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França: Uma Corrida Ideológica à Presidência

Publicado 22.02.2017, 10:35

Ultimamente, os olhos da mídia mundial têm observado com bastante carinho a eleição francesa que ocorrerá em abril e, caso haja segundo turno, em maio. Muitos brasileiros desconhecem como isso pode afetar o mundo. A França está entre as principais economias do planeta, e sua política externa acaba sendo muito importante para o funcionamento do mundo globalizado. Diante disso, o estudo dos possíveis candidatos franceses e as consequências das eleições para a França e o resto do mundo passam a ter relevante importância.

Antes de introduzir as ideias dos principais candidatos, torna-se fundamental destacar alguns aspectos do regime vigente na França. O país, atualmente, é uma república semipresidencialista, ou seja, possui a presença de um presidente e de um primeiro-ministro. Diferentemente de outros países semipresidencialistas – onde o poder do primeiro-ministro se sobrepõe em quase todos os aspectos ao do presidente – na França, o presidente tem muitas atribuições, dentre as quais está a função de nomear o próprio primeiro-ministro do país.

Atualmente, o país é presidido por François Hollande, eleito pelo Partido Socialista, mas que é visto como um dos piores líderes da história, amargurando ínfimos 4% de aprovação pela população francesa. Diante disso, o mesmo nem quis tentar uma reeleição, tendo sido alvo de críticas de seu próprio partido. A começar pelo atual candidato do partido, o socialista assumido Benoît Hamon, que acusa Hollande de desvirtuar os ideais partidários, tendo adotado uma postura econômica pró-mercado e causado, por isso, a rejeiçao de muitos franceses simpatizantes da causa socialista.

Ao analisar as propostas de Hamon, percebe-se que quer representar esses ideais partidários. Para isso, pretende reduzir a jornada semanal de trabalho de 35 para 32 horas; cobrar tributações sobre robôs, uma vez que acredita que, em poucos anos, grande parte da população terá essas máquinas e isso causará mais desemprego; e implementar uma renda básica universal de cerca de 800 euros para jovens entre 18 e 25 anos, independentemente de seu salário pessoal ou familiar. Apesar de fazer brilhar os olhos socialistas, os franceses não parecem muito empolgados com essas propostas, e Hamon vem ocupando as últimas colocações das pesquisas de intenção de voto, atrás de François Fillon, Marine Le Pen e Emmanuel Macron.

Fillon é um político filiado ao Les Républicains e ocupou o cargo de primeiro-ministro da França durante o governo de Nicolas Sarkozy (2007 a 2012). O candidato se diz admirador dos ideais econômicos de Margaret Thatcher – ex-primeira-ministra britânica que ocupou o cargo entre 1979 e 1990 e prometeu acabar com 500 mil empregos do setor público, cortar gastos do governo, reduzir impostos e acabar com o poder dos sindicatos. Socialmente conservador, manifestou-se a favor de valores religiosos católicos, se opondo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e a permissão de adoção de crianças concedidas a homossexuais. Em alguns debates, defendeu que a identidade francesa deve ser protegida, uma vez que não são uma nação multicultural.

O candidato vinha tendo destaque nas pesquisas, sendo apontado com chances de vitória, até que foi envolvido em um escândalo de corrupção. Fillon foi acusado de empregar sua esposa e dois de seus filhos, pagando-lhes salários acima do normal. Empregar familiares, na França, não é ilegal para políticos. O grande problema é que a esposa do conservador disse, em uma entrevista anos atrás, que nunca tinha sido assessora de seu marido. Isso levantou as suspeitas sobre o candidato, que se recusou a desistir das eleições. Sua popularidade despencou, enquanto um candidato independente crescia nas pesquisas.

Trata-se de Emmanuel Macron, o mais jovem dos candidatos, com 39 anos de idade, que trabalhou em um banco de investimentos e foi ministro da economia durante parte do governo de Hollande, tendo renunciado para dedicar-se à sua candidatura. Por não fazer parte de nenhum partido, criou seu prório movimento, o “En Marche” (em português, algo similar a “em movimento”), que vem atraindo simpatizantes e pode vir a se tornar efetivamente um partido no futuro. O candidato liberal tem sido acusado de impreciso quanto às suas propostas, uma vez que não apresentou um plano de governo concreto. Em algumas declarações, chegou a dizer que se acha apto a unir o povo francês e tem intenção de reviver a economia francesa, estimulando a inovação das pessoas e empresas, cortando burocracias e afrouxando as duras leis trabalhistas existentes na França. Em relação à segurança e à educação, prometeu aumentar o orçamento de defesa nacional para 2% do PIB, contratar mais policiais e aumentar a verba para educação. O candidato é visto como uma possível chance de recuperação para a União Europeia (UE), tendo manifestado intenção em reformar o bloco.

Por último, surge Marine Le Pen, filiada à Frente Nacional, partido nacionalista de direita pelo qual seu pai foi candidato à presidência em 2002. A candidata, classificada pela mídia como de extrema-direita, adotou propostas que fazem jus à característica nacionalista de seu partido. Suas ideias estão diretamente ligadas ao aspecto social, não dando tanto destaque a sua política econômica, que foi classificada de vaga por parte da mídia. Le Pen enaltece o povo francês, prometendo tributar importações e contratos de trabalho oriundos de outros países, reduzir a idade de aposentadoria, aumentar benefícios sociais e diminuir o imposto de renda. Planeja restringir a entrada de imigrantes na França, expulsando os ilegais e adotando um discurso de combate ao islamismo, além de ser a favor de uma educação gratuita para o povo francês. A vitória de Le Pen poderia significar um “Frexit”, saída da França da UE, seguindo o caminho da Inglaterra.

Dentre os candidatos citados, Le Pen chegou a ser favorita, mas as pesquisas apontam o significativo crescimento de Macron, chegando a dizer que este derrotaria a nacionalista no segundo turno, que ocorrerá em maio. Considerando que as propostas dos dois divergem em diversos aspectos, fica difícil afirmar qual será a política externa do país após as eleições, principalmente no que diz respeito à UE e aos imigrantes islâmicos. Por enquanto, nos resta torcer para que o povo francês faça uma boa escolha e que a nação colha bons frutos nos próximos cinco anos.

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