BRASÍLIA (Reuters) - O Tesouro Nacional continuará atuando nos mercados, por meio de leilões extraordinários de compra e compra e venda títulos públicos, até o final deste mês para tentar buscar o equilíbrio das taxas de juros novamente.
Para a próxima semana, serão mantidas as ofertas diárias de compra e venda de Notas do Tesouro Nacional - Série F, tendo sido cancelados os leilões tradicionais já agendados no período. A partir, será avaliado se a estratégia de leilões dários será mantida ou não até o fim de junho.
"Se no futuro for necessário fazer leilões maiores, o Tesouro o fará", afirmou o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida em entrevista coletiva nesta sexta-feira.
O Tesouro tem feito leilões de compra diários de até 1,5 milhão de NTN-F com vencimentos até 2029 e, mais recentemente, de venda de até 300 mil NTN-Fs. A NTN-F é um título pre-fixado, que paga cupom semestral.
Os mercados de ações, câmbio e juros pioraram após a greve dos caminhoneiros elevar as preocupações com a deterioração do quadro fiscal do Brasil, com a redução do preço do diesel gerando impacto bilionário sobre as contas do governo, além da saída de Pedro Parente da chefia da Petrobras (SA:PETR4).
Além disso, pesquisas eleitorais têm mostrado dificuldade dos candidatos que o mercado considera como mais comprometidos com ajustes fiscais de ganhar tração na corrida presidencial.
Assim, as taxas dos DIs dispararam nas últimas semanas, levando inclusive a uma reprecificação das apostas sobre o comportamento da taxa básica de juros, com apostas majoritárias de que o Banco Central terá de elevá-la agora.
Mansueto, no entanto, não corroborou a visão de que a cena política justificaria a atual turbulência nos mercados, citando que tem ouvido de economistas de bancos que eles estariam "surpresos" com a atual volatilidade.
O Tesouro tem dito que possui caixa para continuar cumprindo suas obrigações e, assim, não existe pressão para emissões.
O subsecretário da dívida pública do Tesouro, José Franco, disse que ainda não existe necessidade de mudar os parâmetros do Plano Anual de Financiamento (PAF), de um intervalo de 3,78 trilhões a 3,98 trilhões de reais para o estoque da dívida pública total neste ano.
"Mas se precisar mudar, não terá problema algum", acrescentou ele.
Os técnicos do Tesouro também saíram a campo para defender as condições fiscais do Brasil, argumentando que o risco fiscal do país hoje é menor do que no início do ano.
"Não aumentou o risco fiscal, o risco ao cumprimento da meta", afirmou Mansueto, acrescentando que resultados primários melhores que o esperado entre janeiro e abril abriram espaço para concessão dos subsídios para reduzir os preços do diesel. "A gente tem instrumentos para cumprir com a meta e fazer frente a possíveis riscos fiscais."
Segundo ele, esperava-se déficit primário de 27 bilhões de reais entre janeiro e abril para governo central, mas o rombo acabou ficando em 5 bilhões de reais, o que abriu espaço para ajudar a acomodar os subsídios dados pelo governo para reduzir os preços do diesel após os 11 dias de greve dos caminhoneiros, em maio.
O secretário disse ainda que entrarão como receita primária 4 bilhões de reais vindos da extinção do Fundo Soberano, após venda de ações do Banco do Brasil (SA:BBAS3); serão 3,5 bilhões de reais em maio e 500 milhões de reais em junho.
"Ainda temos bloqueios orçamentários e financeiros", afirmou ele, acrescentando que, se acontecer algo novo, estes instrumentos podem ser usados.
O secretário disse ainda que o Tesouro e o BNDES já estão conversando para criar um cronograma de pagamento da dívida do banco de fomento para os próximos anos, com a ideia de haver pagamentos anuais.
Neste ano, o BNDES vai antecipar a devolução de 130 bilhões de reais ao Tesouro, o que ajudará o país a se enquadrar na regra de ouro, que impede emissão de dívida para financiamento de despesas correntes.
(Reportagem de Mateus Maia; Texto de Patrícia Duarte; Edição de Iuri Dantas)