Copenhague, 2 out (EFE).- A apresentação final da candidatura do
Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos de 2016, feita hoje em
Copenhague, teve como principal ponto a oportunidade de levar o
evento pela primeira vez ao Brasil e à América do Sul.
O argumento foi usado pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula
da Silva, ao afirmar que os Jogos no Rio pertencerão "a todos os
povos e continentes, e à humanidade inteira".
Lula afirmou que "chegou a hora" do Rio, já que o Brasil é o
único país entre as dez principais economias do mundo que nunca
recebeu as competições. Ele lembrou que os sul-americanos e a África
nunca tiveram o evento.
"Nossa candidatura não é só nossa, é também de toda América do
Sul, de 400 milhões de pessoas, entre eles 180 milhões de jovens",
apontou Lula, ressaltando a necessidade de corrigir o
"desequilíbrio" geográfico na distribuição dos Jogos.
"O COI introduziu nos últimos anos novas modalidades e novas
tecnologias, além de atrair mais países ao movimento olímpico. Mas
seu desafio agora é abrir novas fronteiras, expandindo os Jogos a
outros continentes para que a chama olímpica possa arder também
neles", destacou.
Segundo o presidente brasileiro, ao contrário das outras cidades
envolvidas na disputa pelos Jogos de 2016 (Madri, Chicago e Tóquio),
para o Rio de Janeiro seria uma oportunidade única para levar a
auto-estima do povo brasileiro e impulsionar o desenvolvimento do
país, deixando um "legado" para todo o povo.
"O Brasil vive um momento mágico, excelente, com uma economia
pujante que permitiu a 30 milhões de pessoas sair da pobreza nos
últimos anos. Damos todas as garantias possíveis para os Jogos e
reiteramos o compromisso de todos os poderes políticos brasileiros
com a candidatura", disse.
A cúpula do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países
industrializados e os principais emergentes), realizada nos dias 23
e 24 de setembro na cidade americana de Pittsburgh, reconheceu a
importância do Brasil como país emergente e sua capacidade para sair
da crise financeira, ressaltou o presidente brasileiro.
Lula destacou também o caráter mestiço da sociedade brasileira, o
que constitui sua "identidade", e sua condição de povo "apaixonado"
que fará os membros do COI sentirem o "calor e alegria" do povo se o
Rio vencer.
Único a falar em português na apresentação, o presidente do
Brasil se mostrou "com orgulho" um representante das "esperanças e
sonhos" de 190 milhões de brasileiros que estarão todos reunidos
incentivando o Rio.
"Os que nos derem essa chance não se arrependerão. Os Jogos do
Rio serão inesquecíveis (...) Para o movimento olímpico será a
chance de sentir o nosso sol. Será a chance de falar para o mundo
que a Olimpíada é de todos", disse.
Carlos Arthur Nuzman, à frente do comitê de candidatura e do
Comitê Olímpico Brasileiro (COB) encerrou a apresentação afirmando
que o Rio "está pronto" e pediu que sejam permitidas as "portas
abertas" ao Brasil para levar os Jogos.
Antecipando-se às possíveis perguntas dos integrantes do COI, o
governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho, reiterou que a
segurança está garantida, com "um novo modelo de vigilância" que
ficou evidente durante o Pan de 2007, "onde não houve" incidentes.
As garantias econômicas foram apresentadas pelo presidente do
Banco Central (BC), Henrique Meirelles, enquanto os momentos de mais
emoção foram dos personagens mais ligados ao esporte.
O decano dos membros do COI e ex-presidente da Fifa João
Havelange expressou o desejo de ver cumprido o sonho que o Rio, sua
cidade natal, sedie os Jogos em 2016 e que ele mesmo possa celebrar
seus 100 anos na cidade.
No palanque estavam também outras personalidades do esporte como
Pelé, eleito maior jogador de futebol do século, o nadador
paraolímpico Daniel Dias e a jovem atleta Barbara Leôncio, cujo
choro marcou emotivamente o fim da apresentação do Rio.
Doping, expansão da rede hoteleira, legado e garantias
financeiras foram os assuntos questionados pelos membros do Comitê
Olímpico Internacional (COI) ao comitê de candidatura do Rio de
Janeiro aos Jogos de 2016.
Pouco depois de finalizada a apresentação por Carlos Arthur
Nuzman, à frente do comitê de candidatura e do Comitê Olímpico
Brasileiro (COB), o presidente do COI, Jacques Rogge, abriu aos
eleitores a oportunidade de perguntas.
A primeira indagação foi sobre a legislação envolvendo o doping
para a competição. Segundo Nuzman, o Brasil permite a investigação
sobre os casos de doping e o Rio tem uma legislação adequada em
relação ao assunto. "O COI terá toda a liberdade", garantiu.
O prefeito Eduardo Paes falou sobre a questão de incluir
cruzeiros ancorados no porto como parte da rede hoteleira, uma
preocupação do comitê internacional.
Ele lembrou que os contratos ainda não foram fechados, mas que há
dois anos para as negociações e lembrou que há um histórico
favorável nesta questão durante o Carnaval. Outro ponto ressaltado
foi a revitalização da zona portuária, já em andamento.
A pergunta mais importante foi sobre o legado que os Jogos
trariam ao Brasil. O Governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral Filho, disse que o principal seria imaterial, a "auto-estima"
do povo brasileiro e da América do Sul.
"É evidente que a Copa do Mundo de 2014 gerará benefícios para a
população, mas a Olímpiada será ainda melhor em termos de qualidade
de infraestrutura, porque o evento será em apenas uma cidade, e não
em várias", apontou.
"Sem dúvida, das quatro cidades é que a terá melhores
benefícios", completou o Governador.
As garantias financeiras encerraram a sabatina do COI ao comitê
do Rio. Lula falou sobre o compromisso das três esferas do governo e
ressaltou o ato olímpico assinado pela Câmara que dá garantias que
todo o país está envolvido no projeto.
"O Brasil aprendeu a cumprir todos os seus compromissos, isso
porque precisamos todo dia mostrar ao mundo que o Brasil se tornou
uma nação desenvolvida, capaz de mostrar no século 21 o que não fez
no anterior", ressaltou o presidente.
A apresentação da candidatura do Rio começou pontualmente às 7h05
(de Brasília).
A primeira cidade a defender sua candidatura foi Chicago, que
contou com o discurso do presidente americano, Barack Obama, que
viajou à Dinamarca especialmente para o evento.
Em seguida, foi a vez de Tóquio apresentar aos membros do Comitê
Olímpico Internacional (COI) os motivos que a levam a ser a melhor
opção para receber os Jogos de 2016.
Após a apresentação do Rio acontecerá uma pausa para almoço, e
logo depois será a vez de Madri justificar seus motivos para receber
os jogos, às 9h45 (de Brasília).
Às 11h (também da capital federal) começará a votação dos membros
do COI para a escolha dos Jogos de 2016.
O anúncio da cidade escolhida para receber a Olimpíada de 2016
está previsto para as 13h30 (de Brasília). EFE