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Alexandre Schwartsman: Meta de inflação contínua não seria grande mudança

Publicado 28.06.2023, 11:36
© Divulgação

Investing.com – Com a proximidade da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que pode alterar parâmetros previstos no regime de metas de inflação, marcada para esta quinta-feira, 29, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, avalia que uma alteração no período de cumprimento para uma meta contínua, na prática, não traz muitas diferenças em relação à atuação da autoridade monetária.

Em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil, o economista destacou que se essa for a mudança escolhida, as expectativas dos agentes não devem ser muito afetadas. No entanto, pondera que ajustes numéricos nas metas atrapalham a ancoragem das projeções econômicas.

Confira a entrevista na íntegra:

Investing.com – Como enxerga possíveis mudanças no regime de metas, seja no valor da meta, intervalo ou no período para cumprimento? Isso afeta as expectativas?

Alexandre Schwartsman –Vai depender que tipo de mudança vai ser determinada. Existem tem três possibilidades. Vamos em ordem crescente de complicações. Eu acho que a mudança do ano-calendário para uma percepção contínua, na atual conjuntura, não faz a menor diferença essencialmente, por dois motivos.

Se o CMN mantiver em 3% para indefinidamente ou definir em 3% para 2026, tanto faz, porque o Banco Central tem que manter a inflação em 3%, não tem uma grande alteração por aí. E segundo, e acho que mais importante, porque o Banco Central, como se sabe, há muito tempo não segue exatamente o ano-calendário, pela própria defasagem de reação da inflação na política monetária, o Banco Central está tipicamente olhando 15, 18 meses para frente. Então, seria mais reconhecimento de como o Banco Central opera o regime de metas do que uma mudança de fato. Então isso eu não vejo como uma grande alteração e, diga-se de passagem, também não deve afetar em nada a definição de taxa de juros.

Em ordem crescente de gravidade, é possível manter a meta e ampliar a banda de tolerância, hoje em 1,5 ponto percentual. Se colocar em 1,75 ponto ou 2 pontos, um número qualquer, a alteração é complicada quando se pensa no que vai acontecer com as mudanças já definidas sobre a diretoria do Banco Central. Quer dizer, com a lei de autonomia, existem mandatos, esses mandatos vão encerrando em períodos já conhecidos, em particular tem a saída de dois diretores no final desse ano e a saída de mais dois diretores e do presidente do banco no final de 2024. Se você olha pra isso, mais uma ampliação do intervalo de tolerância, basicamente você está dizendo que, quando assumir a nova diretoria, muito provavelmente o Banco Central vai se comportar de maneira semelhante à que se comportou no período do Alexandre Tombini à frente do Banco Central. Na prática, o BC não mirava a meta, mas mirava o intervalo superior da meta. Em alguns casos, eu estava feliz se não estourasse o limite da meta.

Se o BC sistematicamente vai buscar alguma coisa entre a meta e o seu intervalo superior, inclusive o intervalo alargado, as expectativas de inflação pioram. Se sempre vai atuar entre a meta e um valor superior a ela, a melhor estimativa para a inflação deixa de ser a meta e passa a ser um valor ali dentro desse intervalo. Na medida em que sobem as expectativas de inflação, isso acaba afetando a inflação corrente e fica mais difícil para o BC baixar juros.

E, por fim, o desastre absoluto seria algum gênio falar em mudar a meta para 4% ou 4,5%, porque, de fato, perderia o controle de expectativas, a inflação hoje acelera e o BC passa a ter mais dificuldade em termos de diminuir a taxa de juros porque a própria inflação ficou mais alta.

Inv.com – Na sua visão, o CMN vai fazer alguma alteração?

Schwartsman – Eu acho que está meio barato nessa história de que vão mudar para uma meta contínua. Se for só isso, sem problema. Acho que tem um risco de tem de ampliarem o intervalo. Talvez não seja o resultado mais provável, mas tem um risco e tem um risco menor de elevarem a meta.

Pela discussão de começo de ano, eu achei que elevariam, mas o que tem saído mais recentemente sugere que não. O que me parece o resultado mais provável é uma meta contínua. Uma irrelevância, mas deixa. Melhor fazer isso para dar alguma ilusão de que eles estão mexendo em alguma coisa.

Inv.com – Houve mudança na pressão ao redor do tema? Antes, as falas direcionavam para mudança na meta, e agora, para o período. O que muda com isso?

Schwartsman – Se realmente não afetar a meta, houve, vamos dizer, um progresso, um entendimento, porque tinha essa ilusão de colocar a meta mais alta e assim ficar mais fácil para o Banco Central chegar lá e, portanto, ele iria reduzir juro mais rápido. É uma ilusão porque parte do pressuposto que se sobe a meta de inflação, todo mundo fica lá olhando, não altera as expectativas acerca da inflação futura.

E isso é de uma estupidez gigantesca porque quando define, inclusive do ponto de vista formal, que está dando uma ordem para o Banco Central buscar uma meta de inflação mais alta, o que acontece é que as expectativas de inflação incorporam essa nova informação e se elevam. À medida que as expectativas de inflação se elevam, tem uma tendência da inflação, dentro do horizonte relevante do Banco Central, que são esses 15, 18 meses, também de se elevar porque uma série de preços que são definidos de forma infrequente, que são reajustáveis de forma infrequente, quer dizer, são reajustados e passam um tempo parado, principal exemplo disso é o salário. É preciso incorporar alguma expectativa de inflação futura. Se for uma inflação baixa, tudo bem. Se eu espero uma inflação mais alta, obviamente tenho que colocar algum prêmio no meu preço para compensar o fato de que a inflação ao longo do caminho vai corroer o valor do meu serviço ou o valor do salário ou o valor do preço de alguma coisa que a gente está vendendo.

Então as expectativas de inflação se incorporam na formação de preços hoje. Se você tem uma expectativa de inflação mais alta, a inflação fica mais alta, a inflação ficando mais alta, o Banco Central tem mais dificuldade, não menos dificuldade para reduzir a taxa de juros.

Inv.com – O que espera das próximas decisões do Copom? Quando os juros podem começar a cair?

Schwartsman – Se se não fizer nenhuma grande barbaridade na definição de meta, o Copom já sinalizou que vai começar o processo de afrouxamento monetário em agosto. Acho que começa devagar, com 0,25 ponto percentual. Deve terminar o ano com taxa de juros próximo de 12,25%.

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