Por Luciano Costa de Paula
SÃO PAULO (Reuters) - O leilão exclusivo para contratação de termelétricas a gás, agendado para 3 de julho, tem sido visto como um desafio para os investidores devido ao pouco tempo disponível para implementação dos projetos, que precisam iniciar operação em janeiro de 2016 para reforçar o suprimento durante os picos de consumo do verão.
Com o prazo curto, que dificulta a negociação de contratos de gás e a busca por turbinas no mercado, especialistas têm dúvidas quanto à participação de usinas e apostam que a concorrência, se houver, deve ser limitada --o que levaria a mais um certame com pouco ou nenhum deságio em relação ao preço teto, desta vez estabelecido em 581 reais por megawatt-hora.
"Temos uma preocupação grande em relação aos prazos, com risco até mesmo de o leilão dar vazio ou ser um certame de um só candidato, sem deságios", afirmou o analista Bernardo Bezerra, da consultoria PSR, especializada no setor elétrico.
"Cinco meses para estar com a planta operando é muito apertado", reforçou o especialista Marco Antonio Velloso, ex-presidente da Associação Brasileira de Geração Flexível (Abragef).
Velloso estima que o mais adequado seria um período mínimo de entre seis e oito meses, mesmo considerando-se empresas que tenham projetos licenciados e turbinas já negociadas.
Ele também aposta que para cumprir o cronograma será necessário buscar no exterior turbinas que estejam à disposição no mercado para instalação imediata, provenientes de projetos atrasados ou postergados. A Ásia é uma das regiões em que os investidores têm feito cotações.
"É uma competição apenas para quem se preparou antecipadamente para conseguir oferecer as condições necessárias para colocar a usina nesse tempo curto", afirmou o consultor Luiz Alberto Amoroso, da Lalcam-MA, e ex-presidente do Conselho da Associação Brasileira de Geração Termelétrica (Abraget).
CONFIANÇA DO GOVERNO
As autoridades do setor elétrico, no entanto, mostram-se confiantes no sucesso do certame, que foi adiado de 15 de junho para 3 de julho na última semana.
"Os agentes têm muito interesse em investir na expansão do sistema. Não visualizamos nada que assuste em termos de não haver participação", afirmou à Reuters o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura.
O diretor de energia elétrica da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Carlos de Miranda, lembrou que o adiamento partiu de pedido de empresas por mais tempo para fechar contratos de equipamentos e fornecimento de gás.
"O prazo é apertado, mas há empreendedores que têm confiança em vencer esse desafio, participar do leilão e assumir o compromisso (de entregar a usina)".
Segundo Miranda, a contratação é importante para "melhor atender a ponta (de consumo)" do sistema no verão, normalmente registrada por volta das 15h, quando o calor costuma puxar para cima a demanda por energia elétrica.
Em janeiro deste ano, o país chegou a registrar um blecaute devido a um desequilíbrio entre oferta e demanda causado por uma conjunção de alto consumo, baixo nível nos reservatórios das hidrelétricas e falhas em equipamentos.
Os projetos vencedores da concorrência fecharão contratos de 20 anos para a venda de energia elétrica ao sistema, sendo que as usinas deverão funcionar por oito horas diárias.
Segundo cronograma da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgado antes da mudança de data da licitação, a assinatura dos contratos, que faz parte do processo para obtenção de financiamentos pelos empreendedores, estava prevista para a metade de agosto.
(Edição de Roberto Samora)