SÃO PAULO (Reuters) - A produção de etanol no centro-sul do Brasil na segunda quinzena de agosto mostrou força enquanto a de açúcar apresentou queda acentuada ante a primeira metade do mês passado, à medida que usinas estão mudando o padrão no mix que privilegiava a fabricação do adoçante para cumprir contratos, afirmou nesta terça-feira a associação que representa o setor.
Além dos preços do açúcar menos favoráveis para novas vendas, a demanda por etanol no mercado interno está crescente, impulsionando a produção diante de menor oferta do produto importado, dos ajustes no preço da gasolina e das alterações em tributos favoráveis ao combustível renovável, disse a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
A produção de etanol cresceu 3,1 por cento ante o mesmo período do ano passado, para 1,77 bilhão de litros, em um ritmo maior do que a moagem de cana da principal região, que aumentou apenas 0,8 por cento, para 38,9 milhões de toneladas, um volume que ficou abaixo do esperado por uma pesquisa da S&P Global Platts (41,95 milhões de toneladas).
A fabricação de açúcar, por sua vez, atingiu 2,5 milhões de toneladas, recuo de 0,47 por cento ante a mesma quinzena de 2016, mas um tombo de mais de 50 por cento ante a primeira quinzena de agosto, com uma redução no mix de cana para o adoçante para 46,95 por cento, ante média de 50,32 por cento nas quatro quinzenas anteriores, segundo a Unica.
"Essa redução significativa no mix de produção para o açúcar retrata uma alteração no padrão de produção observado até o momento, o qual era influenciado, entre outros aspectos, pela necessidade de fabricação do produto para o atendimento dos contratos pré-estabelecidos", disse a Unica em nota.
Na comparação com a primeira quinzena de agosto, a moagem e a produção de etanol também recuaram (14 e 8,8 por cento, respectivamente), com a safra já em ritmo menor na comparação com o pico registrado em quinzenas anteriores.
O centro-sul do Brasil já processou 381,5 milhões de toneladas de cana na temporada 2017/18, queda de 3,6 por cento na comparação com o mesmo período da safra anterior. Ao todo, a Unica projeta uma moagem na ciclo atual de 585 mihões de toneladas, ante 607 milhões no anterior.
ETANOL EM ALTA
O volume de etanol comercializado pelas produtoras do centro-sul atingiu 1,27 bilhão de litros na segunda quinzena de agosto --sendo 1,16 bilhão ao mercado doméstico, que apresentou crescimento de 11,77 por cento na comparação com a quantidade comercializada nos primeiros 15 dias de agosto, além de constituir o maior volume quinzenal vendido nos últimos 12 meses.
Do total comercializado no Brasil, 433,93 milhões de litros foram de etanol anidro (alta de 11,10 por cento em relação a primeira quinzena de agosto) e 722,41 milhões de litros de hidratado, "surpreendente crescimento de 12,17 por cento ou 78,37 milhões de litros na comparação com o volume comercializado nos primeiros 15 dias do mês".
"A mudança nas vendas de etanol se deve, entre outros fatores, à menor oferta do produto importado; aos ajustes no preço de realização da gasolina pura na refinaria; às alterações nos tributos sobre os combustíveis (PIS/Cofins); a uma provável recuperação no consumo global de combustíveis leves no país", disse a Unica, citando ainda uma eventual antecipação na compra das distribuidoras.
No total de agosto, as vendas do biocombustível no centro-sul atingiram 2,39 bilhões de litros, dos quais 2,19 bilhões foram direcionados ao mercado interno. Desse volume comercializado domesticamente, 1,37 bilhão de litros foram de etanol hidratado --aumento mensal de 23,05 por cento comparativamente ao volume vendido em julho de 2017.
(Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira)