Juan Palop.
Berlim, 28 abr (EFE).- Os números da economia alemã induzem observadores ao otimismo, à primeira vista, mas analistas financeiros advertem que por trás deles há todos os ingredientes para a formação de uma bolha imobiliária, além de uma estrutura demográfica desequilibrada e envelhecida.
Frente ao naufrágio de muitos de seus parceiros continentais, a locomotiva econômica da Europa continua crescendo, desfruta de uma taxa de desemprego em patamar mínimo, de uma porcentagem recorde de ocupação e prevê fechar suas contas públicas deste ano, assim como as do ano passado, com "déficit zero".
A boa forma atual da quarta maior economia do mundo é certificada por agências como Moody's e os investidores, que seguem apostando em seus bônus como refúgio em relação às turbulências nos mercados: a Alemanha leiloou recentemente títulos a dez anos a uma taxa de juros recorde de 1,28%.
A situação macroeconômica alemã parece invejável, pelo menos do ponto de vista dos países do sul da zona do euro, afetados por um vultuoso déficit público e um desemprego crescente, mas vários economistas chamaram a atenção nesta semana sobre os riscos do país a longo prazo.
Joachim Scheide, chefe do departamento de Previsões do Instituto da Economia Mundial (IfW), advertiu que as taxas de juros na zona do euro - situadas em mínimos históricos pelo Banco Central Europeu (BCE) para tirar o bloco da recessão - não convêm à Alemanha.
Os atuais juros, em 0,75% desde julho, são "extremamente baixos" pelo que a Alemanha "precisaria" levando em conta seus fundamentos da economia, argumentou Scheide, que prevê que "durante os próximos anos" permaneçam abaixo do que seria conveniente para o país.
Um dinheiro barato facilita a reativação de conjunturas frágeis, mas pode reaquecer economias mais dinâmicas, gerando bolhas em setores como o imobiliário, como aconteceu na Espanha nos primeiros anos deste século.
Scheide não considera que já esteja em formação uma bolha imobiliária na Alemanha - apesar da rápida elevação dos preços de moradia em cidades como Berlim e Munique -, mas estima que o risco de que possa ser gerada uma nos próximos anos é "muito alto".
O problema tem difícil solução, já que a Alemanha, como o resto de países da zona do euro, cedeu sua política monetária ao BCE, e este está atualmente mais centrado em apagar os fogos das economias periféricas do que nos possíveis problemas a longo prazo do norte.
Assim disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, em entrevista na semana passada ao jornal econômico "Wirtschaftswoche", na qual afirmou que preferiria uma política monetária mais restritiva, embora entenda que "muitos países europeus ainda se encontram em uma situação de crescimento precária" e precisam de estímulos.
A esta questão se soma outra de caráter estrutural e sem solução simples: a população alemã está envelhecendo rapidamente devido à baixíssima taxa de natalidade do país, o que em um horizonte não muito distante provocará tensões fiscais, de acordo com Kai Carstensen, chefe do departamento de Análise de Ciclo Econômico e Pesquisas do instituto Ifo.
Segundo Carstensen, a evolução demográfica obrigará Berlim a reformar o sistema de previdência e, certamente a legislação sobre o mercado de trabalho, para preservar a sustentabilidade das contas públicas em linha com o pacto fiscal.
O economista ressaltou que as reformas implementadas pela Alemanha nos últimos anos, como o prolongamento da idade de aposentadoria até 67 anos e a introdução dos polêmicos "minijobs" "não são suficientes" para garantir o equilíbrio das finanças públicas.
A Alemanha conta com o menor número de jovens com menos de 15 anos da Europa e seus cidadãos são, na média, os mais velhos do continente, estando também em segundo lugar no mundo, atrás apenas dos do Japão. EFE