SÃO PAULO (Reuters) - O consumo de gás natural pelas indústrias no Brasil recuou 6,7%no primeiro trimestre de 2020 em relação a igual período do ano anterior, enquanto a demanda pelo energético em geral teve retração de mais de 14% apenas no mês de março, informou nesta quinta-feira a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
Segundo levantamento da entidade, foram comercializados 26,5 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural ao segmento industrial entre janeiro e março, ante 28,4 milhões de m³/dia no primeiro trimestre de 2019, o que demonstra os primeiros impactos da pandemia de coronavírus sobre o setor.
Considerado apenas o mês de março, quando a crise começou a se agravar no país, o volume comercializado de 25,3 milhões de m³ para a indústria é o menor desde dezembro de 2017, de acordo com a Abegás.
"Esses dados de março já sinalizam uma queda que se acentuou. Em abril, observamos, extraoficialmente, pelas informações de algumas distribuidoras, uma queda de 35% no segmento industrial (na comparação anual)", disse em comunicado o presidente-executivo da associação, Augusto Salomon.
Diante das medidas de isolamento e distanciamento social e do fechamento do comércio para que a disseminação da doença seja contida, o consumo dos segmentos automotivo, comercial e de cogeração também recuou no período.
A demanda por gás natural veicular (GNV) teve queda de 8,5% no período, enquanto o consumo por estabelecimentos comerciais retraiu 1,95% e a cogeração caiu 15%.
"O segmento comercial chegou a registrar uma queda de 60% (em abril)", disse Salomon, prevendo mais impactos pela frente.
O resultado do primeiro trimestre só não foi pior por causa de um forte mês de janeiro, no qual o consumo total do insumo, considerado todos setores, cresceu 37,5%.
Houve ainda, no trimestre, avanço de 18% no consumo residencial, com mais pessoas ficando em casa em função da pandemia, e alta de 23,6% no consumo por térmicas a gás.
No total do primeiro trimestre, considerados todos os segmentos, o consumo de gás natural no Brasil teve leve alta de 2,8% no ano a ano, para 62,9 milhões de m³/dia, mas esses indicadores também devem piorar à medida que a crise se aprofunda, segundo a Abegás.
"É uma crise sem precedentes... A primeira onda foi a queda drástica no consumo e agora o setor está preocupado com o aumento da inadimplência... Precisamos ter condições de buscar empréstimos. Nosso problema hoje é fluxo de caixa em curto e médio prazo", afirmou Salomon.
Enquanto as distribuidoras de gás sinalizam possível necessidade de empréstimos, o governo publicou nessa semana decreto para permitir financiamentos de um grupo de bancos liderado pelo BNDES a distribuidoras de energia, como forma de aliviar impactos do coronavírus sobre o setor.
(Por Gabriel Araujo)