- Banco da Inglaterra descarta elevação emergencial de juros;
- Taxas dos títulos britânicos disparam em meio a um histórico “bear market”.
- Banco do Japão desafia tendência, mas queda do iene forçou intervenção.
O Reino Unido está imerso em uma profunda crise financeira, após um atabalhoado anúncio do novo governo, na sexta-feira, de que cortaria impostos e aumentaria a dívida pública, no momento em que o banco central do país enxuga seu portfólio de títulos governamentais.
A libra esterlina avançou em direção à paridade com o dólar e as taxas dos títulos britânicos dispararam, depois que o Banco da Inglaterra descartou, na segunda-feira, uma elevação emergencial de juros, afirmando que só avaliaria a situação em sua próxima reunião de política monetária em novembro.
Os investidores globais reagiram fortemente ao anúncio do governo da primeira-ministra Liz Truss e de seu ministro da economia, Kwasi Kwarteng, vendendo a libra esterlina e os "gilts”, como são chamados os títulos britânicos.
É bom ter em mente que ninguém elegeu essas pessoas. Com base nas intrincadas regras do sistema parlamentar do Reino Unido, uma nova primeira-ministra foi escolhida por menos de 200.000 membros do Partido Conservador, após o ex-mandatário Boris Johnson renunciar, pressionado por escândalos envolvendo festas em plena pandemia.
Truss, por sua vez, escolheu um antigo historiador econômico que, desde 2010, encontra-se no parlamento e integrava o gabinete de Johnson, para lançar um pacote de estímulo fiscal, no momento em que o país, juntamente com o resto da Europa, está à beira de uma recessão.
O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, evidentemente não demonstrou disposição em ajudar, diante da intensificação da crise na segunda-feira.
A crise no Reino Unido ofuscou a vitória amplamente esperada de um partido de extrema direita nas eleições italianas do último domingo. Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos da Itália finca raízes no fascismo italiano, deve ser tornar a primeira mulher do país a ocupar o cargo de primeira-ministra, prometendo, contudo, seguir uma linha moderada no governo.
As taxas do título de dez anos do governo italiano subiram para quase 4,7% após o pleito. Na sexta-feira, estavam em 4,3%. Mas a taxa do gilt de dez anos alcançou quase 4,3% na segunda-feira, após atingir mais de 3,8% na sexta, em comparação com menos de 3,4% na quinta, antes do desastroso anúncio de “miniorçamento” no dia seguinte.
A situação na Grã-Bretanha, onde a inflação deve atingir dois dígitos e talvez piorar com a desvalorização cambial, faz com que a situação no resto da Europa pareça menos tenebrosa.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, porém, alertou novamente, na segunda-feira, que a instituição elevaria os juros várias vezes nas próximas reuniões de política monetária, a fim de arrefecer a demanda e “se resguardar contra o risco de alta nas expectativas inflacionárias”.
O Bank of America (NYSE:BAC) já considera que a economia mundial esteja entrando em seu terceiro “bear market” histórico nos títulos, após 1899 a 1920 e 1946 a 1981. Um estrategista de mercado da França estima que os portfólios de títulos já se desvalorizaram 20% desde o ponto máximo.
O Banco do Japão, enquanto isso, recusa-se a se juntar aos outros bancos centrais no movimento de alta de juros. O presidente da instituição, Haruhiko Kuroda, anunciou, na semana passada, que a instituição manteria as taxas dos títulos de curto prazo em -0,1% e o rendimento do título de dez anos em zero.
O iene japonês se desvalorizou quase 30% contra o dólar desde o início de 2021 e continua em queda. O banco central teve que intervir nos mercados cambiais, na semana passada, pela primeira vez em mais de duas décadas, a fim de frear o declínio da moeda.
O Fed seguirá em frente com seu plano de elevação agressiva de juros até que a inflação recue de forma convincente. A nova presidente do Fed de Boston, Susan Collins, declarou, em seu primeiro discurso sobre política monetária, na segunda-feira, que havia sinais de que os aumentos de preços, por conta dos distúrbios na cadeia de suprimentos, estavam começando a ceder, mas o Fed deve seguir determinado em fazer a inflação convergir para sua meta de 2%.
Collins é uma integrante do Comitê Federal de Mercado Aberto com direito a voto neste ano. Seu discurso, amplamente considerado como flexível, ao dizer que ainda havia boas chances de evitar um “pouso forçado” da economia dos EUA, reflete a determinação do Fed de enfrentar a inflação.