Jordi Kuhs.
Viena, 4 abr (EFE).- Não foram tomadas as medidas necessárias para evitar o acidente de Fukushima - essa foi a principal mensagem da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na primeira sessão da Convenção de Segurança Nuclear reunida nesta segunda-feira em Viena para buscar fortalecer a segurança das centrais atômicas.
O diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano, criticou pela primeira vez abertamente a Tokyo Eletric Power (Tepco), a empresa operadora da usina nuclear de Fukushima e cuja gestão já havia sido posta em interdição pelo próprio governo japonês.
"Em retrospectiva, as medidas tomadas pelo operador não foram suficientes para evitar este acidente", declarou Amano à imprensa durante a reunião multilateral.
O responsável da agência atômica fez esta afirmação após lembrar que em 2007 já havia ocorrido um acidente em uma das centrais da Tepco, na central de Kashiwazaki, em Niigata.
Os 71 países que integram a Convenção de Segurança Nuclear (CNS) estarão reunidos em Viena até o próximo dia 14 para a quinta revisão desse acordo, que prevê vigilância mútua para melhorar as normas de segurança.
Em seu discurso de abertura, o diretor-geral da AIEA afirmou que a indústria nuclear "não pode continuar como se nada tivesse ocorrido" em Fukushima.
Nesse sentido, Amano destacou que o organismo que dirige quer fortalecer o regime internacional de segurança e pediu que a comunidade internacional leve a sério as preocupações de milhões de pessoas no mundo todo que atualmente duvidam sobre a segurança da energia nuclear.
"Desejo que as normas de segurança sejam mais fortes e que tenhamos mais capacidade para ajudar os Estados-membros a assegurar a segurança nuclear", declarou o diretor-geral da AIEA.
O objetivo da Convenção é conseguir manter um nível de máxima segurança na indústria nuclear, sob os princípios estabelecidos pelas normas da AIEA.
No entanto, este convênio não contém normas obrigatórias nem sanções para o caso de que os países não cumpram o estipulado.
O espírito da Convenção está centrado no controle mútuo entre os Estados signatários e a pressão exercida ao informar aos membros sobre as medidas de segurança adotadas.
Luis Echávarri, diretor da Agência de Energia Nuclear (NEA, na sigla em inglês) da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), avaliou nesta segunda-feira que "ainda é possível aprofundar muito mais os acordos internacionais".
"Até que nível? Isso é uma decisão política que os países-membros devem fazer, mas acho que chegou o momento de reforçar a Convenção e sua aplicação", assinalou o espanhol em declarações à Agência Efe em Viena.
O encontro é considerado um passo prévio à grande conferência ministerial sobre segurança nuclear, convocada pela AIEA para o final de junho em Viena.
Segundo Echávarri explicou, a atual crise nuclear do Japão pode servir como impulso para melhorar o regime internacional de segurança nuclear, como ocorreu há 25 anos após o acidente de Chernobyl (Ucrânia).
Em todo caso, afirmou que será muito difícil transformar a AIEA em "um fiscal da segurança", como muitos pedem, incluindo analistas do próprio organismo.
"É preciso chegar a um mecanismo internacional que assegure que os organismos nacionais sejam transparentes e utilizem os padrões mais altos de segurança e que verdadeiramente façam as inspeções correspondentes. Acho que ainda se pode progredir muito nessa direção", concluiu Echávarri. EFE