Por Roberto Cubero.
Bilbao, 8 out (EFE).- O artista colombiano Fernando Botero defende que a pintura deve buscar o lado positivo e ressalta que "os pintores sempre trabalham a exaltação da vida".
Botero (Medellín, 1932) concedeu uma entrevista à Agência EFE por ocasião da mostra retrospectiva de sua obra, que pode ser visitada a partir desta terça-feira no Museu de Belas Artes de Bilbao, na Espanha, com 79 pinturas e uma escultura de sua coleção particular.
EFE: Sessenta e cinco anos pintando. Como seu estilo evoluiu, porque inclusive teve uma época na qual pintava figuras abstratas?
Fernando Botero: Sim, assim como El Greco e Picasso. Tive minha fase, em que a pintura de Picasso me impressionou muito, era muito jovem, mas são influências normais. Depois cultivei o volume, mas sente-se uma evolução, não uma mudança no estilo. El Greco e Boticelli pintaram "grecos" e "boticellis" a vida toda. O único que teve o talento de pintar em vários estilos foi Picasso, mas isso não é o normal.
EFE: O senhor sempre diz que não pinta gordas, que o que importa é o volume.
FB: Disse isso muitas vezes: não pintei uma única gorda em minha vida. Expressei o volume, busquei dar protagonismo ao volume, torná-lo mais plástico, mais monumental, quase uma comida, por assim dizer, arte comestível. A arte deve ser sensual, digo nesse sentido.
EFE: Também predominam os temas afetivos..
FB: Sim, minha pintura é sobre temas afetivos, porque a pintura foi fundada sobre temas afetivos. Vê-se que os pintores trabalharam a exaltação da vida, em meio a grandes tragédias. Por exemplo, o impressionismo: quem já viu um quadro impressionista deprimente? E isso entre guerras e tragédias, mas a pintura mantinha uma atitude positiva perante a vida.
Hoje em dia é diferente. A arte mudou rumo a uma postura de produzir um escândalo, um "choque". Tradicionalmente, não era o que se fazia.
EFE: Parece que a arte de hoje não o convence muito.
FB: Não se pode substituir a pintura por coisas que têm a ver mais com a televisão, como o vídeo, ou com o teatro - como as instalações. Pintura é pintar sobre uma superfície plana para expressar algo com formas, e existirá sempre. Os outros são outra coisa.
EFE: Falando de arte moderna, estamos em Bilbao ao lado do Museu Guggenheim de Frank Ghery, mas suas obras estão expostas no clássico de Belas Artes.
FB: O Guggenheim me impressiona muitíssimo como arquitetura, mas esse museu (o de Belas Artes), como todo museu, é um lugar neutro, minimalista, sem outra pretensão que não seja a de mostrar a pintura, sem distrações.
EFE: O afeto predomina em sua arte, mas de vez em quando você presta um serviço social e pinta quadros sobre a tortura. Acredita que a atual crise europeia pode ser uma fonte de inspiração?
FB: A situação na Europa não é retratável: tem mais a ver com números do que com outra coisa. A tortura era um caso muito especial que merecia que a pintura se encarregasse dela.
EFE: Quando um tema o fascina - as touradas, o circo, a igreja -, você pinta sobre ele durante um certo tempo. Há algum tema que o inspire agora?
FB: Não, não trabalho em nenhuma série, nem sempre há esse entusiasmo por um tema. O último foi o da Via Sacra. Agora estou voltando aos temas eternos da pintura, às naturezas mortas, aos personagens.
EFE: Os touros foram um desses temas inspiradores. O que pensa da proibição das touradas na Catalunha e em Bogotá?
FB: Acho muito ruim, porque todos têm direito a ter uma diversão. Não é a única coisa cruel no mundo: a caça e a pesca são cruéis. As pessoas que comem lagostas e as jogam na panela também são cruéis, mas ninguém diz nada. É preciso inventar um comitê em defesa das lagostas. EFE
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