A taxa do título de 10 anos do Tesouro americano disparou mais de 20 pontos-base (pb) na segunda-feira, subindo para 3,37%, com os investidores apostando que o Federal Reserve terá que ser mais agressivo em relação aos juros.
Além da alta de 50 pontos-base esperada para esta semana e em julho, começa a formar-se um consenso de que será necessária uma quarta alta dessa magnitude em setembro.
O rendimento do título de dois anos, que rastreia a taxa básica definida pelo Fed mais de perto, também subiu forte, alcançando 3,28% no fim do pregão. Em determinado momento, a taxa de dois anos superou a de dez, fenômeno conhecido como inversão da curva de juros, que pode sinalizar uma recessão caso se prolongue.
O evento não durou muito tempo, já que a taxa de dez anos continuou subindo rapidamente para restaurar uma trajetória mais normal da curva de juros.
Mas os investidores inquietos estão claramente esperando o pior, já que a inflação não mostra qualquer sinal de arrefecimento no futuro próximo. O IPC geral, divulgado na semana passada, acumulou alta de 8,6% no ano até maio, e de 1,0% no mês. O núcleo do IPC foi de 6,0% no ano e 0,6% no mês.
A Barron’s calcula seu próprio IPC Básico com grande participação de alimentos, moradia, gás e serviços de utilidade pública, muitos dos quais são deixados de fora no núcleo do IPC. O número da empresa mostrou que os preços subiram 17% no ano e 2,5% no mês, taxas horríveis contra as quais as elevações de juros do Fed pouco podem fazer.
As afirmações de que o pico da inflação já ocorreu estão se mostrando tão confiáveis quanto aquelas a respeito do pico do petróleo, de modo que os investidores fazem bem em continuar céticos.
Mercados europeus derretem; taxas sobem
Os investidores de ações e títulos da Europa também foram tomados pelo medo de recessão. A liquidação de segunda-feira atingiu ambos os mercados, com as ações caindo mais de 2% e as taxas dos títulos de economias mais fracas subindo com mais força.
A taxa do título de 10 anos da Itália superou 4% pela primeira vez desde 2014, ampliando o diferencial em relação à taxa de 10 anos da Alemanha para 240 pb, o maior desde maio de 2020.
Também aumenta a expectativa de que o Banco Central Europeu eleve os juros. Depois de se preparar para apenas algumas elevações de 0,25 pontos-base neste ano, com base nas projeções do BCE, os investidores agora esperam 125 pb de alta até outubro e possivelmente duas altas de 50 pb em julho e setembro, bem como outra de 0,25 pb em seguida.
Isso vai de encontro com as projeções da presidente do BCE, Christine Lagarde, na semana passada, mesmo tendo demonstrado mais rigidez do que seus pronunciamentos anteriores, quando afirmou que não seria necessário realizar várias elevações de juros na Europa.
Os investidores também estão preocupados com a falta de qualquer política de suporte aos títulos, principalmente os das economias mais fracas. O atual programa de novas compras de títulos está chegando ao fim, encerrando um apoio aos papéis governamentais que remonta a 2014.
O resultado deve ser uma ampliação ainda maior dos diferenciais, com a perigosa fragmentação que isso representa. Na segunda-feira, a Itália torpedeou um plano do chefe do Eurogrupo, Paschal Donohoe, ministro da fazenda da Irlanda, no sentido de estabelecer um teto para as carteiras de títulos governamentais dos bancos. A Itália está particularmente vulnerável nesse quesito.
As taxas dos títulos do governo da França também subiram na segunda-feira, após o primeiro turno das eleições legislativas indicar que o presidente Emmanuel Macron pode não obter maioria no parlamento. Com base nos resultados do primeiro turno, a aliança centrista de Macron poderia vencer de 260 a 295 assentos, sendo que são necessários 289 para a formação de uma maioria.
A aliança esquerdista rival, liderada por Jean-Luc Mélenchon, pode obter de 160 a 210 assentos, mas os resultados concretos do segundo turno, no próximo domingo, dependerão do voto direto em candidatos em cada distrito. O título de 10 anos da França subiu 15 pb na segunda-feira, para 2,24%.