O mercado internacional vivencia um ambiente de fortíssima valorização dos ativos que não se via a décadas, e isto em decorrência direta da excessiva liquidez.
Contudo, já transparece que está entrando numa fase de maior atenção ao focar de forma mais cuidadosa os fatores que podem determinar diminuição desta liquidez e/ou mesmo redirecionamento em razão de mudanças nos países que se configuram como maiores protagonistas.
Este fato pode provocar comportamentos oscilantes de mercados importantes e influenciar os mercados satélites, em especial os países emergentes, e entre estes pode haver também uma seleção com maior acuidade com base na avaliação de riscos presentes e em perspectiva e não somente com a possibilidade de ganhos.
Os Estados Unidos é o foco maior, visto que as mudanças tributárias que estabeleceu podem alterar fundamentalmente as decisões de investidores americanos, que podem optar por retorno ao mercado americano, e os estrangeiros que podem ficar atraídos pelas vantagens comparativas, tudo isto em detrimento dos emergentes.
Neste momento, a cena externa indica que os investidores aguardam a decisão do Federal Reserve que pode sinalizar a elevação da alta dos juros em março, uma vez que o fortalecimento da economia em 2017 abre espaço para um aperto. Não se espera mudança nesta última reunião sob o comando de Janet Yellen, devendo ser mantida a taxa entre 1,25% e 1,50%, mas há crescente convicção que na próxima reunião, sob novo comando, ocorra elevação da alta do juro, que se supõe possam ocorrer pelo menos 3 vezes neste ano.
É notório o aquecimento da economia americana e inequívoca a atração que desperta aos investidores, nacionais com recursos no exterior e os estrangeiros efetivamente, as mudanças da política tributária, e isto pode provocar alterações relevantes nos fluxos de capitais, com sérios impactos reversivos em mercados emergentes.
O Brasil parece estar atento a este cenário com foco acentuado pelo BC, até maior do que os “players” do nosso mercado financeiro, o que o leva a continuar administrando de forma sutil a formação da taxa cambial local mantendo o real sobrevalorizado, face ao ambiente que sugere uma taxa cambial mais equânime com a relevante crise fiscal do país e o ambiente nebuloso que está presente e deve se prolongar ao longo do ano envolvendo a política e a questão da sucessão presidencial.
Há fatores desestabilizadores em torno das ações absolutamente necessárias para atenuar a crise fiscal, mas o governo começa a “jogar a toalha” para alguns pontos relevantes como o reajuste de salários do funcionalismo publico e a reoneração da folha de vários segmentos, e cresce a percepção de que continua com sérias dificuldades para aprovar a reforma da Previdência.
A questão fiscal é altamente relevante e tem contexto binário, podendo provocar o pior ou o melhor cenário dependendo do que acontecer.
Certamente as agências de rating estarão de plantão para sancionar suas avaliações sobre a nota de crédito do Brasil.
A questão sucessória estará cada vez mais presente no dia a dia do país e não se espera que o ambiente seja cordato, devendo haver muitas perturbações entre os candidatos a candidatos e ainda terá que conviver com os ruídos intensos em torno da resistência do ex-Presidente à sua exclusão da disputa presidencial, não havendo convicção que o poder Judiciário, em especial o STF, se alinhe com a decisão do TRF-4. Este assunto, como já salientou o Presidente Temer, vai tensionar o país.
O Brasil tem mantido alinhamento com o comportamento do mercado internacional, espelhando-o, mas certamente tem peculiaridades que podem afetá-lo e levar os investidores estrangeiros à perda de apetite pelo país.
Por isso, é necessário que se acentue o foco e a precaução sobre os problemas intestinos do Brasil, que a qualquer momento poderão colocá-lo em rota diversa do mercado internacional, pois os capitais estrangeiros aqui presentes no nosso mercado financeiro são extremamente “ariscos” e podem sair com a mesma ou até maior rapidez do que entraram.