Por Pavel Polityuk
KIEV (Reuters) - A Rússia acusou nesta quinta-feira um correspondente norte-americano do Wall Street Journal de espionagem, em um caso que certamente deve piorar a disputa diplomática de Moscou com Washington sobre a guerra na Ucrânia e provavelmente isolar ainda mais a Rússia.
O jornal negou as acusações e exigiu a libertação imediata do "repórter dedicado e de confiança" Evan Gershkovich. A Casa Branca disse que o Departamento de Estado estava em contato direto com o governo russo sobre sua detenção e pediu que cidadãos norte-americanos que vivem ou estejam viajando na Rússia deixem o país imediatamente.
"Condenamos a detenção do sr. Gershkovich nos termos mais fortes", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. "Também condenamos o contínuo direcionamento e repressão do governo russo contra jornalistas e a liberdade de imprensa."
Gershkovich, um homem de 31 anos que tem trabalhado na Rússia como jornalista por seis anos, é o norte-americano de maior destaque preso lá desde a jogadora de basquete Brittney Griner, que foi libertada em dezembro após 10 meses de prisão por porte de drogas.
O serviço de segurança russo FSB disse que prendeu Gershkovich na cidade industrial de Yekaterinburg, nos Montes Urais, "suspeito de espionar no interesse do governo americano" ao coletar informações sobre "uma das empresas do complexo militar-industrial da Rússia", que não identificou.
Ele foi levado a Moscou, onde um tribunal em audiência fechada ordenou que ele fosse mantido em prisão preventiva até 29 de maio.
Gershkovich, que trabalha para o jornal há pouco mais de um ano, disse ao tribunal que não era culpado. Seu empregador disse que o caso contra ele, que se acredita ser o primeiro caso criminal por espionagem contra um jornalista estrangeiro na Rússia pós-soviética, foi baseado em uma alegação falsa.
A espionagem sob a lei russa pode ser punível com até 20 anos de prisão.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que a Rússia concederia aos EUA acesso consular a Gershkovich, acrescentando que o caso contra ele seria tornado público.
Daniil Berman, um advogado que representa o repórter, não teve permissão para entrar no tribunal ou ver as acusações, segundo contou a repórteres do lado de fora da corte. Ele acredita que Gershkovich seria levado para Lefortovo, a prisão do século XIX na região central de Moscou, famosa na época soviética por manter prisioneiros políticos.
"O Wall Street Journal nega veementemente as alegações do FSB e busca a libertação imediata de nosso repórter dedicado e de confiança Evan Gershkovich. Somos solidários com Evan e sua família", disse o jornal.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, disse que é muito cedo para falar sobre qualquer possível troca de prisioneiros com os Estados Unidos, afirmando que tais acordos normalmente são feitos apenas depois que um prisioneiro é condenado.
A emissora estatal de TV Rossiya-24 exibiu uma matéria de quase cinco minutos sobre a prisão de Gershkovich, cerca de 17 minutos depois de seu boletim das 18h.
Seu correspondente disse que o trabalho de Gershkovich tinha um "caráter abertamente propagandista", citando como evidência uma história publicada por ele esta semana com o título "A economia da Rússia está começando a se desfazer".
A reportagem da TV russa observou que a região de Yekaterinburg, onde ele foi detido, é um importante centro da indústria de defesa da Rússia, sugerindo que esse era o objeto de sua "curiosidade".