Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - Os custos para se ter uma rede de distribuição de energia elétrica subterrânea são, em média, oito vezes maiores se comparados aos da rede tradicional, o que encareceria as tarifas cobradas dos consumidores na conta de luz, segundo informações da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
A discussão sobre enterrar fios de distribuição de energia veio à tona após as fortes chuvas da última sexta-feira em São Paulo terem comprometido o fornecimento de eletricidade para parte importante dos consumidores do Estado, com cerca de 500 mil unidades da capital e região metropolitana ainda afetadas nesta segunda e previsão de restabelecimento total apenas na terça.
Segundo as concessionárias de energia, a grande quantidade de quedas de árvores sobre a rede elétrica foi o que tornou mais complexos e demorados os trabalhos para recomposição dos serviços aos clientes. As empresas não podem fazer a retirada das árvores por conta própria, dependendo das equipes das prefeituras para isso.
"Qualquer plano dessa natureza (ter uma rede subterrânea) tem que ser feito com uma avaliação muito clara do que ele vai representar em termos de custos, para que a população saiba que o investimento vai ter um custo mais elevado", avaliou o presidente da Abradee, Marcos Madureira.
O Brasil conta hoje com redes elétricas subterrâneas apenas em localidades pontuais, como centros históricos, não havendo nenhuma cidade onde esse tipo de infraestrutura seja representativa.
Ele observou que eventos naturais com impacto sobre as operações do setor elétrico, como tornados e enchentes, têm se tornado mais frequentes e que é importante que o setor esteja atento para formas de mitigar os impactos a agentes e consumidores.
"Você tem que fazer essas considerações para definir um padrão de rede, são discussões que podem e devem ser feitas... Mas sempre importante é observar isso, que se a gente quer ter uma maior imunidade a esse tipo de evento, isso pressupõe que você vai fazer investimentos maiores", disse.
A atividade de distribuição de energia elétrica é de capital intensivo, com as concessionárias investindo bilhões de reais todos os anos para manter e expandir suas redes. No ano passado, segundo a associação do segmento, foram investidos 38 bilhões de reais pelas distribuidoras, com parte importante sendo direcionada à modernização da infraestrutura.
Segundo Madureira, investimentos em automação das redes elétricas vêm crescendo, o que ajuda as empresas a terem uma resposta mais rápida e automática a quedas do fornecimento de energia.
No caso da última sexta-feira, ele classificou o evento em São Paulo como "extraordinário" e não possível de ser previsto pelas concessionárias, de modo que a apuração das ações tomadas e custos incorridos pelas empresas deverão ter um tratamento especial pela agência reguladora Aneel.
Sobre a demora para recompor o fornecimento da energia aos clientes em São Paulo, Madureira ressaltou que os trabalhos estão sendo feitos de forma diligente para assegurar "segurança total" para os consumidores, o que demandou o envio de várias equipes a campo nas áreas onde as empresas não puderam fazer religamento de forma automática.
"A recomposição passa por essas questões (de segurança), de verificar o risco... Se eu religo um sistema em que o cabo está arrebentado e ele está sob o solo, eu coloco em risco a população que possa estar no entorno daquele cabo. Se eu tenho uma árvore que ainda está num cabo que se rompeu, eu posso energizar uma árvore ao religar", explicou.
O Procon-SP e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, disseram nesta segunda que enviaram notificações às distribuidoras de energia que atuam no Estado de São Paulo exigindo explicações sobre as medidas tomadas para atender os consumidores desde a última sexta-feira.
(Por Letícia Fucuchima)