Por Walter Bianchi
BUENOS AIRES (Reuters) - A Argentina planeja multiplicar o uso de etanol em combustíveis em 2017, como parte de sua política de diversificação da matriz energética, disse um executivo da câmara de bioetanol de milho, que participou de conversas com o governo de centro-direita que assumiu em dezembro.
O país sul-americano --um dos maiores exportadores mundiais de grãos-- sofre com um grave déficit energético há anos, que pode ser atenuado em parte com o uso de biocombustíveis. Atualmente, vigora uma mistura obrigatória de etanol e biodiesel nos combustíveis comercializados localmente.
"O plano do governo de Mauricio Macri é elevar a mistura do etanol com combustível dos 12 por cento atuais até um limite de 26 por cento, seguindo a política que o Brasil leva adiante há décadas", disse à Reuters o diretor-executivo da Cámara de Bioetanol de Maíz, Patrick Adam.
Recentemente, a Argentina subiu 2 pontos percentuais a mistura, o que representa cerca de 170 mil metros cúbicos adicionais que serão fornecidos por uma indústria açucareira que sofre há anos devido aos preços baixos internacionais.
"A intenção é aprofundar as porcentagens, o caminho é esse", disse um porta-voz do Ministério de Energia, que ressaltou que, de toda maneira, ainda não estão definidos os prazos nem as porcentagens nos quais crescerá o uso do bioetanol.
A mistura de 12 por cento implica em uma produção de mais de 1 milhão de metros cúbicos anuais de etanol, que pode ser produzido a base de cana ou a partir do milho.
"Um aumento a 26 por cento, por exemplo, nos faria duplicar nossa produção atual e investir 400 milhões de dólares, já que há uma enorme e crescente disponibilidade de matéria-prima para seguir crescendo", ressaltou Adam.
Diversos analistas têm alertado que haverá um forte aumento na produção do cereal devido a eliminação dos impostos e das restrições para a exportação de milho após o presidente Mauricio Macri assumir o cargo.
Mas, se os produtores celebram o maior uso doméstico de etanol, a notícia não seria boa para todos: as petroleiras perderiam até 14 pontos percentuais do mercado atual, ao mesmo tempo em que precisarão investir mais em logística para receber o biocombustível para a mistura.
Por sua vez, os fabricantes de automóveis teriam dado seu apoio para o maior uso do etanol, disse Adam.
"O certo é que na Argentina são produzidos veículos que vão ao mercado brasileiro e vice-versa, o que simplificaria a operação das montadoras", disse Adam.