nesses cinco anos, tomando por base o número inicial de 179 milhões de toneladas citado acima é de 31 milhões de toneladas de açúcar. Dois terços desse consumo será abastecido dentro dos próprios países, enquanto 1/3 tem que ser importado daqueles países que produzem em excesso ao seu consumo. Ou seja, o mundo livre (aquele de importação e exportação de açúcar) terá que prover 10.8 milhões de toneladas de açúcar. Como o Brasil é responsável por cerca de 41-45% desse volume, nosso quinhão é de 4.6 milhões de toneladas de açúcar. Mas isso – os caros leitores dirão – o Brasil faz com um pé às costas, não é mesmo?
Um volume de 4.6 milhões de toneladas de açúcar pode não ser algo significativo, não obstante, faltam algumas peças para que essa análise se complete. Não é tão-somente o açúcar de exportação. Haverá necessidade de expansão canavieira para atender aquele consumo represado do ciclo Otto que em algum momento vai se recuperar e voltar aos níveis anteriores da pandemia. Uma recessão menos duradoura vai expandir esse consumo – lembrando que o ciclo Otto cresce um delta cima do PIB. O pós-guerra vai certamente mudar a matriz energética da Europa e os combustíveis renováveis terão importante papel nessa mudança. Quanto isso vai representar em necessidade cana para os próximos anos? Cinco anos tá logo ali.
Se for para atender apenas aos 4.6 milhões de toneladas de açúcar, vamos precisar de apenas 35 milhões de toneladas de cana. Tranquilo, certo? Bem, sugiro que olhemos o quanto de ATR temos produzido em média nas últimas safras: 90 milhões de toneladas na média das últimas cinco e 88 milhões de toneladas na média das últimas dez. Esse adicional representa cerca de 5.5% de toda a produção de ATR, um percentual muito além da variação que temos tido. O mercado será bem mais construtivo nos próximos anos.