O Brasil tem um contexto complexo visto que tem inflação controlada, juros baixos, risco CDS baixo, Reforma Previdenciária quase aprovada gerando desafogo fiscal, enfim, “casa” quase em ordem, mas ao governo faltam recursos para fomentar os investimentos, a economia precisa de incremento ao consumo, mas falta renda e há uma massa expressiva de desempregados, num ambiente em que o setor produtivo revela expressivo nível de capacidade ociosa que neutraliza a propensão a investir.
Há ainda uma forte resistência interna, especialmente pelos agentes do mercado financeiro, em sancionar a perda de atratividade atual do país, algo que tem sido evidenciado de forma contundente pelos investidores estrangeiros, por isso ainda há relativo otimismo “no ar”, mas o fato concreto é que o cenário prospectivo de curto prazo não sugere visão eufórica, mas sim bastante previdente pois sugere que a economia tende a estagnação e pode ir além do 2º semestre.
Sabidamente nem a Reforma da Previdência, nem a Reforma Tributária, ambas de relevante importância, terão capacidade de gerar recursos para o governo implementar os investimentos públicos estruturais imperativos, sendo que a “janela para tanto” está focada nas privatizações, mas, embora reconhecidamente necessária, não há dúvida que a judicialização das iniciativas do governo pelos setores corporativistas e nacionalistas será dantesco, e isto postergará as decisões.
O quadro é bastante complexo para que se vislumbre uma forma concreta de fomentar em espaço menor de tempo o ressurgimento da tração indispensável da economia brasileira, após mais de 5 anos de retrocesso econômico e descontroles orçamentários.
Na realidade a visão prospectiva mais imediata é de que a economia “irá seguir patinando”, o que não enseja grande impulso para a Bovespa, que tenderá a refletir as iniciativas de investimentos nacionais, mas que não conseguirão prover tendência sustentável.
Juro baixo não atrairá investidores estrangeiros, mas certamente está promovendo uma mudança significativa no comportamento do empresariado brasileiro demandador de empréstimos/financiamentos externos, que passaram a demandar crédito internamente em detrimento dos de origem externa, e isto acaba repercutindo no fluxo cambial para o Brasil, pois resulta em movimento inverso, pois também cessam as rolagens, e é uma das causas do fluxo cambial negativo financeiro de US$ 16,9 Bi até o último dia 19 deste mês.
Estreitamento entre juro interno e externo inibe o capital especulativo e assim este relevante fluxo habitual para o Brasil está sendo descontinuado e, naturalmente, reflete no fluxo cambial.
Diferenças estreitas de juro interno e externo e fluxo cambial negativo acabam por refletir no mercado de cupom cambial, e como consequência pressionar a formação do preço no mercado à vista, e, caso haja menor acesso dos bancos às linhas externas, o BC terá que agir mais prontamente, até com operações fora do seu “cardápio trivial”.
O quadro também pode impulsionar saídas de recursos externos investidos no mercado financeiro, não rigorosamente por “aversão ao risco”, o CDS do Brasil está baixo, mas pela perda de atratividade no curto prazo.
O país tem uma situação absolutamente tranquila nas suas contas externas e no déficit de transações correntes, mas há aspectos circunstanciais, não especulativos como aconteceram ao longo do primeiro semestre, que podem impactar na formação do preço da moeda americana, provocando a depreciação do real, mesmo em ambiente que o dólar esteja se fragilizando no mercado global.
O fluxo cambial do Brasil está negativo líquido no ano em US$ 8,0 Bi, até o dia 19, e somente para melhor percepção no ano de 2018 neste mesmo período estava positivo em US$ 27,0 Bi, ou seja, uma diferença para pior de US$ 35,0 Bi, o que não é pouco, e pode ter aumentado já ao início desta semana quando houve movimento forte de saídas no mercado à vista.