Por Stephen Eisenhammer
BENTO RODRIGUES, Minas Gerais (Reuters) - Desde que os primeiros alertas foram ouvidos, o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), teve cerca de 25 minutos para escapar.
O rompimento de barragens de rejeitos de mineração da Samarco gerou uma torrente de lama que se moveu rapidamente para baixo do vale. Uma inundação de cerca de 20 metros de altura varreu o distrito habitado por 600 pessoas, destruindo casas e meios de subsistência em poucos minutos.
Tirando algumas casas que foram poupadas da tragédia por estarem em locais mais altos, as moradias que restaram são agora pouco mais do que paredes nuas. A pasta espessa de água e minério de ferro arrancou os telhados e soterrou a vila, deixando carros retorcidos empoleirados de modo desajeitado. Helicópteros zumbiam, procurando pelos desaparecidos 24 horas após o dilúvio.
Oficialmente, uma pessoa foi confirmada morta e 13 estão desaparecidas. Mas muitas outras seguem sumidas após duas barragens de rejeitos de mineração da Samarco terem se rompido na quinta-feira. A companhia é uma joint-venture entre as mineradoras globais Vale e BHP Billiton.
Uma escola que estava na frente da torrente de lama foi esvaziada rapidamente por professores, um ato que pode ter salvo dezenas de vidas. "Há heróis nesta tragédia", disse o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, em reconhecimento de suas ações.
Seis comunidades foram atingidas pela enchente de 60 milhões de metros cúbicos de lama. Moradores foram retirados para um ginásio na cidade vizinha de Mariana, onde centenas de colchões forraram o chão. Doações de água, roupas e cobertores chegavam, com muitos moradores tirando o dia de folga para ajudar aqueles que perderam tudo.
"Não há mais nada na minha cidade. Apenas memórias", disse Soraia Souza, 24 anos, do distrito de Paracatu de Baixo à Reuters, enquanto segurava um bebê de 18 meses, vestindo apenas uma fralda.
Na cidade de Barra Longa, a cerca de 70 quilômetros de Bento Rodrigues, dezenas de moradores limpavam neste sábado a lama de suas casas com ajuda de pás e vassouras.
"Eles não disseram para nós para que a lama viria com tanta força. Perdemos tudo muito rápido. Teremos que ver quanto as empresas vão pagar", disse a dona de casa Losangeles Domingos Freitas, 48.