Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) -O alinhamento de propostas dos setores agrícolas, ambientais e do Itamaraty deve "garantir o sucesso" da participação do Brasil na conferência climática COP28, avaliou nesta quarta-feira o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em evento da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) que buscou convergências de atores muitas vezes antagônicos em torno de um fortalecimento estratégico do país no cenário global.
A conferência, que contou também com representantes dos ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, reuniu em um mesmo palco, de maneira rara, integrantes do setor agropecuário ideologicamente opostos ao governo atual, como a ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina (PP-MS); o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR); e o presidente da CNA, João Martins, que sinalizaram unidade "estratégica" para a COP.
O Brasil, potência agrícola global, é frequentemente associado por concorrentes a problemas ambientais, em especial o desmatamento, em tentativas de imposição de barreiras comerciais aos produtos brasileiros. Uma pauta unificada do país no evento a ser realizado em Dubai foi saudada como trunfo para que a nação possa ter protagonismo no debate climático.
Fávaro citou que há um "total alinhamento das propostas da CNA, da frente parlamentar, do Ministério do Meio Ambiente, do nosso ministério e do Ministério das Relações Exteriores" sobre as propostas que serão levados à COP, que acontecerá de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, no Emirados Árabes Unidos.
"Vamos unidos à COP com altivez, com determinação, mostrando tudo aquilo que temos de bom...", disse ele, comentando que, se esta não for uma conferência de "grandes revoluções de propostas, trará transparência e segurança de que o Brasil está no caminho certo".
Entre as propostas entregues pela CNA ao governo brasileiro para a COP está a de que florestas nativas situadas em propriedades rurais sejam reconhecidas como ativos ambientais que desempenham papel de mitigar os efeitos das mudanças do clima.
Lupion, presidente da FPA, disse que nas duas COPs nas quais participou sempre teve preocupação de que o setor pudesse ter alinhamento com a proposta oficial do governo, para que não fosse sujeito a críticas internas e externas.
"A guerra de narrativas suplanta fronteiras nacionais e acaba caindo no colo dos nossos maiores concorrentes... isso faz com que percamos protagonismo na nossa grande batalha global por mercados que a gente enfrenta", disse.
Ele afirmou que os países concorrentes estão sempre "prontos" a criticar o Brasil a todo o momento, e por isso saudou a possibilidade de que a "gente possa falar a mesma língua" na COP.
"Falar a mesma língua é valorizar o nosso Código Florestal, reconhecer as boas práticas dos produtores, saber que a agropecuária está cada vez mais moderna... cada dia buscando mais inovações que facilitem a produção, diminuam custos, mas, principalmente, preservem", disse Lupion.
"Todos somos contra desmatamento ilegal, somos contra grilagem, invasões de áreas... o que fica é o pedido para termos lá em Dubai alinhamento, e não é nem uma questão ideológica, mas um alinhamento estratégico para que consigamos mostrar isso para aos grandes concorrentes e adversários."
Durante sua fala na abertura do evento, a secretária nacional de Mudanças do Clima, do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, disse que as propostas do Brasil terão "dois grandes pilares": combate a mudanças climáticas e à fome.
"São esses dois grandes pilares que vão nos unir em termos de macromensagens", disse ela, ressaltando que o pavilhão brasileiro na COP será "unido na sua diversidade".
"Um Brasil provedor de soluções climáticas globais em todas as suas áreas, agricultura, reflorestamento, produtos de baixo carbono, energias renováveis...", comentou.
O embaixador extraordinário para Mudanças do Clima, Luiz Alberto Figueiredo, disse que a agropecuária é um agente no sentido de emissões e capturas de gases do efeito estufa, mas também "vítima" das mudança do clima, em referência a secas e inundações mundo afora.
POLÍTICA INTERNA
Fávaro disse ainda estão sendo deixadas de lado as questões ideológicas da política nacional, e ressaltou que "os frutos dessa parceira serão muito positivos para o setor", citando também que o governo atendeu os principais pleitos da CNA na elaboração do Plano Safra.
Ao lado de Tereza Cristina, Fávaro ainda destacou que o governo atual está dando sequência ao trabalho de modernização de linhas de crédito ao setor agropecuário iniciado quando a senadora atuou como ministra no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ex-ministra, por sua vez, defendeu uma "grande concertação" entre o Meio Ambiente, Agricultura e a Justiça brasileira para que o Código Ambiental possa ser implementado com segurança jurídica.
(Por Roberto SamoraEdição de Pedro Fonseca)