COTIDIANO NA QUARENTENA
Os dias têm sido realmente intensos, não é mesmo? Não sei vocês, mas essa ideia de quarentena em casa sentado no sofá vendo Netflix, ou entediado, sinceramente não se aplica a minha realidade! Diariamente, sou bombardeado por centenas ou milhares de mensagens nos grupos de Whatsapp de mercado que participo. Fora isso, um mar de notícias diversas: números de infectados, curvas de evolução, tratamentos para o corona etc. A isso se soma o home office numa casa com a minha linda pequena de um ano e meio. Isso torna o trabalha muito prazeroso mas, ao mesmo tempo, traz certos desafios. Ps: não reparem a bagunça.
O QUE ESTÁ NOS PREÇOS DOS ATIVOS?
Nesse turbilhão de emoções, novas experiências e adaptação, temos que parar e pensar… Tentar manter a cabeça no lugar. Vejo muita gente impressionada com o que vem acontecendo. Não é para menos, pois é sim uma situação atípica e totalmente fora da normalidade!
Mas, para o investimento em bolsa, cabe a pergunta: o que está e o que não está nos preços?
- É novidade que a economia e as empresas vão parar? Não. Então não se assuste com fotos de lojas e centros comerciais vazios.
- É novidade que as empresas vão faturar menos e que o PIB, seja do Brasil ou dos EUA, vai sofrer impacto? Para mim não.
- É novidade que, nesse cenário de crescimento do vírus, veremos hospitais lotados? Para mim, acredito que não.
- É novidade que teremos aumento do desemprego? Não, já tivemos um spike no desemprego aqui nos EUA.
Por que comento isso?
Porque, não sendo novidade, essas notícias já estão nos preços dos ativos, em maior ou menor magnitude. Não por acaso o IBOV chegou a alcançar os 61 mil pontos acumulando uma queda de 48% da máxima a mínima. Isso significa dizer que os preços dos ativos da bolsa chegaram a valer 48% a menos por conta desses fatores que comentei acima.
Mas tem mais um ponto que também já veio sendo colocado nos preços dos ativos nessa semana:
- A ajuda dos governos. Poderia dizer que esse foi o principal motivo da recuperação da bolsa nos últimos dias.
Da mínima ao patamar atual o IBOV subiu 19%. Apenas nos EUA foram US$ 2 trilhões, correspondente a quase 10% do PIB. Na Europa e do resto do mundo serão mais US$ 3 trilhões, ou seja, nunca tivemos tanto dinheiro despejado no mundo como no momento atual. Já no Brasil o incentivo deverá chegar a R$ 750 bilhões, que corresponde a 10,27% do PIB de 2019.
Sendo assim, a queda acumulada da máxima a até o ponto atual (segunda antes da abertura) é de 39%. Esse é o preço de todas as notícias ruins e algumas boas que temos visto até agora. Os ativos no Brasil estão 39% mais baratos, o que significa que as empresas brasileiras valem 39% a menos…pense nisso.
O QUE NÃO ESTÁ NOS PREÇOS
Mas a pergunta de $1 milhão é saber o que não está nos preços. Será que a mínima desse movimento de queda foram os 61 mil pontos? Eliseu escreveu um artigo muito bom que comenta isso (acesse aqui).
Não há como saber, mas a meu ver o que não está nos preços é:
- Quanto tempo a economia ficará fechada. Trump acabou de estender a quarentena aqui nos EUA até o dia 30 de abril. Isso deve pesar negativamente na segunda (notícia completa).
- Quando será o pico dos casos e veremos os mesmos se reduzindo nos EUA e Brasil? Aqui me arrisco a dizer que já temos notícias de que seria agora, em meados de abril. Logo, talvez isso já esteja sendo colocado nos preços. Abaixo, gráfico da evolução recente (fonte:Santander Research). Vale uma ressalva: esses gráficos se desatualizam muito rapidamente, afinal no Brasil os casos estão dobrando a cada 3 dias.
- O quanto o consumo será transformado após tudo isso passar?
- Será que vamos ter muitas empresas quebrando? Digo isso pensando no suporte que os governos correm em dar para a economia.
- Será que a ajuda do governo será suficiente?
- Será que uma vacina ou tratamento efetivos surgirão?
UMA TAL MARGEM DE SEGURANÇA
Nem eu e nem ninguém temos a resposta para essas perguntas! Mas essas nuvens de incerteza criam o chamado PRÊMIO DE RISCO. Ou seja, um prêmio para quem ousar se expor agora em ações. Eu aprendi uma coisa simples nesses 16 anos de mercado: devemos sempre comprar ativos quanto maior for a margem de segurança, e essa é inversamente proporcional aos preços dos ativos. Ou seja, quanto menores os seus preços, maior tende a ser essa margem! Logo, com ativos 39% mais baratos do que estavam até pouco tempo atrás, é inegável que a margem de segurança aumentou!
