Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro registraram em 2015 sua maior queda histórica, primeiro resultado negativo desde 2003 puxado por perdas em segmentos importantes como móveis, eletrodomésticos e combustíveis, e só deve começar a mostrar indícios de recuperação no segundo semestre deste ano.
No ano passado, as vendas caíram 4,3 por cento sobre 2014, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, em meio ao cenário de forte recessão.
Este é o pior resultado na série histórica iniciada em 2001 e a primeira queda desde o recuo de 3,7 por cento visto em 2003, reflexo da economia em forte recessão agravada por confiança muito fraca e juros elevados.
"Ainda vemos crédito restrito, juros alto, queda real da renda. No primeiro semestre (deste ano), o varejo ainda vai ter números bem negativos. Para o segundo semestre, a expectativa é de algum arrefecimento da queda", disse a economista do Banco ABC (SA:ABCB4) Brasil Natalia Cotarelli, projetando queda de 2,6 por cento do varejo este ano.
Somente em dezembro passado, ainda segundo o IBGE, a atividade teve recuo de 2,7 por cento contra novembro, resultado mais fraco em um ano, registrando queda de 7,1 por cento sobre o mesmo mês do ano anterior.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de recuo de 2,50 por cento na comparação mensal e de 7,05 por cento sobre um ano antes.
O setor varejista brasileiro foi se deteriorando mês a mês em 2015, em meio à inflação que alcançou dois dígitos, restrição de crédito, renda menor dos trabalhadores, desemprego em alta e juros elevados.
MÓVEIS
O IBGE informou que o pior desempenho no volume de vendas entre as atividades no varejo restrito em 2015 ficou para Móveis e eletrodomésticos, com queda de 14 por cento. Só em dezembro, o tombo foi de 8,7 por cento sobre o mês anterior.
As vendas de Combustíveis e lubrificantes chegaram a subir 0,5 por cento em dezembro, mas fecharam o ano com recuo de 6,2 por cento.
Já hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, setor com maior peso na estrutura do comércio varejista, caiu 1,0 por cento no último mês do ano, terminando 2015 com perdas de 2,5 por cento.
Ainda segundo o IBGE, o volume de vendas no varejo ampliado --que inclui veículos e material de construção-- caiu 0,9 por cento em dezembro sobre o mês anterior, fechando o ano com recuo recorde de 8,6 por cento, com o início da série histórica em 2005.
Em 2015, a atividade de veículos despencou 17,8 por cento sobre o ano anterior, pior desempenho histórico.
"A conjuntura enfraqueceu e derrubou o comércio, basta ver o que aconteceu com mercado de trabalho, massa de rendimento, trabalho com carteira e inflação", apontou a economista do IBGE Isabella Nunes.
Uma das principais questões apontadas por especialistas para melhorar a economia brasileira, incluindo o varejo, é a retomada da confiança. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) a confiança do consumidor iniciou 2016 com ligeira melhora, porém alertou que ainda é cedo para se falar em reversão da tendência.
"O que precisaria haver é um restabelecimento da confiança, de que em algum momento será possível ter investimento. Por enquanto, se começarmos a ver recuo da inflação, vai colaborar para o varejo. Mas isso provavelmente fica mais para o segundo semestre", disse a economista-chefe da consultoria Rosenberg & Associados, Thais Marzola Zara.
Economistas na pesquisa Focus do Banco Central seguem vendo a inflação medida pelo IPCA acima dos limites estabelecidos pelo governo pela segunda vez consecutiva em 2016, a 7,61 por cento.