Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez nesta quinta-feira uma defesa da comunicação recente do Banco Central, ao explicar a mudança do tom entre o comunicado e a ata do Copom, mas reconheceu que o primeiro documento gerou ruído no mercado financeiro, ainda que não tenha afetado as expectativas para os juros de forma relevante.
"Quando você tem situação de reunião dividida e você tem que escrever opinião de consenso que seja curta, você não tem como escrever muita coisa", comentou Campos Neto. "O comunicado, na nossa opinião, tinha deixado a porta aberta, mas houve bastante ruído quanto a isso", acrescentou.
Na semana passada, o comunicado do BC não trouxe indicações claras, na opinião de parte do mercado, de que a instituição iniciará o processo de cortes da taxa básica Selic em agosto. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada na terça-feira desta semana, o Copom foi mais claro quanto a esta possibilidade, o que gerou críticas quanto à comunicação passada anteriormente.
Além disso, a ata trouxe a informação que houve divergência, entre os membros do Copom, em relação aos próximos passos da política monetária, divisão que não havia sido citada no comunicado. Conforme a ata, a informação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário poderia permitir o início de um processo "parcimonioso" de corte da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
"O comunicado tem função de comunicar e expressar opinião de consenso. A ata tem o objetivo de explicar as discussões", justificou Campos Neto. "A intenção do comunicado era espelhar consenso, deixando a porta aberta. Algumas interpretações eram de que não deixou a porta aberta", disse, acrescentando que "nenhuma ata e nenhum comunicado são perfeitos".
Ainda assim, ele frisou que o mercado seguiu precificando, ao longo dos dias, um corte de juros na reunião do Copom de agosto.
O presidente do BC evitou, no entanto, dizer se a precificação de corte de 50 pontos-base da Selic em agosto, que já começa a aparecer no mercado de juros futuros, ainda que de forma minoritária, está correta ou não.
Ele afirmou que o BC não tem a intenção de "olhar" o que o mercado precifica. Segundo ele, é o mercado que tem que entender o que o BC faz.
"A palavra ‘parcimônia’, a gente fala sobre os próximos passos", disse Campos Neto, em relação ao termo utilizado na ata. "Não tenho como adiantar o que vai ser feito."
CMN
Questionado sobre a possibilidade de o Conselho Monetário Nacional (CMN) na reunião desta quinta-feira alterar o sistema de metas de inflação, passando o prazo para cumprimento do objetivo do ano-calendário para a meta contínua, Campos Neto disse que isso representaria um aperfeiçoamento interessante, mas ressaltou não ter visto ainda o texto do voto sobre a meta no CMN, que deve ser encaminhado pelo governo.
Ele também pontuou que será preciso entender como será feita a aferição da meta, caso ela seja contínua.
Segundo Campos Neto, o Brasil é um dos poucos países que utilizam o ano-calendário no regime de metas e que há um estudo que mostra que a meta contínua é mais eficiente.
Durante toda a coletiva de imprensa, porém, ele afirmou que não poderia antecipar seu voto no CMN, formado ainda pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
TAXA DE CÂMBIO
Campos Neto fez ainda comentários a respeito do recuo mais recente do dólar ante o real no Brasil.
De acordo com o presidente do BC, o rali recente do real está ligado a uma série de fatores, como a queda da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior, os bons resultados do setor agrícola no início do ano, a redução dos prêmios de risco em função da melhora do horizonte fiscal e a percepção de que o BC está fazendo o "trabalho correto" no controle da inflação.
Em outro momento, Campos Neto foi questionado a respeito da pressão exercida por diversos setores do governo -- incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- para que a instituição reduza a Selic.
Em sua resposta, Campos Neto listou uma série de realizações do BC e de reconhecimentos do trabalho da instituição por parte de órgãos e agências internacionais.
"O país está comemorando inflação mais baixa, que em parte é trabalho que o BC fez; está comemorando juros futuros mais baixos", disse, sem tratar diretamente das críticas de Lula sobre a política monetária.