Maribel Izcue.
Tóquio, 8 jun (EFE).- Naoto Kan assumiu hoje o cargo de
primeiro-ministro do Japão com o compromisso de manter a estreita
aliança militar com os Estados Unidos e combater a astronômica
dívida pública japonesa, que definiu como "o maior desafio" para seu
Governo.
Vestido de fraque impecável, Kan foi hoje investido pelo
imperador Akihito em uma solene cerimônia no Palácio Imperial de
Tóquio, acompanhado por seus 17 ministros.
Antes, em entrevista coletiva, o primeiro-ministro e ex-titular
de Finanças assegurou que a aliança com Washington continuará sendo
"a pedra angular da diplomacia" do Japão, um país que desde o fim da
Segunda Guerra Mundial baseou sua política externa nas relações com
os EUA.
Kan afirmou que espera se reunir com o presidente americano,
Barack Obama, no final deste mês em Toronto por ocasião da Cúpula do
Grupo dos 20 (G20, bloco de países ricos e emergentes), uma reunião
que simbolizará sua estreia como chefe de Governo no cenário
internacional.
O antecessor de Kan, Yukio Hatoyama, anunciou sua renúncia há
seis dias. Sua popularidade despencava entre a população japonesa
por sua decisão de manter em Okinawa (sul do Japão) uma polêmica
base militar americana, embora, durante sua campanha eleitoral,
tenha se comprometido a retirá-la.
Kan disse que seu Governo "aceitará" que a base continue em
Okinawa, pois assim o estabelece o acordo entre Japão e EUA. Além
disso, ele também assegurou que reforçará os laços com outras nações
asiáticas e regiões como a América Latina.
Em geral, a linha política do novo primeiro-ministro, de 63 anos
e veterano militante do Partido Democrático do Japão, aponta o
continuísmo de Hatoyama, mas o novo Gabinete enfatizou o compromisso
com a prudência fiscal.
Após assegurar com tom idealista que trabalhará para "minimizar a
infelicidade" do povo, Kan admitiu, pragmático, que o grande desafio
de seu Gabinete é a gigantesca dívida pública japonesa, quase o
dobro do Produto Interno Bruto (PIB).
"Se continuarmos gastando nesse ritmo durante os próximos três ou
quatro anos, a dívida será maior que 200% do PIB em poucos anos",
advertiu.
Por isso, ele considerou "indispensável" sanear a situação fiscal
japonesa e convidou a oposição a trabalhar com o Governo para
concretizar medidas de ajuste.
Kan disse que a razão pela qual as finanças japonesas estão no
preocupante estado atual é "que nos últimos 20 anos, não aumentaram
os impostos" e os cofres arrecadaram fundos por meio da emissão de
bônus, o que disparou a dívida.
Além disso, para o novo primeiro-ministro, os Governos anteriores
destinaram investimentos a obras públicas "com poucos resultados".
A linha econômica de Kan se reflete na escolha do novo
responsável de Finanças, Yoshihiko Noda, de 53 anos e defensor do
aumento das taxas e do corte de gastos para enfrentar uma dívida
que, no final do ano fiscal encerrado em março, chegava a 7,4
trilhões de euros.
Além de Noda, o novo Gabinete tem apenas outros cinco nomes
diferentes, entre eles o do ministro porta-voz, Yoshito Sengoku, um
político próximo a Kan, cuja nomeação procura manter distância com a
cúpula anterior.
Sengoku pertence a uma facção crítica com o ex-secretário-geral
do Partido Democrático do Japão, Ichiro Ozawa, considerado o
artífice da vitória do partido nas eleições de 30 de agosto do ano
passado e conhecido por seu poder no grupo político.
Abalado por um escândalo de fundos irregulares, Ozawa renunciou
há seis dias pressionado pelo próprio Hatoyama, que o convidou a
deixar o cargo "para criar um partido mais limpo".
Os demais novos ministros assumem Ministérios secundários,
enquanto os mais importantes Kan manteve os nomes do Governo
anterior.
Na pasta de Defesa, permanece o veterano Toshimi Kitazawa, de 72
anos; na de Justiça, continua no cargo a defensora dos direitos
humanos Keiko Chiba, de 62 anos, e na de Exteriores persiste Katsuya
Okada, de 56 anos, que em mais de uma ocasião ressaltou a
importância dos laços com Washington.
Ao contrário de Hatoyama, um líder indeciso cujo avô também foi
primeiro-ministro, Naoto Kan, com fama de decidido e temperamental,
é o primeiro chefe de Governo em 14 anos que não provém de uma
família de políticos. EFE