Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff avança em um momento crucial de definição governamental dos recursos e juros de financiamento do Plano Safra 2016/17, mas representantes do agronegócio avaliaram nesta segunda-feira que o programa terá encaminhamento dentro do governo federal, apesar das incertezas geradas pela crise política.
O setor do agronegócio, de maneira geral, posicionou-se a favor do impeachment da presidente. Independente disso, diante dos problemas políticos e das dificuldades do governo para equilibrar as suas contas, não há grandes expectativas de aumento nos recursos ou de juros mais favoráveis.
"A nossa visão é a seguinte: o Brasil não é uma república de bananas... disseram que estamos fazendo golpe, mas tem um processo institucional... Do mesmo modo, o Estado está aí, tem uma série de regramentos que não mudam da noite para o dia", afirmou o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Junqueira, em entrevista à Reuters.
O plano anterior teve volumes recordes de 187,7 bilhões de reais, anunciados em junho do ano passado, mas com uma maior oferta de financiamentos a juros livres de mercado.
Incertezas sobre aquele plano, ao longo do primeiro semestre de 2015, além de atrasos na antecipação de recursos, travaram muitos negócios de aquisição de máquinas e insumos para a nova safra, numa prova da grande relevância das linhas de crédito oficiais para a agricultura do Brasil.
Segundo Junqueira, os compromissos são estabelecidos com o Banco do Brasil (SA:BBAS3), o principal financiador do agronegócio, e com os ministérios do Planejamento e da Fazenda, enquanto a pasta da Agricultura aponta as necessidades de recursos ou eventual mudança na alocação.
"Entendo que esse processo já está encaminhado, então todas as discussões já estão sendo feitas. Imagino que ninguém vai jogar tudo isso para cima, assumindo que a ministra (Katia Abreu) é senadora e que a bancada do agronegócio tem bastante força", acrescentou.
Ele ressaltou ainda que, na atual condição econômica, não há expectativa de um juro controlado mais baixo em 2016/17.
CONFIANÇA EM KATIA
Já o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga, teme pelas consequências de uma presidente "desalojada do poder", caso Dilma venha a ser afastada do cargo enquanto o processo de impeachment se desenrola, mas ele acredita a ministra Katia Abreu deve garantir a liberação do plano.
"É uma situação complicada para o agronegócio, para toda a economia, mas para o agronegócio é mais ainda, porque tem um calendário (de plantio). A gente tem esperanças de que a ministra Katia, comprometida com o agronegócio, vai conseguir liberar o plano safra dentro de determinados parâmetros", disse Alvarenga, lembrando que Katia Abreu está apoiando Dilma Rousseff.
Já a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que, considerando que o assunto é de grande importância para o país, terá encaminhamento satisfatório.
"É um tema exclusivamente técnico, esperamos que seja priorizado... É lógico que depende de negociações políticas, mas tem 90 por cento do plano que é possível tocar no âmbito técnico", afirmou o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, lembrando que o presidente da instituição, que se posicionou também a favor do impeachment, pediu para que todas demandas sigam sendo enviadas ao governo.
Na semana que vem, a CNA espera apresentar todas as demandas ao Ministério da Agricultura. Lucchi não entrou em detalhes sobre os valores.
Já a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) avalia que, apesar do "vazio" que pode acometer o governo durante a crise política, o setor contou este ano com uma espécie de colchão dos recursos do pré-custeio, que somaram 10 bilhões de reais, liberados em fevereiro.
"Este ano tem um atenuante que foi o pré-custeio... Tanto que a compra de insumos foi bem, em março foi bem, pelo menos o insumo está sendo comprado", disse o diretor-executivo da Abag, Luiz Cornacchioni.
Ele afirmou ainda que há esperança de que, por ter havido o pré-custeio, o agricultor chegue com um pouco mais de caixa para feiras de equipamentos agrícolas como a Agrishow, de Ribeirão preto, no final deste mês, apesar da crise.