Teresa de Miguel.
Nova York, 11 mai (EFE).- Um erro em suas operações, que ocasionou perdas de pelo menos US$ 2 bilhões no maior banco dos Estados Unidos, o JPMorgan Chase, reabriu o debate sobre a necessidade de um controle mais eficaz sobre as instituições financeiras do país.
"Os grandes bancos têm feito lobby contra a norma Volcker, que diz justamente que não se deve fazer o que o JPMorgan fez", disse à Agência Efe o analista macroeconômico do GC Group Capital, Jean Ergas, que crie acredita que o ocorrido aumentará a pressão para que a regra seja aplicada.
A norma Volcker, batizada em homenagem ao ex-presidente do Federal Reserve (FED) Paul Volcker, faz parte da lei geral "Dodd-Frank", criada nos EUA após a crise financeira de 2008 e que proíbe os bancos de fazerem investimentos especulativos em benefício próprio e não no de seus clientes.
Esta regra, no entanto, ainda não foi implementada devido em grande parte à oposição de instituições importantes de Wall Street, como o JPMorgan. Por isso, justamente nesta quarta-feira, Volcker defendeu no Congresso a necessidade de se aplicar a medida o mais rápido possível.
Um dia depois do anúncio do prejuízo, o JPMorgan apresentou um inesperado documento para a Comissão da Bolsa de Valores dos EUA (SEC) no qual reconhecia que suas transações em derivados causaram perdas "substanciais" de pelo menos US$ 2 bilhões.
O banco, que prevê agora perdas de US$ 800 milhões para o segundo trimestre em sua unidade corporativa, poderá ser investigado por esse órgão regulador americano, segundo divulgou hoje o "The New York Times".
O executivo-chefe da instituição, Jamie Dimon, um dos CEO's mais respeitado do setor financeiro e conhecido como o "Rei de Wall Street", teve que explicar o ocorrido numa teleconferência com seus investidores, na qual classificou o erro de "maiúsculo" e produto da "negligência" e de "más decisões".
No entanto, quando foi perguntado se a entidade teria quebrado a regra Volcker, o executivo-chefe negou e disse que o desrespeitado foi o "princípio Dimon".
Há pouco menos de um mês, o jornal "The Wall Street Journal" publicou que um dos corretores do JPMorgan em Londres, conhecido como "London Whale" ("baleia de Londres") e "Voldemort" (nome do vilão de Harry Potter), estaria por trás de volumosas transações que ocasionaram as perdas milionárias.
O jornal explicou que o banco teria apostado numa recuperação econômica sustentada com uma complexa rede de operações ligadas ao valor de bônus corporativos, o que teria se voltado contra o banco num efeito bumerangue.
A imprensa britânica disse hoje que o misterioso corretor é Bruno Iksil, membro da unidade de JPMorgan dedicada a minimizar os riscos do mercado e investir os excessos de fundos do banco, e que de acordo com os jornais locais podia movimentar sozinho o mercado de derivados, uma das áreas preferidas dos especuladores.
"Os corretores não operam de maneira completamente isolada, os bancos são organizações estruturadas rigidamente, tem que existir mais gente que conhecia os riscos que estavam tomando", disse Ergas, para quem o ocorrido é só "a ponta do iceberg" e o JPMorgan não é o único banco correndo este tipo de risco.
Em qualquer caso, o analista concorda com outros analistas de que mesmo se a "regra Volcker" tivesse sido implementada, os bancos poderiam se esquivar dela alegando que suas transações buscam melhorar a liquidez da entidade e portanto são em benefício de seus clientes.
Os pedidos para um aumento do controle sobre os bancos não demoraram a aparecer. A organização Americanos pela Reforma Financeira afirmou hoje que o ocorrido mostra como é preciso regular os grandes bancos de Wall Street.
Também se pronunciaram políticos como o senador democrata Carl Levin, co-autor da lei "Dodd-Frank", que declarou ao canal "CNBC" que as perdas do JPMorgan são "uma cruel lembrança da necessidade dos reguladores protegerem os contribuintes para evitar que precisem cobrir apostas tão arriscadas".
O anúncio do JPMorgan, classificado pelo próprio Dimon como "vergonhoso", diminuiu a cotação de suas ações na Bolsa de Nova York, que por volta da metade do pregão, caíram 7,41%, aos US$ 37,71, apesar de terem se valorizado 13,68% neste ano. EFE