P/VPA do IBOV. Atualmente, o Ibovespa negocia a uma relação de 1.2x valor de patrimônio (P/VPA). Sabe quando ele bateu 1.3x? 2008! Sabe qual a média desse indicador? 1.6x, ou seja 33% acima.
P/L do IBOV. Esse gráfico da Eleven Financial elaborado pelo Carlos Dalzoto (@dalzoto) é um clássico! Estamos em 8.4x. Digamos que os lucros sejam revisados 20% para baixo. Lembro que o mundo e as empresas não vão ficar fechados para sempre, e que nessa crise algumas empresas se beneficiam de um dólar mais alto (comento mais abaixo). Então, os 30% me parecem ok, não? Teríamos um denominador menor, correto? Sim. Jogando o múltiplo para algo como 10.5x , ainda abaixo da média. Se você acredita que o lucro cai 30%, seria um P/L 12x. Nenhuma barganha mas, a meu ver, justifica o risco. Somente se você acredita que o lucro do ano de todas empresas do IBOV caia pelo 40% você não deve comprar ações, pois nesse caso elas ainda estariam caras negociando a 14x o múltiplo Preço/Lucro.
Pra complementar a ideia, achei essa thread do Twitter GENIAL! Por favor leiam!
{{twitter|{"link":"https://twitter.com/WillCastroAlves/status/1244440508132360198"}}}
Não sou grafista ou analista técnico, mas achei esse gráfico interessante. Ele usa um indicador técnico para medir o quanto o Ibovespa estaria sobrecomprado ou sobrevendido, mas, mais do que isso, ele traz uma visão histórica interessante, com eventos e seu reflexo no índice. Tirem suas próprias conclusões.
Mas ok. Você não precisa acreditar em mim. Acredite em grandes investidores! Não por acaso, temos visto grandes nomes comprando ações no mercado, conforme comentamos aqui nesse artigo da semana passada (o que os Grandes Investidores estão fazendo). Fora isso, nessa semana que passou tivemos notícia da Dynamo, uma das gestoras de fundos de ações mais antigas e respeitadas do Brasil (com R$ 11 bilhões sob gestão), aproveitando para ir às compras em meio a uma turbulência. Isso depois de terem levantado R$ 1 bilhão em nova captacão em 24 horas!
“Temos comprado ações todos os dias”, disse a Dynamo, em comentários enviados por e-mail. “Não sabemos dizer se as ações vão cair mais ou não, mas os preços começam a chegar em patamares que julgamos bastante interessantes.” Ao longo das últimas semanas, a gestora ampliou a sua posição em Natura (SA:NTCO3), Alpargatas (SA:ALPA4), Localiza (SA:RENT3), Ultrapar (SA:UGPA3) e Vale (SA:VALE3). “Entendemos que são bons investimentos a médio prazo. São companhias capitalizadas e bem administradas, que nos permitem navegar quase que em qualquer cenário.” Para a Dynamo, os preços dos ativos não estão racionais e devem ficar assim por mais um tempo. “Temos convicção de que não vamos acertar o timing do bottom”, disse a gestora. “Mas os preços já estão ficando interessantes e no longo prazo algumas companhias devem sair até mais fortalecidas da crise.”
CÂMBIO: R$ 5 VIERAM PARA FICAR?
Essa é uma boa pergunta. Ainda que eu gostasse de dizer que não, me faltam argumentos para justificar uma resposta negativa a essa pergunta. O Brasil, assim como outros emergentes, já está sofrendo os impactos do corona – vide gráfico. Com a (i) economia crescendo pouco ou não crescendo, (ii) juros baixos, (iii) um desarranjo fiscal temporário e (iv) brigas e troca de farpas entre políticos, fica difícil achar motivo que substancie o dólar voltar para os R$ 4.
Ainda que nosso bolsa sofra, nem todos se prejudicam. Setores como o Agribusiness (SLCE, AGRO, TESA) , as proteínas (JBSS, MRFG, BEEF e BRFS) e mineração (VALE) se beneficiam desse câmbio. Abaixo, estudo do Santander que mostra o impacto levando em consideração o Resultado e o Balanço Patrimonial das empresas (ativos e dívidas). Ou seja, uma desvalorização do Real afeta positivamente alguns setores, como demonstrado abaixo.
PARA ACABAR
Você não vai acertar as mínimas, e eu não sei se não iremos atingir patamares ainda menores. Casos no Brasil ainda estão em franca expansão e isso assusta muitos. Mas eu acredito fortemente que, se você tiver estômago para as flutuações, esse é um excelente momento para ignorar as notícias e ir montando sua carteira de ações, tanto no Brasil quanto nos EUA. Isso é o que eu penso.
Era isso.
Aquele Abs.