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Como a Aplicação das Leis de Mercado Pode Ajudar nas Práticas de ESG?

Publicado 09.04.2021, 10:00
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Uma tradicional empresa de grande porte brasileira contratou recentemente uma Head para sua recém-criada área de ESG (Environmental, Social, and Governance - as práticas ambientais, sociais e de governança). Em sua primeira reunião com a CEO e o CFO, ela apresentou suas propostas de projetos e iniciativas para o próximo ano fiscal que se aproximava.

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Os executivos apreciaram o entusiasmo da gestora na apresentação de suas interessantes propostas, porém, quando ela expôs os custos necessários para implementação das iniciativas, percebeu-se uma mudança no semblante dos seus superiores. Por restrições orçamentárias, o único projeto que foi aprovado para o ano foi a mobilização de colaboradores voluntários para realização de ações locais de reflorestamento de áreas com esse potencial (atividade importante, porém descolada do core business da empresa). Seria uma campanha realizada em quatro finais de semana em um mês comercialmente estratégico, com cobertura da mídia e com o suporte da área de Marketing. A CEO aproveitou para lembrar sua nova colaboradora quanto à entrega do Relatório de Sustentabilidade do ano anterior que ainda estava pendente.

Apesar deste ser um caso fictício, arrisco apostar que vários gestores de ESG já passaram por, ou ao menos souberam de situações semelhantes.

Mas quem está errado no caso desta empresa? Todos e ninguém...

Primeiramente, campanhas como as relatadas no caso são muito bem-vindas e precisam continuar a ser incentivadas e realizadas, assim como várias outras semelhantes que acabam não saindo do papel por diversas restrições, incluindo as orçamentárias – em parte pelo fato de a área em questão estar associada a um centro de custo dentro da organização. E é aí onde se faz necessário empregar o olhar estratégico para a aplicação correta de ESG: é crucial que esses conceitos estejam dentro do DNA da organização, sejam parte de sua espinha dorsal, como uma componente do seu core business. Mas como promover essa mudança de mindset?

Estamos atualmente vivenciando a chamada 4ª Revolução Industrial (também conhecida como Indústria 4.0) que é essencialmente caracterizada por aspectos tecnológicos relacionados à automação, cloud, inteligência artificial, integração e compartilhamento, somada a uma preocupação legítima com temas sociais e ambientais que foram deixados de lado nas revoluções anteriores. Uma ótima fonte de referência é Fórum Econômico Mundial (WEF) e as publicações de Klaus Schwab. Mas, esse movimento não ocorreu por acaso.

Uma série de iniciativas promovidas por organizações não governamentais, incluindo as Nações Unidas, têm conseguido fomentar ações e iniciativas importantes junto aos governos. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos em 2015 para serem implementados até 2030 são um ótimo exemplo.

Também se observa uma crescente preocupação da população economicamente ativa com o consumo de bens e serviços produzidos de forma favorável ao meio ambiente e às pessoas envolvidas, somando-se aos clássicos atributos de qualidade e preço. Já existem consumidores dispostos a pagar um pouco mais caro por um produto por conta de como ele foi produzido, como, por exemplo, a origem sustentável da matéria prima, a utilização de energias limpas e renováveis nos processos de produção e distribuição, a utilização adequada e respeitosa de mão de obra, se ajuda no desenvolvimento de comunidades etc. Esse tipo de comportamento não era sequer imaginado há algumas décadas.

O conceito de utilidade, originado da economia neoclássica, que representa a satisfação ou o prazer que os consumidores retiram do consumo de determinado bem, consegue justificar pelo menos em parte o desejo de determinados tipos de consumidores ainda estarem dispostos a pagar um pouco mais caro por produtos concebidos por organizações praticantes de ESG, os quais ainda podem ser considerados raros e geradores de satisfação. Contudo, agora não só com seu uso direto, como também pela sensação de contribuição com aspectos ambientais e sociais.

Organizações atuantes em mercados abertos e de livre concorrência até então estabeleciam suas estratégias competitivas baseadas essencialmente na qualidade de seus produtos e serviços (diferenciação), e nos respectivos custos e preços. O consumidor se sentia satisfeito ao pagar um preço justo por um produto que atendesse suas necessidades de consumo. Hoje em dia, a quantidade de variáveis é bem maior. O chamado “consumidor consciente”, cada vez mais presente na população economicamente ativa, tem alterado significativamente as prioridades e estratégias das organizações. Ele se sente corresponsável pelas consequências da aquisição de um produto cujo processo produtivo gera poluição e resíduos ou faz uso de mão de obra infantil e escrava, por exemplo, e usa esses fatores como parte dos critérios para tomadas de decisão de compra.

Como resultado, as organizações têm passado a encarar temáticas de ESG não mais como centros de custo, como no caso citado, mas como parte de sua estratégia de sobrevivência no mercado. Estamos em plena fase de transição, felizmente.

De uma forma geral, são essas as posturas que encontramos atualmente:

- A empresa que ainda não acredita na temática: terá um público cada vez mais reduzido, composto por pessoas que ainda não valorizam (ou não acordaram para) ESG;

- A empresa que reconhece a importância de ESG mas não busca de forma prioritária mudar sua estratégia nem seus produtos, porém se esforça para passar essa imagem. Costumam ser organizações que praticam o chamado greenwashing, como pontuado pelo artigo The Drivers of Greenwashing (Delmas and Burbano, 2011).

- A empresa que está legitimamente em processo de transformação de seu core business, trazendo as práticas de ESG para sua espinha dorsal. São essas as que atualmente mais se beneficiam de departamentos e lideranças especializadas em ESG em seus quadros de colaboradores. Uma empresa que altera o formato e a composição das embalagens de seus produtos (componentes orgânicos), por exemplo, está inserida nesse grupo. Outro exemplo inclui organizações que privilegiam pequenos fornecedores localizados em regiões pouco privilegiadas e ajudam indiretamente no desenvolvimento de regiões mais necessitadas.

- A empresa que já concluiu o seu processo de transformação e atua plenamente com ESG, adotando até mesmo práticas de Economia Circular (falarei sobre isso em outro artigo) e valorizando o desenvolvimento da sociedade.

- A empresa que já nasceu com ESG em seu DNA e adota essas práticas, incluindo a Economia Circular, como parte de sua missão e valores.

Não podemos deixar de mencionar que também existem ferramentas, institutos, metodologias para avaliação de ESG nas organizações. O padrão GRI (um dos primeiros), CDP, Instituto Ethos, SASB são alguns exemplos conhecidos.

Como bem lembram professores do COPPEAD/UFRJ, investidores de peso que reconhecem ESG como estratégico para a manutenção saudável das empresas no mercado já têm conseguido assentos importantes em conselhos de administração de grandes organizações, clara demonstração de que o tema tem cada vez mais participação em decisões estratégicas de investimento. A leitura da Carta da BlackRock aos CEOs, de 2020, por Larry Fink, reforça essa visão de forma abrangente.

Para se ter ideia da importância de ESG em aspectos econômicos, já existem fundos que reúnem organizações reconhecidamente atuantes nestas práticas. Alguns deles, inclusive, com papeis com custos mais baixos para o emissor, dada a percepção e o desejo dos investidores em receberem menos no curto prazo em troca da compensação de poder observar projetos que melhorem a governança, protejam o meio ambiente, valorizem a sociedade e tenham maiores retornos no médio-longo prazos.

Torço para que nossa Head de ESG consiga abrir os olhos dos C-level da sua organização antes que seja tarde demais...

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