Por Pedro Fonseca e Maria Carolina Marcello
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - Presos de facções rivais travaram um confronto na área externa do presídio de Alcaçuz, na Grande Natal, nesta quinta-feira, e o presidente Michel Temer decidiu autorizar o uso das Forças Armadas para reforçar a segurança nas ruas da capital do Rio Grande do Norte depois que diversos ônibus foram incendiados, em um agravamento da crise de violência.
"Após pedido do governador do Rio Grande do Norte, autorizei o uso das Forças Armadas para reforçar a segurança nas ruas de Natal", escreveu Temer no Twitter, em referência à solicitação apresentada mais cedo pelo governador potiguar, Robinson Faria (PSD).
De acordo com a Presidência da República, Temer determinou que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, faça o planejamento para que os militares atuem na segurança da capital do RN. O governador já havia pedido a presença das Forças Armadas para atuar em revistas dentro de presídios, após Temer anunciar nesta semana que disponibilizaria os militares para esta função.
O anúncio de envio dos militares foi feito horas após uma batalha campal entre presos de facções rivais com armas improvisadas com paus e pedras no presídio de Alcaçuz, onde 26 presos foram mortos no fim de semana.
Imagens ao vivo transmitidas pela TV durante a manhã mostraram centenas de presos de duas facções criminosas rivais, divididos em dois grupos através de barricadas, jogando objetos uns contra os outros, em meio a uma intensa correria, enquanto policiais disparavam bombas de fumaça do alto, inclusive com uso de um helicóptero.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, o confronto entre as facções rivais deixou um número ainda desconhecido de feridos, mas até o momento não havia confirmação de mais mortes.
O presídio de Alcaçuz foi alvo de um massacre no fim de semana em que 26 pessoas morreram, e desde então os presos das facções rivais vivem sob clima de tensão no interior do presídio. Na quarta-feira, o batalhão de choque da polícia do Rio Grande do Norte entrou no local para transferir alguns detentos.
Também houve violência fora do presídio, com ataques a diversos ônibus nas ruas de Natal. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, foram registrados 27 incêndios a veículos, entre ataques consumados e princípios de fogo que foram controlados.
Diante da situação, Temer pediu ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência e aos ministros da Justiça e da Defesa que elaborassem um diagnóstico da situação de segurança no Estado.
De acordo com o ministro da Defesa, há informações de que houve uma fuga de presos que "estaria levando a muita instabilidade e temor" nos moradores de Natal.
"Em razão disso, ele (Temer) nos pede que façamos um levantamento para levar a ele, e então nos reunirmos com ele a respeito dessa situação", disse Jungmann a repórteres durante viagem a Vilhena, em Rondônia.
OUTRA REBELIÃO NO RN
Também no Rio Grande do Norte, detentos de um outro presídio na cidade de Caicó se rebelaram na noite de quarta-feira, deixando ao menos um preso morto e cinco feridos em consequência da briga entre facções criminosas rivais.
Presos queimaram colchões e destelharam parte de um pavilhão antes de serem contidos por agentes da Penitenciária Estadual de Seridó, conhecida como Pereirão, na cidade localizada a cerca de 280 quilômetros da capital Natal, segundo a assessoria de comunicação da secretaria.
As mortes no Rio Grande do Norte são mais um episódio da crise do sistema prisional brasileiro, iniciada no primeiro dia de 2017 quando 56 pessoas foram mortas em um presídio de Manaus também em um confronto entre integrantes de diferentes facções criminosas.
Desde o início do ano são mais de 130 presos mortos no país em decorrência da guerra deflagrada entre as facções rivais Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho, esta última com grupos aliados nas regiões Norte e Nordeste.
Em resposta à crise, que o governo reconheceu ter ganhado "contornos nacionais", Temer colocou as Forças Armadas à disposição dos Estados para atuarem em inspeções dentro das cadeias para a apreensão de materiais proibidos, como armas, telefones celulares e drogas.