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Precisamos Falar de Eletrobras: Metendo a Mão (Invisível) no Setor Elétrico

Publicado 24.02.2021, 12:16
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Em alguma medida, este Day One é uma continuação daquele de segunda-feira, de título: “Precisamos falar de Petrobras”. Críticas aos erros, elogios aos acertos, tal como deve ser. Simples assim. 

Naquela oportunidade, comentando a troca intempestiva de presidente da petroleira, escrevi: 

“Vejo dois caminhos possíveis. 

No primeiro, convivemos com intervencionismos pontuais, medidas populistas sucessivas, mas razoavelmente brandas, acompanhadas de pequenas aprovações de medidas de controle fiscal. Reformas microeconômicas e, quem sabe, a administrativa e uma ou outra privatização isolada.

No outro, encampamos de vez o populismo e intervenções supostamente keynesianas, talvez aqui até com a eventual saída do ministro Guedes, que, por mais ciente da responsabilidade e dos desdobramentos de sua demissão, não compactuaria com a completa estupidez da gestão da política econômica. Todos têm seus limites.”

Entendia que a definição entre um e outro estava sujeita aos desdobramentos dos dias e semanas seguintes. Estávamos — e ainda estamos — “data dependent”. Como o próprio ministro Guedes tem dito, “os próximos dias serão decisivos”. 

Condicionado às informações disponíveis, resumi minha visão da coisa:

“Ainda não há na mesa todas as informações disponíveis para decidirmos entre um e outro cenário. O futuro insiste em ficar no futuro, impermeável. Por ora, parece-me que algo mais perto do primeiro panorama, com algumas pinceladas do segundo, é o caminho mais provável.”

Com efeito, tivemos na noite desta terça-feira um passo material no sentido da confirmação do primeiro cenário. Ainda bem.

O presidente Jair Bolsonaro editou Medida Provisória para tratar do processo de capitalização e privatização da Eletrobras (SA:ELET3). O texto permite o início dos estudos de modelagem da privatização pelo BNDES e contém detalhes importantes do percurso, como a inclusão da prorrogação por 30 anos da usina hidrelétrica de Tucuruí (da Eletronorte), que sempre foi considerada um milestone relevante para a desestatização de Eletrobras. 

Não mantenho expectativas ingênuas. Trata-se apenas de um primeiro movimento, ainda sem materialidade. Há muito a se fazer até a real privatização da companhia, numa construção complexa no Congresso e riscos de concessões excessivas a atores políticos. Contudo, toda longa caminhada começa pelo primeiro passo. Sintetizaria meu sentimento neste momento como um otimismo cético. 

Existe um simbolismo importante na decisão, em seu momento e em sua forma.

A medida vem como uma resposta célere às dúvidas quanto a uma total guinada intervencionista do governo Bolsonaro. Ela demonstra que, ao menos em alguma medida, ainda corre entre as veias certo teor liberal, ainda que possamos questionar se não está cada vez mais diluído pelo caráter etílico do populismo. 

Reitero meu antagonismo combativo às visões maniqueístas, que estabelecem uma luta entre o bem (liberalismo) e o mal (intervencionismo), como se o governo fosse só uma coisa ou outra. Existem cinquenta tons de cinza entre eles. Haverá momentos em que o pêndulo virá mais à esquerda, com o típico populismo intervencionista; e outro em que ele retornará à direita liberal e fiscalista. O governo é ambivalente e alterna momentos. Bolsonaro estica a corda, testa limites. Com nosso típico hábito de dançarmos à beira do precipício, o histórico aponta que tendemos a nos afastar dele depois de cada escorregão. O capitão corajoso que morre de medo da greve dos caminhoneiros e da alta do dólar ao mesmo tempo. Morde e assopra, acenando para um e depois para o outro. E assim vamos caminhando, aos trancos e barrancos, sem estourar nosso cercadinho. Evitamos a Argentina, mas também o Chile e o Peru, ficando na velha complacência macunaímica e antropofágica de sempre. Entraremos em 2022 com exatos cem anos de atraso, ainda sob os mesmos lemas daquela Semana de Arte Moderna de 1922… fazer o quê? 

A MP é obviamente muito positiva para a Eletrobras, que ganharia eficiência, recuperaria sua capacidade de investimentos e estaria blindada de interesses não republicanos típicos de gestões estatais — ela sempre foi um reduto do (P)MDB, mais especificamente do Sarney; e podemos imaginar as motivações altamente técnica$ desse clã em acumular diretorias numa estatal. 

Também é positiva para o setor como um todo, que ganha em eficiência e oferece múltiplas possibilidades de crescimento. Ativos ineficientes em gestões estatais podem virar pequenos tesouros em boas administrações privadas. Cemar (SO:EQMA3B) e Equatorial (SA:EQTL3) representam talvez o exemplo mais emblemático. Equatorial, inclusive, pode ser uma das grandes compradoras de ativos da Eletrobras. Não me surpreenderia também se Eneva (SA:ENEV3) (aqui já pensando meio fora da caixa) pudesse morder uma coisa ou outra. E Coelce (SA:COCE5) pode ser também alvo de evento societário — a tentativa anterior de a Enel (MI:ENEI) fechar o capital da companhia esbarrou justamente na posição da Eletrobras. A privatização da empresa abriria espaço de novo para uma tentativa nesse sentido, pagando algo como 2 vezes EV/RAB; e então teríamos a ação valendo R$ 90, com cerca de 90% de potencial de valorização, sob baixo downside, posto que negocia hoje perto de 1 vez EV/RAB.

