Por Daniel Trotta
NOVA YORK (Reuters) - Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, arrastou os indivíduos transgênero de volta a um conflito entre valores conservadores e liberais em seu país, geneticistas estão trabalhando discretamente em uma grande pesquisa para desvendar os segredos da identidade de gênero.
Um consórcio de cinco instituições de pesquisa da Europa e dos EUA, incluindo o Centro Médico da Universidade Vanderbilt, a Universidade George Washington e o Hospital Pediátrico de Boston, estão estudando o genoma, o conjunto completo de DNA de uma pessoa, em busca de pistas que mostrem por que os transgêneros nasceram assim.
Duas décadas de pesquisa cerebral deram algumas dicas sobre a origem biológica dos transgêneros, mas nenhuma conclusão irrefutável.
Agora os cientistas do consórcio embarcaram no que classificaram como o maior estudo do tipo, procurando um componente genético que explique por que algumas pessoas que foram destinadas a ter um sexo no nascimento se identificam de forma tão persistente com o outro, muitas vezes já na primeira infância.
Pesquisadores extraíram DNA de amostras de sangue de 10 mil pessoas, 3 mil delas transgêneros e o restante não-transgênero, ou cisgênero. O projeto aguarda a concessão de financiamento para iniciar a próxima fase: examinar cerca de 3 milhões de marcadores, ou variações, no genoma de todas as amostras.
Saber quais variações os transgêneros têm em comum, e comparar estes padrões com aqueles dos cisgêneros no estudo, pode ajudar os investigadores a entenderem que papel o genoma despenha na identidade de gênero de cada um.
"Se o traço for fortemente genético, as pessoas que se identificam como trans compartilharão mais de seu genoma, não porque são relacionadas em famílias nucleares, mas porque são relacionadas mais antigamente", disse Lea Davis, líder do estudo e professora-assistente de medicina do Instituto de Genética Vanderbil.
A busca por fundamentos biológicos se torna mais relevante no momento em que a batalha pelos direitos dos transgêneros se desencadeia na arena política dos EUA.
Um dos primeiros atos do novo governo Trump foi revogar diretrizes adotadas pela gestão do ex-presidente Barack Obama orientando escolas públicas a permitir que estudantes transgênero usassem o banheiro de sua escolha.
Na semana passada, o presidente anunciou no Twitter que pretende impedir o ingresso de transgêneros no serviço militar.
Atualmente, a única maneira de se determinar se uma pessoa é transgênero é ela se identificar como tal. Embora os ativistas de direitos humanos argumentem que isso deveria bastar, os cientistas levaram a questão para o laboratório.
Essa busca deixou alguns transgêneros nervosos. Se uma "causa" for descoberta, isso poderia pressupor uma "cura" e abrir caminho para as chamadas terapias corretivas, semelhantes àquelas usadas para transformar gays em heterossexuais, alertam seus defensores.
Davis enfatizou que seu estudo não pretende produzir um teste genético para os transgêneros, mas que espera que os dados levem a um cuidado melhor destas pessoas, que sofrem com grandes disparidades de saúde em comparação com a população geral.