Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de soja do Brasil, que deverá passar em 2020 à condição de maior produtor, além de exportador número 1 da oleaginosa, segue confiante na demanda da China, apesar do impacto da devastadora peste suína africana no plantel do país asiático e das incertezas da guerra comercial sino-norte-americana.
Com essa confiança, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) manteve nesta quinta-feira sua projeção para 2020 da exportação de soja do país em 75 milhões de toneladas, estável ante a previsão de novembro, disse à Reuters o economista-chefe da entidade Daniel Furlan Amaral.
Esse volume previsto para 2020 seria um crescimento de 3 milhões de toneladas ante 2019, quando deve ocorrer um recuo de mais de 10 milhões de toneladas na comparação com 2018, no período em que chineses reduziram fortemente importações dos Estados Unidos e focaram o Brasil.
"A demanda chinesa caiu, mas não tanto como o mercado estava preocupado. Os chineses estão construindo estoques, e a safra americana vai ser bem menor...", disse Amaral.
A safra de soja norte-americana 2019/20, recém-colhida, deverá atingir 96,6 milhões de toneladas, enquanto a brasileira está estimada em 123 milhões de dólares, segundo projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) --isso significa que o Brasil só não será o maior produtor na temporada se ocorrer um desastre climático para a safra em fase final de plantio.
"Então tem potencial de grandes exportações em 2020", acrescentou Amaral, lembrando que isso deverá ocorrer ainda que a safra argentina seja boa, como o USDA projeta, em 53 milhões de toneladas. Em 2018, as exportações brasileiras também foram beneficiadas por uma colheita menor na Argentina.
A projeção de safra de soja do Brasil realizada pela Abiove, de 122,8 milhões de toneladas em 2020, aponta um número próximo ao estimado pelo USDA.
Segundo o departamento, se o clima continuar colaborando, a safra de soja do Brasil tem tudo para superar o recorde de 123,08 milhões de toneladas visto pela Abiove em 2018. A colheita da temporada atual deve começar no início do próximo ano.
A soja tem sido nos últimos anos o principal produto de exportação do Brasil, com divisas projetadas em 25,9 bilhões de dólares apenas com os embarques do grão, em 2019. Considerando farelo e óleo, o faturamento com as vendas externas do setor deve atingir 32,13 bilhões de dólares este ano.
Para 2020, a expectativa é de que os embarques de soja somem 27 bilhões de dólares, enquanto todo o complexo da oleaginosa renda 32,56 bilhões de dólares.
PROCESSAMENTO
A Abiove manteve a estimativa de processamento de soja no Brasil em um recorde de 44 milhões de toneladas para 2020, ante 42,9 milhões de toneladas previstas para 2019 e 43,6 milhões em 2018.
Esse patamar histórico está associado à maior demanda de óleo de soja para a produção de biodiesel e do setor de ração, sustentado pelas indústrias de carnes que correm para ampliar produção, de olho na demanda chinesa, que tem ampliado importações para preencher uma lacuna na oferta deixada pela peste suína africana.
A projeção da Abiove já considera o aumento da mistura de 11% para 12% de biodiesel no diesel, a partir de março. Durante a maior parte de 2019, o mix do combustível renovável no fóssil do Brasil foi de 10%, com o aumento de 1 ponto ocorrendo a partir de setembro.
Considerando que mais de 70% do biodiesel do Brasil é produzido a partir de óleo de soja, a expectativa é de que um esmagamento de 25 milhões de toneladas da oleaginosa esteja associado à produção do biocombustível em 2020, ante 20,9 milhões em 2019.
Esses volumes deverão gerar produção de 5 milhões de toneladas de óleo de soja em 2020 para biodiesel, versus 4,1 milhões de toneladas de óleo em 2019.