E é positiva para o Brasil como um todo. Voltamos a afastar o risco de cauda, de um completo abandono da agenda liberal, fiscalista e privatizante. Movimento importante de sinalização para o mercado e para investidores internacionais do lado real da economia. Cai o dólar, derruba o juro longo, volta a confiança (ao menos na margem). Todos ganham.  

Além da materialidade do movimento, há uma representação importante. A primeira no fato de o próprio presidente ter ido pessoalmente ao Congresso levar a MP. Isso demonstra o apoio pessoal à temática. Para privatizar a Eletrobras, precisa haver empenho e priorização, tanto do Executivo quanto do Congresso. Nesse contexto, não poderia haver gesto melhor até aqui (de novo: embora seja um gesto preliminar). 

Outro símbolo foi o fato de ter vindo via MP, não via PEC ou Projeto de Lei. Assim temos um horizonte temporal de 120 dias para tratar do tema. Ou seja, é rápido e focado. Para o mercado, dá previsibilidade e tangibilidade.

Se Bolsonaro pretendia meter a mão no setor elétrico, ao menos até aqui ele optou pelo caminho correto nesse escopo ao permitir a atuação da mão invisível de Adam Smith. Entre o passado estatista e a autoproclamada conversão liberal de campanha, registramos um passo na segunda direção. O Brasil respira.

Últimos comentários

O senhor votou no atual governo?
gostei de explanação.
obrigado Felipe.. só fazer o inverso que vc recomenda que será lucro certo. kkkkkkkk
Enquanto houver burro, haverá carroça. Principalmente de publicidade...
Quando vejo a Empiricus o que me vem a mente é a Betina e seu primeiro MILHÃO.
O sábios estão cheios de duvidas enquanto os tolos cheios de certezas, não sou o maior fã do Felipe, mas o pessoal parece querer ler textos prontos dizendo exatamente a receita do bolo, com respostas simples para coisas amplas, e isso não existe no mundo do investimento.  O Brasil vive uma paradoxo constante entre o caminho certo e o errado,  um passo para frente e 2 para atrás e vice versa, etc. Como colocou o Felipe.
Penso quase exatamente da mesma forma, exceto pela parte do autor negar a obrigatoriedade de liberalismo ser sinõnimo de bem e intervenção não ser obrigatoriamente algo ruím. Neste exato momento para o país, acho que são sinônimos sim.
Olha quem defende cada argumento e veja as falas, você esceveu um puta texto e muita gente nem lê
Esse daí é fera, ação que rendeu menos dele nos últimos cinco anos rendeu 15000%, dizem até que ele foi o mentor do ports trader, pra vocês terem noção do "fenomeno". "Esse será o quinto boom da bolsa brasileiro, acredito em 300k no final de 2021" Miranda, Felipe Fev. 2020... "no fundo poço tem um alçapão..." Miranda, Felipe Março de 2020.
Empiricus ??? To fora!
Podia ter resumido em algo do tipo: "Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder."
kkkk
Dilmou.
bem isso mesmo
A realidade é esta, temos que avançar a conta gotas, alguns paises como a China o slogan foi 100 anos em 20 e nós preferimos 20 anos em 100....!!!! Depois a culpa é do Felipe por ser pragmático e tentar ler o que o capitão vai fazer ou mais provavelmente não fará. Estamos completando mais uma década perdida, onde praticamente não crescemos e parece que ficaremos contentes se crescermos 2% ao ano na próxima..... Somos assim de ambiciosos
felipe miranda, voce é um lixo! sua casa de analise é um lixo! logo seus comentarios sao um lixo
texto cheio de "firulas" mas de pouco conteúdo. tipo o Ronaldinho Gaucho na copa de 2006, fintas acrobáticas mas sem gol
Um texto a moda do Sr. Temer, usando um "monte de coisa bem escrita", com raciocínio pomposo para dizer tão pouco.
Quando o General desratizar a Petrobras e elevar o valor dela, sera que o “especialista” avima vI dizet que macunsima ajudou? Kkkk
Perfeito. Só acho que "ficando na velha complacência macunaímica e antropofágica de sempre" foi um tom totalmente destoado da mensagem (se é que o "vetor" da opinião que eu entendi era o que o autor queria dizer).
excelente texto!
Mais um pessimista, torcedor do desastre.
Bom texto parabéns, coerente em prol de um Brasil melhor, sem fanatismos.
O pai da Betina! Com mais uma oportunidade de uma vida! Que se der certo vira propaganda,,, e se der errado será apagado dos anais do universo bursátil,,, Impressionante como ainda tenta chamar atenção, mesmo que de uma forma aberrante, como uma lombriga de pentelhos,,, com um artigo vazio de inteligência, mas cheios de símbolos para se disfarçar como tal...
Falou TUDO!!!
As expectativas também eram grandes em torno do mega-leilão do pré-sal
Doutor, temos um problema, os bolsonaristas apoiam o ultraliberalismo-guedista, mas quando Bolso fez aquela intervenção na Petrobrás, os mesmos ficaram aliviados com a tendência de mudanças na políticas preços dos combustíveis, ou seja, a dilmização do desgoverno na ecomomia. Dentre outras coisas até calote os caras defenderam.
Muito bem escrito !
Mais um ótimo texto.
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