Publicado originalmente em inglês em 24/11/2020
A emissão de títulos da China denominados em euros, na última quarta-feira, encontrou forte demanda, recebendo €18 bilhões de intenções de compra para uma oferta de €4 bilhões em títulos de 5 anos, que apresentou rendimento negativo pela primeira vez.
Na condição de única grande economia com previsão de crescimento neste ano em meio à pandemia de Covid-19, a China tem recorrido aos mercados internacionais com mais frequência, já que os investidores mostram cada vez mais interesse em ter exposição à sua economia. A previsão é que o PIB da China cresça cerca de 1,9 a 2% neste ano.
Diversificação além do USD
Pequim emitiu seu primeiro título denominado em euros no ano passado, quando levantou €4 bilhões. No mês passado, o país vendeu US$ 6 bilhões em títulos, elevando seus empréstimos totais em dólares nos últimos quatro anos para US$ 27 bilhões. Mas as emissões em euros têm papel crucial, já que a China quer diversificar seus empréstimos para além do dólar.
Na venda da semana passada, os €750 milhões em notas de cinco anos registraram rendimento negativo de 0,15%, que pode parecer baixo, mas é melhor do que o rendimento de -0,75% dos títulos de cinco anos da Alemanha.
A China não tinha muita segurança em relação ao rendimento negativo, mas os banqueiros dizem ter trabalhado duro para convencer as autoridades. Os investidores europeus, de sua parte, estão bastante familiarizados com esse fenômeno.
Os €2 bilhões em títulos de 10 anos da semana passada e de €1,25 bilhão em papéis de 15 anos registraram rendimentos positivos de 0,318% e 0,664% respectivamente.
Os papéis de 5 a 10 anos foram comprados principalmente por bancos centrais e fundos soberanos, de acordo com reportagens. Os títulos de 15 anos foram comprados por gestores de ativos, fundos de pensão e seguradoras.
Os estrangeiros também têm comprado dívida denominada em iuanes chineses, na medida em que os principais índices começaram a incluir os títulos. Os titulares dos papéis chineses detêm cerca de 3 trilhões de iuanes, o equivalente a quase US$ 460 bilhões.
O ministro de finanças da China sem dúvida não se mostrou avesso à ideia de tirar vantagem das taxas de juros negativas do euro.
O atual rendimento dos títulos de 10 anos em iuanes é de cerca de 3,3%, um múltiplo de 0,318% em relação ao mesmo papel denominado em euros na semana passada.
A oferta chinesa ocorreu com o nervosismo dos mercados de títulos como pano de fundo. As notícias positivas sobre as vacinas de covid-19 neutralizaram as notícias negativas sobre a expiração do crédito emitido pelo Federal Reserve nos EUA e maiores atrasos no pacote de recuperação da UE, devido a vetos da Hungria e Polônia.
Os treasuries subiram depois da forte queda pós-eleição em 3 de novembro, mas estão longe de níveis estratosféricos. A incapacidade de republicanos e democratas no congresso aprovarem um estímulo fiscal está pressionando muito o Fed a aumentar as compras de títulos. A perspectiva de maiores aquisição de ativos pelo BCE, que deve ser aprovada em dezembro, está mantendo a pressão sobre os rendimentos dos títulos governamentais da zona do euro.
O título de 10 anos da Alemanha está novamente flertando com rendimentos perto de -0,60%.
Se bem que os ensaios clínicos das vacinas estejam emitindo um sinal de luz no fim do túnel, as autoridades do Fed preveem um ambiente bastante volátil nos próximos meses. Os imbróglios envolvendo os resultados das eleições nos EUA – principalmente dois segundos turnos para o Senado na Geórgia que podem determinar o controle da casa e impedir que os republicanos freiem as iniciativas dos democratas – tornam as perspectivas de um pacote de estímulo ainda mais prováveis.
As notícias de um terceiro ensaio bem-sucedido de vacina da AstraZeneca impulsionaram os rendimentos dos treasuries na segunda-feira, com o título de 10 anos subindo levemente para 0,85% diante do otimismo de que os imunizantes podem estar disponíveis já em dezembro.
Para aumentar ainda mais o apetite do mercado para o risco, o presidente eleito Joseph Biden disse que nomearia a ex-presidente do Fed , Janet Yellen, como secretária do tesouro.
A publicação da ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto, no fim desta semana, pode dar indicações das intenções do Fed em relação às aquisições de ativos.