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Protesto de caminhoneiros afeta fluxo de mercadorias, exportações e colheita de soja

Publicado 24.02.2015, 21:06
© Reuters. Protesto de caminhoneiros na BR 381 em Betim, no Estado de Minas Gerais
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Por Gustavo Bonato e Marcelo Teixeira

SINOP/SÃO PAULO (Reuters) - Os protestos de caminhoneiros em importantes rodovias do Brasil se espalharam nesta terça-feira, sétimo dia de manifestação, chegando ao Estado de São Paulo e restringindo a oferta de combustíveis e matérias primas para a indústria de alimentos em diversos Estados e impactando a colheita e a exportação de produtos chaves do país, como a soja.

O governo federal estima "graves prejuízos" em função das paralisações, e busca negociar com as lideranças do movimento para colocar um fim aos protestos, sem acenar positivamente para uma das principais reivindicações: a redução do preço do diesel.

Os protestos ocorrem em um momento em que o país vive uma situação delicada de ajuste da economia e em meio ao escândalo de corrupção na sua maior empresa estatal, a Petrobras.

O aumento do preço do diesel no fim do ano passado ocorreu após a estatal sofrer anos com a defasagem entre os preços internos e externos dos combustíveis. Em janeiro, os preços do diesel e da gasolina subiram novamente, por conta do aumento dos impostos.

"Não está na pauta do governo a redução do preço do diesel neste momento", disse a jornalistas o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, após reunião interna do governo para tratar da greve dos caminhoneiros.

Uma reunião entre empresários e caminhoneiros ocorrerá na quarta-feira, às 14h, no Ministério dos Transportes.

Postos e distribuidoras de combustíveis no interior do país, bem como indústrias de alimentos, como as gigantes BRF e JBS , estão sendo diretamente afetados pelos bloqueios dos caminhoneiros, que reivindicam também redução de impostos. As atividades em algumas unidades produtoras de carnes foram suspensas.

Com a baixa oferta de produtos importantes, o varejo tende a aumentar os preços dos produtos nas áreas de menor oferta.

"Os protestos são algo preocupante, com efeito importante sobre atividade econômica. A mobilização interrompe o fluxo de circulação de mercadorias, altera todo o ciclo de operação das empresas, com graves prejuízos", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, segundo a Agência Brasil.

As manifestações, além de interromperem o transporte interno de mercadorias, estão impactando a chegada de produtos de exportação aos portos, com reflexo no mercado externo. Os contratos futuros da soja fecharam em alta de mais de 1 por cento nesta terça-feira na bolsa de Chicago, referência internacional para os preços da commodity, com operadores preocupados com a oferta do Brasil, líder global na exportação do grão em 2014.

No início da tarde, manifestantes bloquearam o acesso e a saída no porto de Santos, o principal do país e o mais importante para a exportação de soja, café, açúcar e suco de laranja, além de produtos manufaturados. Um menor fluxo de caminhões também foi sentido no porto de Paranaguá (PR).

A ALL, maior operador ferroviário do país, informou que a paralisação de caminhoneiros está afetando as operações da empresa, devido à falta de produtos nos terminais.

Os protestos se espalharam nesta terça-feira para cerca de 70 pontos em estradas federais, em sete Estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais), segundo o último boletim Polícia Rodoviária. Mas há protestos também em rodovias estaduais, como no caso da rodovia Anchieta, que liga a Baixada Santista à região metropolitana de São Paulo.

A Justiça determinou a liberação de estradas federais bloqueadas por caminhoneiros no Rio Grande do Sul e Minas Gerais, informou a Advocacia-Geral da União nesta terça-feira.

As decisões pelo desbloqueio das estradas em Minas e no Rio Grande do Sul são as primeiras obtidas pela AGU, órgão responsável por defender os interesses do governo federal, que entrou com ações na Justiça para desbloquear rodovias em sete Estados.

COLHEITA AFETADA

A colheita de soja em diversas fazendas do norte de Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil, foi paralisada, em um momento que seria de trabalhos intensos, devido à falta de diesel para abastecer o maquinário, em uma das consequências mais visíveis dos bloqueios nas estradas do Estado.

Há risco de perdas de parte da safra em função da paralisação dos trabalhos no campo, já que as chuvas previstas para o fim da semana poderão estragar os grãos maduros que restarem nas lavouras. A situação é preocupante também porque, antes do início dos protestos, a colheita já estava atrasada.

"Podemos perder parte da colheita... Sem diesel não se faz nada em propriedade nenhuma", disse nesta terça-feira à Reuters o presidente do Sindicato Rural de Sinop (MT), Antônio Galvan, que já recebeu relatos de paralisação em diversas lavouras na região.

A região do médio-norte concentra cerca de um terço da produção de soja de Mato Grosso.

A BR-163, um dos alvos dos protestos, responde por 70 por cento do escoamento da produção agrícola de Mato Grosso. A rodovia também é a única rota de abastecimento de diesel e outros insumos para os municípios da região.

O trânsito de veículos de carga está totalmente interrompido desde o final de semana em diversos pontos da estrada por empresários do setor de transporte e caminhoneiros que reclamam também do baixo preço recebido pelo frete.

Outro setor bastante prejudicado é a avicultura, na qual o Brasil tem destaque internacional, liderando as exportações de carne de frango.

Duas fábricas da empresa de alimentos BRF, maior produtora de carne de aves do Brasil, interromperam o processamento por falta de matéria prima, informou a empresa na segunda-feira. As unidade em Francisco Beltrão e Dois Vizinhos continuavam paradas.

A JBS, segunda maior produtora de carne de frangos do Brasil, também anunciou a suspensão das atividades em oito unidades nesta terça-feira.

RESTABELECIMENTO DEMORADO

Um empresário do setor de combustíveis de Sinop (MT) disse que, mesmo que as estradas tivesse sido liberadas nesta terça, demoraria pelo menos quatro dias para que o diesel começasse a chegar na cidade.

"Só começaria a amenizar o problema no sábado", relatou Jonas de Paula, proprietário de um grande posto e atacadista de combustíveis de Sinop.

A empresa dele tinha, nesta terça, pedidos não atendidos para 800 mil litros de diesel.

Até sábado, as encomendas de diesel não atendidas deverão chegar a 1,2 milhão de litros, disse. O volume equivale a uma semana de vendas da empresa, que tem 17 caminhões tanque parados nos bloqueios, tentando sair de Mato Grosso para buscar diesel nos fornecedores.

Os protestos de caminhoneiros estão interrompendo o fluxo de combustíveis também na região Sul, causando problemas não só para postos, mas também para clientes industriais e para aeroportos nos Estados sulistas e do Mato Grosso, informou o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) nesta terça-feira.

Também já há registros de bloqueios afetando a oferta de combustíveis em Santos, onde está situado o principal porto do país, acrescentou Sindicom.

© Reuters. Protesto de caminhoneiros na BR 381 em Betim, no Estado de Minas Gerais

Os protestos afetam também as principais áreas produtoras de biodiesel no interior dos Estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Goiás e Paraná, comprometendo a oferta do biocombustível, acrescentou o sindicato.

(Reportagem adicional de Roberto Samora, Alberto Alerigi Jr. e Eduardo Simões, em São Paulo, e Leonardo Goy em Brasília)

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