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Venezuela assume presidência de um Mercosul indignado com EUA e Europa

Publicado 12.07.2013, 21:54
Atualizado 12.07.2013, 22:28

Álvaro Mellizo.

Montevidéu, 12 jul (EFE).- A Venezuela assumiu nesta sexta-feira pela primeira vez a presidência do Mercosul em uma cúpula na qual o caso do ex-técnico da CIA, Edward Snowden, a indignação perante a suposta espionagem dos Estados Unidos na região e a "ofensa" ao líder boliviano, Evo Morales, monopolizaram as atenções.

A presidente Dilma Rousseff e os líderes de Argentina, Cristina Kirchner; Venezuela, Nicolás Maduro; e Uruguai, José Mujica, além de Morales, participaram em Montevidéu da 45ª Cúpula de Chefes de Estado do bloco, na qual passaram pisando em ovos em alguns assuntos pendentes, como o reingresso do Paraguai e os problemas comerciais e de integração.

Maduro, que afirmou hoje que a "prioridade" para a Venezuela é o "retorno do Paraguai como membro pleno e ativo", recebeu de Mujica o comando do Mercosul para os próximos seis meses lembrando o presidente Hugo Chávez, que morreu no último dia 5 de março.

"Me comprometo a seguir transitando o caminho de fortalecer o Mercosul e expandir sua capacidade de trabalho", afirmou o líder venezuelano.

Na reunião, os presidentes reconheceram algumas das deficiências e problemas, como a falta de velocidade nas negociações de um acordo com a União Europeia (UE), mas todos ressaltaram o êxito tanto social como econômico de sua integração.

Dilma destacou o aumento da troca comercial entre seus membros, que alcançou um valor de US$ 58 bilhões no ano passado, enquanto Cristina se referiu às vantagens tangíveis para os cidadãos do bloco, cuja renda per capita, disse, superou a brecha que mantinha com o resto do mundo sob o manto do Mercosul.

Além disso, os líderes insistiram também nas vantagens da complementaridade contra o livre-comércio para suas economias e na necessidade, como disse Mujica, de unir-se para enfrentar um mundo onde "não há lugar para os fracos".

Maduro, na qualidade de novo presidente temporário do grupo, expressou sua intenção de seguir trabalhando nessa via de "fortalecer" a organização e aprofundar o "caminho da integração política, econômica, comercial, diplomática e social", para "avançar no objetivo da Pátria Grande".

No entanto, as decisões políticas mais notáveis passaram por uma declaração de rejeição à "afronta" sofrida por Morales no último dia 2 de julho, quando seu voo de volta de Moscou precisou aterrissar em Viena, onde permaneceu 13 horas, depois que várias nações europeias lhe impediram o sobrevoo e a aterrissagem perante a suspeita de que transportava Snowden, acusado de espionagem pelos EUA.

Nesse sentido, os governantes decidiram chamar para consultas seus embaixadores em Itália, França, Portugal e Espanha por este ato "infundado, discriminatório, e arbitrário", que consideraram "uma flagrante violação dos preceitos do direito internacional", e agora permanecem à espera de uma "explicação".

"A gravidade da situação, própria de uma prática neocolonial, constitui um ato insólito, inamistoso e hostil, que viola os direitos humanos e afeta a liberdade de passagem, deslocamento e imunidade que goza todo Chefe de Estado", insistiram.

Nesta linha, o Mercosul também se pronunciou sobre a situação de Snowden, que hoje pediu asilo à Rússia por não poder sair do aeroporto Sheremétievo de Moscou, onde está há quase três semanas.

Em referência às pressões que o governo dos EUA está realizando para impedir a amparada do jovem analista de inteligência, o Mercosul lembrou que os Estados "não têm nenhum direito de impedir seus cidadãos de solicitar asilo nem impedir sua implementação por qualquer meio".

Na declaração final da cúpula, os líderes também rejeitaram "enfaticamente" as "ações de espionagem" e "intercepção das telecomunicações" nos países da região por parte dos EUA, atitudes que "violam a soberania" das nações latino-americanas e "prejudicam o normal desempenho das relações entre os países".

Com estes temas sobre a mesa, a decisão do Mercosul de cessar a partir do 15 de agosto a suspensão do Paraguai (que na cúpula de hoje não contou com nenhum representante), após a posse do presidente eleito Horacio Cartes, quase não teve espaço na cúpula.

Durante a parte oratória vários presidentes se referiram, no entanto, à necessidade do retorno do Paraguai, país suspenso por causa da cassação em meados de ano passado do então presidente Fernando Lugo e que pôs em dúvida sua reincorporação por condicioná-la a que a Venezuela não assumisse a presidência temporária do bloco.

Os membros do bloco avaliaram "positivamente" as eleições nesse país ao anunciar que o Paraguai "reassumirá plenamente seu direito de participar dos órgãos do Mercosul e das deliberações". EFE

amr/rsd

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