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Na semana passada, eu descrevi um cenário negativo e preocupante. Após um terremoto de realidade abalar a confiança dos investidores, a questão que deixei no ar foi simples: o que acontece depois do desastre? O mercado aprenderia com os erros e buscaria um caminho mais seguro? A resposta que a semana nos deu foi, ao mesmo tempo, fascinante e profundamente perturbadora. A lição não foi aprendida. Pelo contrário, o mercado optou por ignorar os estragos.
O que vi foi um movimento espetacular de desvio de foco. Os investidores simplesmente varreram os escombros da crise de confiança para debaixo do tapete e começaram a construir um novo otimismo, ainda mais alto, exatamente sobre as mesmas fundações frágeis. Para aqueles que criticaram minha cautela, a semana pareceu uma vitória incontestável.
O Ibovespa não apenas se recuperou, como cravou um novo recorde histórico. O dólar voltou a cair, e os juros futuros cederam. Uma recuperação impressionante. Mas a pergunta fundamental permanece: por quê? Nossos problemas estruturais desapareceram? A crise de confiança foi resolvida? O risco fiscal evaporou? A resposta para tudo isso é um sonoro "não". A explicação para o que aconteceu é muito mais cínica e revela uma perigosa dependência que pode custar caro.
A primeira e principal desculpa veio de fora. Com o feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, a semana teve menos negócios e um humor mais leve. Wall Street subiu, e o mercado brasileiro, em sua total dependência do humor externo, pegou carona sem fazer perguntas.
A segunda desculpa foi uma ginástica mental para transformar dados medíocres em notícias espetaculares. Na quarta-feira, o IPCA-15, a prévia da inflação, veio em linha com o esperado. Não foi bom, não foi ruim. Foi "ok". Mas na cabeça de um mercado desesperado por boas notícias, "ok" virou motivo para comemorar.
O grande truque de mágica, no entanto, veio na sexta-feira, com os dados fiscais. O governo anunciou um superávit de R$ 32 bilhões em outubro. Fogos de artifício! Otimismo! O problema? No mesmo relatório, escondido nas letras miúdas que os eufóricos se recusam a ler, estava o dado que realmente importa: a nossa Dívida Bruta continuou subindo, atingindo 78,6% do PIB.
O mercado celebrou o gol, mas ignorou que o placar do campeonato continua desfavorável. Focou no dado mensal positivo e varreu para debaixo do tapete o problema estrutural do nosso endividamento crescente, o verdadeiro "alerta vermelho" que continua piscando.
E assim, a mágica aconteceu. A crise do Banco Master? Esquecida. O rombo do Grupo Mateus? Ignorado. O dado fraco da economia (o CAGED, que mede a criação de empregos, veio péssimo)? Relegado a uma nota de rodapé. Com o apoio de Wall Street e uma interpretação seletiva dos nossos próprios números, o Ibovespa voltou a subir, mais uma vez carregado pelos mesmos de sempre, Vale e Itaú, e cravou um novo recorde.
O que a semana nos mostra é que o mercado não está otimista com o Brasil. Ele está viciado em liquidez externa e em narrativas de curto prazo. A recuperação não foi baseada em uma melhora dos nossos fundamentos, mas na capacidade do mercado de se distrair com qualquer notícia positiva, por menor que seja, para não ter que encarar os problemas reais.
E o que esperar da semana que começa? A realidade, que foi convenientemente ignorada, voltará a bater na porta.
O grande evento será na quinta-feira, com a divulgação do nosso PIB do terceiro trimestre. Este será o teste de fogo. O número vai confirmar a fraqueza que os dados anteriores já mostraram, ou vai trazer uma surpresa positiva que valide a euforia? Além disso, na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, fará um discurso que pode ditar o humor dos mercados globais para o que resta do ano.
O novo castelo foi construído em tempo recorde sobre os escombros do antigo. Ele é mais alto, mas as fundações são exatamente as mesmas: areia molhada de otimismo externo e negação fiscal. A questão não é se uma nova onda virá, mas o quão forte ela precisará ser para derrubar a estrutura de vez.
É hora de entrar em AÇÃO!