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"Tirem as mãos da África", diz papa Francisco ao mundo rico

Publicado 31.01.2023, 16:40
© Reuters. Papa Francisco acena após deixar o Palácio Nacional, em Kinshasa
31/01/2023
REUTERS/Luc Gnago

Por Philip Pullella e Paul Lorgerie

KINSHASA (Reuters) - O papa Francisco denunciou o "veneno da ganância" por recursos minerais, que impulsiona o conflito na República Democrática do Congo, ao iniciar uma visita oficial nesta terça-feira, dizendo que o mundo rico tinha que perceber que as pessoas eram mais preciosas do que os minerais da terra abaixo delas.

Francisco, de 86 anos, é o primeiro pontífice a visitar o Congo desde João Paulo 2º em 1985, quando o país ainda era conhecido como Zaire. Cerca de metade dos 90 milhões de habitantes do Congo são católicos.

Dezenas de milhares de pessoas aplaudiram enquanto o pontífice viajava do aeroporto para a capital Kinshasa em seu papamóvel, alguns se desgarrando da multidão para acompanhar seu comboio enquanto outros cantavam e agitavam bandeiras em uma das mais vibrantes boas-vindas de suas viagens ao exterior.

Mas o clima mudou quando o papa fez um discurso para dignitários no palácio presidencial, condenando "terríveis formas de exploração, indignas da humanidade" no Congo, onde vastas riquezas minerais alimentaram a guerra, o deslocamento e a fome.

“É uma tragédia que essas terras, e mais geralmente todo o continente africano, continuem sofrendo várias formas de exploração”, disse ele. "O veneno da ganância manchou seus diamantes com sangue", disse ele, referindo-se especificamente ao Congo.

"Tirem as mãos da República Democrática do Congo! Tirem as mãos da África! Parem de sufocar a África: não é uma mina a ser despojada ou um terreno a ser saqueado", disse ele.

O Congo tem algumas das reservas mais ricas do mundo em diamantes, ouro, cobre, cobalto, estanho, tântalo e lítio, minerais que alimentam conflitos entre milícias, tropas do governo e invasores estrangeiros. A mineração também tem sido associada à exploração desumana de trabalhadores, incluindo crianças, e à degradação ambiental.

Para agravar esses problemas, o leste do Congo tem sido atormentado pela violência ligada às longas e complexas consequências do genocídio de 1994 na vizinha Ruanda.

O Congo acusa Ruanda de apoiar o grupo rebelde M23, que luta contra as tropas do governo no leste. Ruanda nega.

"Além de milícias armadas, potências estrangeiras famintas pelos minerais de nosso solo cometem, com o apoio direto e covarde de nosso vizinho Ruanda, atrocidades cruéis", disse o presidente congolês Felix Tshisekedi, falando pouco antes do papa e dividindo o palco com ele.

Na quarta-feira, Francisco celebrará uma missa no aeroporto de Kinshasa e se encontrará com as vítimas da violência do leste, destacando ainda mais as questões que levantou em seu discurso.

© Reuters. Papa Francisco acena após deixar o Palácio Nacional, em Kinshasa
31/01/2023
REUTERS/Luc Gnago

"Eu queria ir para Goma, mas não podemos por causa da guerra", disse o papa a repórteres durante seu voo, referindo-se a uma cidade no leste do Congo que ele originalmente planejava visitar antes que a parada fosse cancelada por causa dos combates na região.

Francisco ficará em Kinshasa até a manhã de sexta-feira, quando voará para o Sudão do Sul, outro país que enfrenta conflitos e pobreza.

(Reportagem adicional de Justin Makangara, Benoit Nyemba, Sonia Rolley e Stanis Bujakera)

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