Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A atividade econômica iniciou o terceiro trimestre com desempenho praticamente estável em julho, resultado melhor que o esperado por economistas, mas insuficiente para apontar que o fundo do poço ficou para trás.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 0,02 por cento em julho sobre junho, contra expectativa de especialistas de recuo de 0,35 por cento, segundo pesquisa Reuters.
"Esse tipo de resultado que às vezes aponta melhora daqui, melhora dali, infelizmente não é nenhuma sinalização de que o pior já passou. Não é nada disso. É muito possível que seja alguma questão pontual", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.
"Desdobramentos recentes que culminaram com a perda do grau de investimento ainda vão machucar a atividade econômica", previu.
Em junho, o IBC-Br registrou contração de 0,73 por cento na comparação com maio, em dado revisado pelo BC após divulgar declínio de 0,58 por cento.
O desempenho de julho destoou, de certa forma, de dados setoriais divulgados anteriormente. Isso porque as vendas no varejo tiveram contração de 1 por cento sobre junho, pior performance histórica para o mês. Na mesma base de comparação, a produção industrial caiu 1,5 por cento no país, no resultado mensal mais fraco deste ano.
Em nota a clientes, o time do Barclays (LONDON:BARC) avaliou que a estabilidade do IBC-Br em julho foi impactada pelo pontual resultado positivo do varejo ampliado em julho, de 0,6 por cento, apoiado pela venda de automóveis, algo que deve ser revertido na próxima divulgação.
"Os dados de hoje não mudam nossas expectativas de contração de 1,4 por cento no PIB do terceiro trimestre sobre o trimestre anterior e recessão de 3,2 por cento no ano, conforme a confiança continua a cair em todos os setores", trouxe a nota.
Segundo o BC, o IBC-Br sofreu declínio de 3,67 por cento em julho sobre um ano antes, acumulando queda de 2,71 por cento no ano e de 1,89 por cento em 12 meses, sempre em números dessazonalizados.
Os dados ressaltam a economia em recessão, com juros e inflação elevados e com o mercado de trabalho em franca deterioração. Ao já conturbado cenário, somam-se impasses políticos e incertezas no fronte fiscal.
Após a recente perda do Brasil do selo de bom pagador pela agência de classificação de risco Standard & Poor's em função desta conjuntura, o governo tenta agora aprovar novas medidas de ajuste fiscal.
Grande parte delas, contudo, depende de aprovação do Congresso, onde o Executivo conta com fragmentada base de apoio.
Diante do horizonte que se desenha cada vez mais turvo, economistas consultados pela mais recente pesquisa Focus, do BC, já veem contração de 2,70 por cento do PIB em 2015, na pior recessão enfrentada pelo Brasil em 25 anos. Para 2016, vêm queda de 0,80 por cento no PIB.
O IBC-Br incorpora projeções para a produção no setor de serviços, indústria e agropecuária, assim como o impacto dos impostos sobre os produtos.