São Paulo, 28 mai (EFE).- O segmento de café arábico, considerado o de melhor qualidade por seu processo de elaboração, e os do tipo gourmet estão ameaçados no mercado devido a sua desvantagem frente ao preço do grão robusto e pelas mudanças do perfil do consumidor, advertiram nesta terça-feira especialistas reunidos em São Paulo.
Durante o quinto Fórum Coffee & Dinner, realizado na capital paulista, o gerente de pesquisa da Olam Europe, Neil Rossner, assinalou que os países da América Central, afetados pela praga da ferrugem do café em seus cultivos, "não conseguiram responder ao desafio apresentado pelo Brasil e Vietnã", os maiores produtores mundiais do grão.
"O segmento arábico está em crise e a estratégia do café gourmet ameaçada", apontou Rossner.
Nesse sentido, Carlos Brando, consultor do P&A Marketing, advertiu que, com a crise mundial, "a tendência é que haja uma diminuição dos 'blends' (mistura de grãos) regionais", que segundo ele serão substituídos por combinações locais.
"As monocápsulas e o consumo de café solúvel, impulsionado pelos preços baixos e a grande aceitação entre os jovens, são os grandes atrativos do mercado, fato que leva o café robusto para níveis inéditos", acrescentou.
Nesse cenário, o Brasil, com quase três quartos de sua produção do tipo arábico, deve "revitalizar o consumo nos mercados tradicionais, que agora abrem espaço para outros consumidores", advertiu Brando.
O analista citou o exemplo de uma rede de lojas na Índia que recebe 500 mil clientes por dia, sendo que, de acordo com ele, essa "nova dinâmica" do consumo é vivenciada em países como China, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Indonésia, grandes produtores de café robusto.
Na China, o consumo cresce 15% anualmente e, entre 2003 e 2013, as exportações aumentaram em 500%, citou Brando.
Para Judith Ganes-Chase, fundadora e presidente da J. Ganhes Consulting, indicou que, "a médio prazo, esse cenário não deve mudar", e o consumo de café robusto "crescerá com um ritmo forte nos próximos cinco anos".
Entre janeiro e abril deste ano, 86,8% do café exportado pelo Brasil foi da variedade arábica, enquanto 10,6% foram de grão solúvel, 2,5% do robusto e 0,1% do tipo tostado e moído.
O quinto Fórum Coffee & Dinner, promovido pelo Conselho de Exportadores de Café (CeCafé) do Brasil, debateu vários aspectos da produção e da exportação do grão sob o tema: "Como as atuais tendências do consumo irão afetar o abastecimento futuro". EFE