Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, prepara-se para receber nas próximas horas sua primeira carga de milho importado neste ano, em um movimento incomum de um porto que vem se destacando nos últimos anos como um dos maiores exportadores brasileiros de grãos.
O navio Pacific Legend está ancorado nesta terça-feira na entrada do porto, com cerca de 32 mil toneladas de milho embarcado no terminal da Cargill em Bahia Blanca, na Argentina, segundo dados disponíveis no terminal Eikon, da Thomson Reuters.
O desembarque da carga, cujo comprador não é revelado, ocorre em um momento de escassez do grão usado pelas agroindústrias para a ração de aves e suínos.
O Brasil, grande produtor e exportador de milho, embarcou volumes recordes em meses recentes, deixando o mercado interno desabastecido enquanto não começa a colheita da segunda safra da temporada, que responde por dois terços da produção anual do país.
O oeste de Santa Catarina concentra grandes indústrias de aves e suínos do país e também tem enfrentado escassez de milho.
O porto de São Francisco do Sul chegou a importar irrisórias 38 toneladas de milho em 2015, ao passo que exportou 2,7 milhões de toneladas ao longo do último ano, colocando-o como o terceiro maior embarcador do cereal entre os portos nacionais, segundo dados do setor exportador.
Nos primeiros três meses de 2016, o Brasil já recebeu 137 mil toneladas de milho, sendo 58,6 mil toneladas da Argentina e 35,8 mil do Paraguai, segundo dados da alfândega brasileira. Detalhes oficiais sobre importações de abril ainda não estão disponíveis.
A maior parte das importações de milho do Brasil nos três primeiros meses deste ano foram para o Paraná, entrando principalmente pela fronteira oeste do Estado. Ceará e Pernambuco, no Nordeste, outra região com escassez de milho, também receberam volumes consideráveis do grão importado.
Agora Santa Catarina desponta como outro importador desta temporada, por portos locais e por outros Estados.
Uma outra carga de 29 mil toneladas é esperada para o fim do mês no porto de Imbituba, também em Santa Catarina, encomendada pela indústria de aves GTFoods, do Paraná.
"Posicionamos pedaço (desta carga para consumo) em abril e pedaço para maio. Depois nos posicionamos com milho do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul", disse à Reuters o diretor industrial do Grupo GTFoods, Ciliomar Tortola.
Na semana passada, Neivor Canton, vice-presidente da Cooperativa Central Aurora, a terceira maior agroindústria do país, com sede em Chapecó (SC), disse que uma série de navios carregados com milho argentino estavam agendados para descarregar no porto de Rio Grande (RS) a partir deste semana.
Uma análise dos dados disponíveis no Eikon mostrou que pelo menos três navios carregados com milho na Argentina em março e abril seguiram rumo a Rio Grande e outro para Recife.
A expectativa das indústrias do setor é que a oferta brasileira de milho seja normalizada a partir do fim de junho, com o início da colheita da chamada "safrinha" de milho no Paraná e no Centro-Oeste.
Até lá, as importações de milho pelo Brasil deverão atingir 700 mil toneladas, segundo uma projeção recente da consultoria Agroconsult.
O milho produzido no Mercosul não paga tarifa de importação. E, para dar mais alternativas aos importadores, especialmente do Nordeste, o governo brasileiro zerou a taxa para compras de fora do Mercosul, segundo decisão tomada nesta terça-feira.
(Reportagem adicional de Marcelo Teixeira)