Por Anthony Esposito
SANTIAGO (Reuters) - Os produtores de salmão do Chile estão usando antibióticos em níveis recordes para tratar uma bactéria virulenta, afastando alguns varejistas dos Estados Unidos, que estão preferindo o salmão norueguês, livre de antibióticos.
As águas costeiras do Chile, segundo maior produtor mundial de salmão, estão inundadas com uma bactéria conhecida como SRS, ou Piscirickettsiosis, que causa lesões e hemorragia em peixes infectados, inchando seus rins e baços, eventualmente matando-os.
Incapazes de desenvolver uma vacina eficaz, os produtores chilenos têm sido forçados a aumentar o uso de antibióticos. Em 2014, a indústria produziu cerca de 895 mil toneladas de peixe e usou 563,2 toneladas de antibióticos, de acordo com dados da indústria e do governo. O uso de antibióticos subiu 25 por cento desde 2013.
Por outro lado, a Noruega, maior produtor mundial de salmão, produziu 1,3 milhão de toneladas de peixes e usou 972 quilos de antibióticos em 2013. (Dados referentes a 2014 não estavam imediatamente disponíveis)
As autoridades chilenas dizem que seu salmão é seguro e que os antibióticos foram aprovados pelos reguladores dos Estados Unidos.
Em meio a crescente preocupação da indústria alimentícia dos EUA de que o uso pesado de antibióticos em animais pode gerar superbactérias resistentes a remédios e trazer perigos à saúde humana, a terceira maior varejista dos EUA Costco Wholesale disse à Reuters em abril que iria reduzir suas importações de salmão do Chile.
Nos últimos anos, as cadeias de supermercados dos EUA Whole Foods Market e Trader Joe's têm gradualmente eliminado o salmão chileno em favor dos peixes livres de antibióticos capturados na natureza.
"Este é o início de uma mudança em frutos do mar", disse Tobias Aguirre, diretor executivo da FishWise, uma consultoria de frutos do mar que trabalha com grandes varejistas, como Safeway e Target Corp. A Target também eliminou salmão de viveiro de suas prateleiras.
CHILE VERSUS NORUEGA
Mas nem todo comprador de salmão está preocupado com o uso de antibióticos. O Chile exportou 4,4 bilhões de dólares em salmão no ano passado, 24 por cento a mais que no ano anterior, de acordo com o grupo industrial SalmonChile.
Para alguns compradores, os custos são primordiais, como no caso do maior varejista brasileiro, GPA, que compra 3,6 milhões de quilos de salmão chileno por ano, e disse que a demanda por peixe livre de antibióticos no Brasil é pequena, e os custos de importação da Noruega são impeditivos.
"A maior demanda no mercado brasileiro é por salmão fresco, comprado, por enquanto, do Chile, principalmente por causa da logística", declarou o GPA, dono das bandeiras Pão de Açúcar e Extra, em um email.
Os produtores chilenos afirmaram que não há razão para que os consumidores se preocupem, pois os produtores não administram antibióticos por meses antes de pescar o peixe, portanto quaisquer traços das drogas que permaneçam nos peixes quando chegarem aos consumidores estão dentro de níveis toleráveis.
"O produto final que os consumidores comem não tem antibióticos. Isto é apenas uma coisa dada aos peixes doentes para que não morram, não é algo preventivo", disse o presidente da Camanchaca, Ricardo Garcia, empresa produtora de salmão que vendeu quase 500 milhões de dólares no ano passado.
Os produtores de salmão do Chile disseram que estão cientes de que deveriam reduzir a dependência de antibióticos, mas não esperam uma mudança significativa já que os esforços de encontrar uma vacina para a SRS foram mal-sucedidos até agora.
(Reportagem adicional de Terje Solsvik, Yuka Obayashi e Brad Haynes)