Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Ao fim de mais um dia de forte pressão de alta no dólar, que catapultou a moeda para acima de 4,12 reais, o Banco Central anunciou nesta sexta-feira a programação de leilões de venda de dólar à vista ao longo do mês de setembro, em operações que podem somar 11,6 bilhões de dólares.
Assim, o BC dá sequência aos leilões em realização neste mês de agosto, quando a autoridade monetária retomou a venda direta de dólares no mercado à vista pela primeira vez em dez anos.
O BC fará as operações simultâneas de ofertas de dólar spot, swap reverso e swap tradicional entre 2 e 27 de setembro.
"Ao final do período de execução desta rolagem, objetiva-se que todo o estoque vincendo em 1º/11/19 seja rolado ou trocado por dólares à vista, portanto sem afetar a posição cambial líquida do BC", afirmou a autarquia em nota em seu site.
O estoque total de swaps cambiais tradicionais a vencer em 1º de novembro soma 11,617 bilhões de dólares, no equivalente a 232.340 contratos.
O BC afirmou ainda que a troca de instrumentos (de swap tradicional para dólar à vista) ocorrerá conforme a demanda dos agentes pelas diferentes ferramentas.
O anúncio do BC sobre os leilões para setembro ocorre no dia em que nova e forte alta do dólar alimentou no mercado questionamentos sobre se a autoridade monetária deveria ser mais agressiva nas intervenções.
Ao garantir ao mercado a intenção de continuar a trocar swaps cambiais por dólar à vista, o BC reduz a incerteza sobre o objetivo de aumentar a liquidez no mercado à vista, cuja escassez de moeda tem sido um dos motores para a força recente do dólar.
Os leilões de dólar à vista têm efeito mais direto sobre a liquidez no mercado físico e, assim, afetam as taxas do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo). Nesta sexta-feira, operadores afirmaram que essa taxa bateu a casa dos 6%, bem acima de níveis considerados usuais, na casa de 2,5%.
Esse patamar de taxa indica que a demanda por dólar spot não está sendo atendida de forma satisfatória. Com a menor disponibilidade de moeda, o preço sobe.
O dólar à vista fechou em alta de 1,15% nesta sexta, a 4,1244 reais na venda, maior patamar para um encerramento desde 18 de setembro de 2018 e a apenas 1,73% do recorde de fechamento do Plano Real (4,1957 reais, de 13 de setembro de 2018).
O BC anunciou o novo modelo de atuação no câmbio no último dia 14 e deu início às operações no dia 21 (quarta-feira passada), as quais se estenderão até dia 29.
No primeiro dia, vendeu apenas 200 milhões de dólares dos 550 milhões de dólares ofertados. Alguns profissionais disseram que o BC foi exigente demais na apuração das propostas, o que causou incerteza no mercado e forçou uma elevação do cupom cambial.
Já na quinta-feira e nesta sexta, o BC fez colocação integral dos 550 milhões de dólares disponibilizados em cada um dos dias.
Um ponto de incerteza que ainda permanece, contudo, é quanto ao futuro do estoque de linhas de dólares com compromisso de recompra, cujo próximo vencimento é 4 de setembro.
(Edição de Isabel Versiani)