Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores rurais de todo o Brasil aproveitaram uma combinação favorável nesta semana de bons preços internacionais da soja e dólar relativamente alto para fechar negócios com entrega do grão já para 2017, em um movimento recorde de vendas antecipadas, disseram operadores e analistas.
Nos cálculos da consultoria Informa Economics FNP, os negócios fechados para a nova temporada já alcançam entre 16 e 17 por cento da colheita potencial futura, algo nunca visto nesta época do ano, um bom indicador para a próxima temporada. Um ano atrás, o índice de comercialização da safra futura era de 4,2 por cento.
O primeiro contrato da soja na bolsa de Chicago tocou, no início da semana, a máxima desde julho de 2015. Já o contrato de soja com vencimento em março de 2017, que ajuda a balizar os negócios a médio prazo, atingiram o maior patamar em 16 meses, na esteira de notícias de problemas na safra da Argentina.
Ao mesmo tempo, o dólar recuou de máximas históricas vistas em janeiro, mas é negociado esta semana na faixa de 3,50 reais, 13 por cento acima do patamar visto um ano atrás.
"Saiu um bom volume (de negócios) essa semana. As cooperativas e cerealistas compram dos produtores e vendem no porto", disse o analista Mário Sperotto, da corretora Agrisoy, de Porto Alegre.
Segundo ele, muitos produtores buscam fechar negócios para garantir principalmente uma boa taxa de câmbio.
"Há poucas semanas estávamos com o dólar na casa de 4 reais. Hoje está na casa de 3,50 reais, mas a expectativa do mercado financeiro é de queda num médio prazo", afirmou Sperotto.
A soja da temporada 2015/16 acaba de ser colhida nas principais regiões do país e a maior parte dos negócios ainda é realizada envolvendo grãos disponíveis no mercado físico, que também é favorecido pela boa combinação entre preços em Chicago e câmbio.
As vendas de soja disponível estão atualmente em 65,3 por cento do volume total colhido este ano. Doze meses atrás, esse índice era de 55,8 por cento, segundo a Informa FNP.
Já a safra 2016/17 será semeada apenas no segundo semestre deste ano e colhida nos primeiros meses do ano que vem.
"Onde a venda para 2017 está mais antecipada é em Goiás, Mato Grosso, e na Bahia, Piauí e Maranhão. Notou-se um fluxo mais significativo de vendas", disse o analista de grãos da Informa Aedson Pereira.
Segundo ele, o índice de comercialização antecipada em algumas importantes regiões de Mato Grosso chega a 30 a 35 por cento da safra futura. Em Goiás, 20 a 25 por cento.
"Os negócios estão rodando. O produtor está aproveitando para travar os pacotes", disse o gerente da unidade de originação de uma trading multinacional no norte de Mato Grosso, referindo-se a insumos como fertilizantes, sementes e defensivos que muitos agricultores negociam em contratos de troca conhecidos também como "barter".
Na direção contrária da oleaginosa, os preços dos fertilizantes caíram nos últimos 12 meses no mercado internacional, melhorando a relação de troca para os agricultores. Os fertilizantes nitrogenados, por exemplo, acumulam queda de 16 por cento desde maio de 2015.
PATAMARES ELEVADOS
Na terça-feira, houve negócios a 90 reais por saca (CIF) no porto de Rio Grande, com entrega em março ou abril de 2017, segundo dados da XPF AGRO Corretora, de Passo Fundo (RS).
"Em se tratando de negócio a termo, com entrega e pagamentos futuros, é o primeiro que fecho nesse patamar em 7 anos", disse o corretor Adelson Gasparin, da XPF. Doze meses atrás, negócios para entrega em abril/maio de 2016 foram fechados a 73,50 reais por saca.
Em Santos (SP), principal porto exportador de grãos do país, a situação não é diferente. Houve negócios este semana a 82,50 reais por saca com entrega em abril de 2017. Na mesma época do ano passado, a safra 2015/16 era negociada a 77 reais.
"Em plena safra, são preços ótimos", destacou o corretor Luciano Marques, da Gama Corretora, de Santos.