SÃO PAULO (Reuters) - O dólar manteve a queda de cerca de 1 por cento nesta terça-feira, girando em torno de 3,55 reais, com o mercado adotando otimismo cauteloso em relação às medidas anunciadas pelo presidente interino, Michel Temer, para colocar a economia brasileira de volta nos eixos.
Operadores receberam bem as propostas, mas ressaltaram que elas não são suficientes para consertar a economia. Além disso, ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional, processo que promete ser turbulento.
Às 11:44, o dólar recuava 0,97 por cento, a 3,5477 reais na venda, depois de saltar 1,82 por cento na sessão passada. A moeda norte-americana atingiu 3,5423 reais na mínima do dia, pouco depois do pronunciamento de Temer.
O dólar futuro, que havia reagido à notícia de que o ministro do Planejamento, Romero Jucá, deixaria o Ministério após o fechamento do mercado à vista na véspera, recuava cerca de 0,7 por cento.
"Finalmente está tendo início o governo. As medidas parecem estar na direção correta, tentando blindar os gastos e evitar crescimento exagerado da despesa", disse o operador da corretora Spinelli, José Carlos Amado. "Na minha opinião, (as medidas) passam no Congresso, mas vai ter muita briga".
Entre as ações anunciadas por Temer estão o pagamento de 100 bilhões de reais em dívida que o BNDES deve ao Tesouro Nacional, sendo 40 bilhões de reais agora, e limitar o crescimento das despesas primárias à taxa de inflação do ano anterior. Além disso, ele disse que vai "talvez" extinguir o fundo soberano brasileiro, trazendo cerca de 2 bilhões de reais para reduzir a dívida pública.
Segundo três operadores de corretoras e de um grande banco internacional, o anúncio trouxe bom humor a investidores locais, mas não foi suficiente para levar estrangeiros a comprar ativos brasileiros.
Outro fator que favorecia a cautela nos mercados locais era a expectativa pela votação da nova meta fiscal de 2016, após a Comissão Mista de Orçamento (CMO) suspender a sessão que avaliaria o tema na segunda-feira por falta de quórum.
O governo está pedindo ao Congresso Nacional autorização para marcar déficit primário de 170,5 bilhões de reais neste ano. Trata-se do primeiro grande teste do governo Temer no Legislativo.
"O mercado está trabalhando com o cenário de que a meta passa. Um cenário diferente --atrasos na aprovação, autorização para gastos adicionais-- pode gerar algum nervosismo", disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Ítalo Abucater.
A moeda norte-americana já vinha caindo desde o início da sessão após a saída do ministro do Planejamento, Romero Jucá, considerada uma reação rápida do governo a sua primeira crise. O movimento também veio em um ajuste após a forte alta da sessão passada.
Na véspera, foi divulgado áudio de conversa de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado pela qual o ex-ministro teria sugerido que uma troca de governo resultaria em pacto para frear o avanço da Operação Lava Jato. Ambos os interlocutores são investigados.
"A saída do Jucá deu uma válvula de escape para o mercado, que sofreu muito ao longo do dia (na segunda-feira)", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
"Não é uma solução definitiva e está claro que a política vai continuar bastante turbulenta, mas pelo menos parece que o Temer manobrou relativamente bem esse escândalo", acrescentou.
Jucá é um dos principais articuladores do governo junto ao Congresso Nacional e tinha entre suas funções angariar apoio às medidas econômicas da equipe de Temer.
O Banco Central não anunciou até agora qualquer intervenção cambial, mantendo-se ausente do mercado pela quarta sessão consecutiva.
(Por Bruno Federowski)